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segunda-feira 25 de dezembro de 2023 às 06:41h

Zinho, miliciano mais procurado do Rio, é preso

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O miliciano Luis Antonio da Silva Braga, o Zinho, chefe da maior milícia do Rio, foi preso neste domingo, véspera de Natal. Segundo a Polícia Federal, a prisão ocorreu após “tratativas entre os patronos” de Zinho, a PF e a recém recriada Secretaria de Segurança Pública. O criminoso, que estava foragido, se entregou na delegacia, localizada na Superintendência da PF no Rio, no fim da tarde. Depois de realizar exames de corpo de delito no instituto Médico-Legal, o destino de Zinho foi o presídio José Frederico Marques, em Benfica, na Zona Norte. As informações são de Marcos Nunes, João Vitor Costa e Vera Araújo, do jornal Extra.

Segundo fontes da PF, ao se entregar, Zinho está tentando manter os negócios e conter os danos. A apreensão de documentos e telefones na casa da deputada Lucinha, chamada de Madrinha pelo chefe da maior milícia do Rio representou um revés para a quadrilha. Na semana da operação de busca e apreensão na casa de Lucinha, a advogada de Zinho entrou em contato com a PF pra negociar a entrega do miliciano, ocorrida na noite deste domingo. O miliciano era procurado desde 2018.

Luiz Antônio da Silva Braga, o Zinho, é empresário e irmão de Ecko, líder da milícia
Luiz Antônio da Silva Braga, o Zinho, é empresário e irmão de Ecko, líder da milícia — Foto: Divulgação

— Essa é mais uma vitória das polícias e do plano de segurança, mas da sociedade. A desarticulação desses grupos criminosos com prisões, apreensões e bloqueio financeiro e a detenção desse mafioso provam que estamos no caminho certo — afirmou o governador Cláudio Castro.

O secretário-executivo do Ministério da Justiça, Ricardo Cappelli, também comemorou a prisão durante a noite, por meio do X (antigo Twitter). “Parabéns à Polícia Federal! É trabalho, trabalho e trabalho”, disse na publicação.

A prisão ocorre menos de uma semana após a Operação Dinastia, da Polícia Federal e do Ministério Público do Rio, que denunciou Zinho e os integrantes de seu bando. Dos 12 mandados de prisão expedidos, cinco foram cumpridos. Zinho seguia foragido, até se entregar neste domingo.

A denúncia descreveu o modus operandi do miliciano, que evita o uso de aplicativos de conversa, que são rastreáveis, e tem o comparsa Andrei Santos de Melo, conhecido como Cansado ou Fechamento, como seu “garoto de recados”. Andrei é um dos 14 denunciados pelo MPRJ, apontado como “porta-voz da liderança máxima” do grupo criminoso. Para se manter na liderança da milícia, a preocupação de Luis Antonio da Silva Braga, o Zinho, é para que seu paradeiro não seja descoberto, segundo a denúncia.

Para se blindar, Zinho “evita se valer de meios de comunicação rastreáveis — como é o caso das conversas através do aplicativo ‘WhatsApp'”, tendo na figura de Andrei o seu interlocutor para passar ordens, ou obter informações de seus comparsas.

Já quando Zinho, número um da milícia, quer dar o recado por conta própria, “utiliza-se do terminal telefônico utilizado por Andrei, tudo demonstrando proximidade física entre eles, além de inegável relação de fidúcia”, aponta o documento.

Definida como “Família Braga” ou “Bonde do Zinho”, a maior milícia do Rio tem Zinho na liderança, após a morte de seus irmãos, Wellington da Silva Braga, o Ecko, e Carlos da Silva Braga, o Carlinhos Três Pontes, nos anos de 2021 e 2017, respectivamente. A morte mais recente da família foi a de Matheus da Silva Rezende, o Faustão, apontado como número dois do grupo, durante uma operação da Polícia Civil em Santa Cruz, ocorrência que provocou uma represália com 35 ônibus incendiados pela Zona Oeste da cidade no último mês de outubro.

Cobrança de taxa de obras até da prefeitura
Com o intuito de fazer extorsões para sustentar a maior milícia do Rio, o grupo armado não mede esforços, muito menos age de forma amadora. Segundo denúncia do Ministério Público do Rio, a organização criminosa controla as cobranças a empreiteiras e construtoras de empreendimentos da Zona Oeste por meio de tabelas, que descrevem os valores arrecadados. Como um “estado paralelo”, como define o documento, os milicianos chegam a decidir pelo embargo da obra, em caso de atraso no pagamento da taxa.

Através de diálogos interceptados entre os comparsas de Zinho, o MPRJ detalha que a operação de extorsão conta com uma organização. Em tabelas, estavam detalhados os valores exigidos das empreiteiras, apontando o nome da empresa extorquida, assim como o local em que o empreendimento está instalado, a data dos pagamentos, além das cifras recebidas.

Para o Ministério Público, toda a operação — diagramada em tabelas feitas em computador — demonstra “profissionalismo no controle financeiro por parte dos integrantes da súcia, que se revela verdadeira organização criminosa do tipo milícia”.

Outra conversa entre os milicianos que é reproduzida pela denúncia do MPRJ descreve a atuação do grupo armado, que se arquiteta para “embargar as obras que não estão em dia com o pagamento das taxas”. Os diálogos são definidos pelo Ministério Público como “estarrecedores”, numa ação que se equipara à de “verdadeiros fiscais de um Estado paralelo”, completa o trecho.

Nem mesmo obras da prefeitura do Rio conseguiram escapar das cobranças. Em bairros da Zona Oeste, como Campo Grande, Santa Cruz, Nova Sepetiba e Ilha de Guaratiba, o termo “obras pref” também constavam na tabela com os pagamentos recebidos pela milícia. No documento que trouxe a denúncia aos integrantes do grupo de Zinho, o MP conclui que “o Estado Formal é apontado como devedor do Estado Paralelo”.

Na ocasião, em nota, o município informou ter ciência das “intimidações feitas tanto pelo tráfico quanto pela milícia”, e que sempre orienta as empresas a denunciarem. Como providência diante das extorsões, a prefeitura informou ter retirado o valor investido de placas instaladas nos canteiros de obras.

Ainda no posicionamento, o município lembrou que, em agosto, funcionários de uma empresa que atuava nas obras do Bairro Maravilha Sandá, em Bangu, foram agredidos por criminosos e que o caso foi registrado na delegacia.

Semana anterior começou com operação contra deputada

O “envolvimento com a milícia” por parte da deputada estadual Lucinha (PSD) e de sua assessora, Ariane Afonso Lima, fez com que o desembargador Benedicto Abicair decidisse pela imposição de medidas cautelares contra as duas, alvos de ação da Polícia Federal e do Ministério Público na última segunda-feira, dia 18. O requerimento do magistrado descreveu cinco episódios em que a parlamentar teria interferido em prol da milícia de Zinho, a partir de quebra do sigilo telemático do miliciano Domício Barbosa de Souza, conhecido como Dom ou Professor. A Alerj encaminhou o pedido de afastamento de Lucinha à Procuradoria Legislativa.

A investigação da PF e do MP detectou que ao menos 15 encontros foram realizados pessoalmente em 2021 entre Lucinha, sua assessora e integrantes da milícia, inclusive com a presença de Zinho em alguns deles.

A partir da quebra de sigilo de Dom, pôde-se identificar “outros integrantes da associação” criminosa, quando se chegou ao nome de Lucinha. A decisão do desembargador Benedicto Abicair elenca cinco momentos em que, a partir das conversas, demonstrou-se “a interferência da parlamentar e de sua assessoria ora para favorecer os interesses da malta, ora para protegê-los das iniciativas das autoridades policiais de combate ao grupo”.

Lucinha teria atuado da seguinte forma:

  • Fornecendo informações ao bando;
  • Defendendo os interesses dos milicianos, como pelas vans;
  • Pessão pelo operação contra o rival Danilo Dias Lima, o Tandera;
  • Intervenção por presos do grupo;
  • Intervenção em batalhão da PM da área de atuação da milícia.
  • “Madrinha” — codinome que identificava o telefone da deputada Lucinha na agenda do telefone de Dom — chegou a mandar “beijos” e desejar que os milicianos “ficassem com Deus” em um dos diálogos.

Quem é Zinho?

Com doze mandados de prisão expedidos em seu nome, segundo o governo do estado, Luís Antônio da Silva Braga, o Zinho, é o miliciano mais procurado do Rio de Janeiro. Sentenças e despachos de magistrados, referentes a decretações de prisões preventivas do bandido, a última delas publicada no último dia 15, apontam-no como chefe do maior grupo paramilitar da Zona Oeste. Dados de processos revelam ainda que Zinho responde, entre outras acusações, por ordenar o uso de carros clonados para localizar e executar rivais, por ser mandante da morte do ex-vereador Jerônimo Guimarães Filho, o Jerominho, apontado pela polícia como um dos fundadores da milícia, e por determinar o pagamento de propina a policiais para ser informado de operações.

A lista de crimes inclui ainda um esquema milionário de lavagem de dinheiro em que Zinho teria usado o nome da mãe de um comparsa para movimentar mais de R$ 4 milhões em uma conta bancária. O dinheiro seria uma pequena parte das extorsões praticadas pelo grupo criminoso. As informações constam de um processo que apura crime de organização criminosa, em trâmite na 1ª Vara Criminal Especializada da Capital.

A mesma investigação menciona a ordem de Zinho para oferecimento de propina a policiais civis e militares para ser informado sobre operações para sua captura. Zinho também determinava o uso de carros clonados pelo bando. “Na condição de líder do grupo criminoso, concorreu eficazmente para a prática de diversos delitos de receptação, à medida que, por deter o domínio final dos atos criminosos da malta, determinou que seus subordinados recebessem, ocultassem e conduzissem veículos ‘clonados’, que sabia serem produtos de crime. Tais veículos eram utilizados pela horda para a condução das atividades ilícitas inerentes à existência e à estabilidade do grupo, em especial para a realização de “levantamentos” de informações de rivais que seriam por eles eliminados e para a prática de homicídios”, escreveu o magistrado em um dos trechos da decisão.

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