O Federal Reserve inicia sua reunião de dois dias nesta terça-feira, com alguns dos principais observadores do banco central dizendo que a instituição pode muito bem interromper novos aumentos de juros devido aos problemas recentes dos bancos ou até mesmo adiar a divulgação de novas projeções econômicas devido à nebulosidade das perspectivas.
Ou não.
A reunião do Fed termina na quarta-feira, com divulgação às 15h (de Brasília) de um novo comunicado de política monetária, a ser seguido meia hora depois por uma coletiva de imprensa do chair do Fed, Jerome Powell. Se tudo correr como planejado, também serão divulgadas novas projeções para a economia e a trajetória da taxa de juros.
Mas, tanto quanto em qualquer ponto desde o início da pandemia de Covid-19, em março de 2020, as dimensões totais do resultado parecem duvidosas, à medida que as autoridades tentam equilibrar a necessidade de manter a pressão sobre a economia para reduzir a inflação, atingir o tom certo de cautela sobre a estabilidade financeira e evitar quaisquer erros que possam fazer os investidores pensarem que as coisas estão piores –ou melhores– do que realmente estão.
“Isso tudo é uma bagunça”, escreveu Krishna Guha, vice-presidente da ISI Evercore e ex-autoridade do Federal Reserve de Nova York, antes da reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês). As apostas para o encontro passaram de um aumento absolutamente certo na taxa de juros duas semanas atrás para um breu especulativo neste momento.
Após falências de bancos norte-americanos de alto nível a partir de 10 de março e o resgate de emergência do Credit Suisse na Europa no fim de semana, os mercados pareciam mais calmos na segunda-feira, com alguma sensação de que as ações tomadas pelo Fed e outros bancos centrais manteriam o sistema financeiro estável –e não permitiriam uma série de colapsos.
Os investidores em títulos vinculados à meta da taxa básica do Fed ainda embutem nos preços uma probabilidade de aproximadamente 70% de as autoridades aprovarem um aumento 0,25 ponto percentual nos juros, o que os levaria a uma faixa entre 4,75% e 5%.
“Sim, o Fed poderia continuar a apertar a política monetária… Sim, o Fed provavelmente aumentará a taxa (básica) em 25 pontos-base… Não, o Fed não deveria fazer isso… A abordagem ideal seria fazer uma pausa” e avaliar se o estresse do banco causará ou não um problema, escreveu em artigo o economista-chefe do EY-Parthenon, Gregory Daco.
A economista-chefe da KPMG, Diane Swonk, foi mais longe, dizendo que o Fed não deveria apenas adiar qualquer novo aumento das taxas, mas também reter as projeções econômicas agendadas para a reunião desta semana, porque “criariam mais caos do que clareza”.
Mas sua recomendação –e ela não foi a única a fazê-la– também sugere riscos envolvidos quando um banco central faz algo inesperado.
Desde que o Fed começou a publicar suas estimativas trimestrais, em 2012, a única vez que não o fez foi em março de 2020, quando o início da pandemia de coronavírus colocou a economia à beira do colapso –uma comparação que o Fed não gostaria que as pessoas fizessem neste momento, dado o estado das coisas.
Analistas do Bank of America disseram acreditar que o Fed prosseguirá com um aumento de 0,25 ponto percentual, mas moldará a mensagem em seu comunicado e na entrevista coletiva de Powell para fazer um balanço das últimas duas semanas.