O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, revelou a interlocutores ter ficado “chateado” após a família da vereadora Marielle Franco (PSOL) ter pedido que ele fique fora das investigações em torno do assassinato da parlamentar, em março de 2018.
O jornal O Estado de S. Paulo apurou que ele comentou a pessoas próximas que a PF foi responsável “excluir a linha fraudulenta de investigação” na Polícia Civil do Rio, em que foi “plantada testemunha” para desviar atenção dos “verdadeiros culpados”. Também ponderou que a ex-procuradora-geral Raquel Dodge foi quem pediu a federalização do caso.
Neste sábado, 2, a família afirmou, em nota, discordar do ministro da Justiça, que passou a defender a federalização das investigações da morte da política e do seu motorista Anderson Gomes.
“Somente após a menção ao presidente da República, Jair Bolsonaro, no inquérito, o ministro começou a se declarar publicamente a favor da federalização. Acreditamos que Sérgio Moro contribuirá muito mais se ele permanecer afastado das apurações”, afirmaram em nota Marinete da Silva (mãe), Antonio Francisco da Silva (pai), Anielle Franco (irmã), Monica Benício (esposa) e o deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ).
Mônica Benício se reuniu com Moro e dois delegados da Polícia Federal no ministério da Justiça, em Brasília no dia 15 de outubro. O ministro da Justiça pediu ao procurador-geral, Augusto Aras, que abra um inquérito para apurar se houve “tentativa de envolvimento indevido” do nome do presidente Jair Bolsonaro na investigação.
A medida veio após reportagem do Jornal Nacional mostrar que um porteiro firmou à Polícia Civil que, às 17h10 de 14 de março de 2018 (horas antes do crime), um homem chamado Elcio (que seria Elcio Queiroz, um dos acusados pelo duplo homicídio) entrou no condomínio dirigindo um Renault Logan prata e afirmou que iria à casa 58, que pertence a Bolsonaro e onde morava o presidente.
Naquela data, Bolsonaro estava em Brasília segundo registros na Câmara e também publicações em suas redes sociais. O filho do presidente, Carlos Bolsonaro, vereador pelo PSC, mostrou, em suas redes sociais, que um telefonema foi feito diretamente à casa de Ronnie Lessa. O Ministério Público do Rio afirmou, em entrevista coletiva, que o porteiro ‘mentiu’ em depoimento ao citar Bolsonaro.
Ao dar adeus à Procuradoria-Geral da República, em setembro, Raquel Dodge denunciou o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio Domingos Brazão por atrapalhar as investigações. Ele também é alvo de inquérito por ser o suposto mandante da execução da vereadora.
A então PGR também chegou a afirmar que “foram engendrados depoimentos que conduziram a Polícia Civil, a um certo tempo, a indicar que os autores eram pessoas que não tinham participado da atuação”.