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sábado 21 de outubro de 2023 às 09:28h

Egito e Jordânia têm motivos para não querer refugiados palestinos?

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Por que o Brasil, assim como outros países seguindo os mesmos passos, não consegue tirar o pequeno grupo de cidadãos brasileiros que querem sair da Faixa de Gaza? E por que o Egito não abre a passagem por onde entrariam fugitivos da guerra terrível que acontece no território, depois que o Hamas se infiltrou em Israel e matou 1 400 pessoas?

No Sinai, que é o território vizinho, os refugiados estariam protegidos de horrores como a explosão que matou uma quantidade ainda não esclarecida de pessoas e cuja autoria é disputada – a inteligência americana, em sigilo, e o Exército de Israel mostraram evidências de que foi o outro grupo mais fundamentalista ainda de Gaza, a Jihad Islâmica, quem provocou o “fogo amigo”, um disparo malogrado de um foguete feito do cemitério atrás do hospital que caiu no estacionamento. A gravação de uma conversa entre dois homens do Hamas diz: “Então fomos nós?”, pergunta um. “Parece que veio de nosso lado”, responde o interlocutor. “Quem está dizendo isso?”, insiste o primeiro. “Estão dizendo que os estilhaços do míssil são locais e não israelenses”.

Independentemente das conclusões, que sempre estarão tingidas pelas simpatias por um dos lados, permanece a questão: por que não abrir as fronteiras a desabrigados pela guerra?

O presidente do Egito, Abdel Fattah Al-Sissi, disse que é importante que os palestinos fiquem em seus territórios e marquem posição. Um argumento razoável se não fosse o contexto político: Sissi, como outros líderes árabes, tem horror à desestabilização que um grande fluxo de refugiados vindos de Gaza provocaria.

Mesmo quando em, circunstâncias anteriores e possivelmente no futuro próximo, recebe dirigentes do Hamas no Cairo para negociar tréguas, permanece a seguinte realidade: Sissi é um general que tomou o poder dos líderes da Irmandade Muçulmana, o movimento fundamentalista que nasceu no Egito no começo do século XX e ressurgiu com muita força durante a Primavera Árabe, em 2010. O Hamas é o “filho palestino” da Irmandade Muçulmana. Se pudesse, varreria o presidente egípcio do mapa.

Sissi, o rei da Jordânia e o presidente da Autoridade Palestina tomaram a grave decisão de cancelar um encontro com Joe Biden em Amã, por causa da tragédia no hospital de Gaza. Fazer desaforo ao presidente americano, que inclusive dá um bocado de dinheiro para eles, foi uma manobra política, para não ficar mal com a opinião pública árabe.

Na prática, permanece a mesma posição: nada de refugiados palestinos, a pretexto de que precisam batalhar por sua independência em sua própria terra. Abdullah, o rei da Jordânia, disse inclusive que isso é uma “linha vermelha” que não pode ser transposta.

Abdullah foi outro que esteve a perigo durante a Primavera Árabe, um período de protestos de rua contra múltiplos governantes. Até sua mulher, a linda e chique Rania, sumiu do mapa por uns tempos para abrandar os sentimentos antimonarquistas. Detalhe: ela é palestina, como metade da população jordaniana.

Essa parte da população aumentou muito com os refugiados da guerra de 1967 e com a instalação da Organização pela Libertação da Palestina na Jordânia. Yasser Arafat era o líder e não existia jihadismo fundamentalista, mas a OLP acabou desencadeando uma guerra civil que incluiu duas tentativas de assassinato contra o rei Hussein, pai de Abdullah.

O Exército jordaniano conseguiu reprimir o levante, numa operação que ficou conhecida como Setembro Negro. Num dos lances mais dramáticos, terroristas palestinos sequestraram três aviões que foram levados para o deserto e explodidos. Posteriormente, um grupo palestino assumiu o nome de Setembro Negro e foi responsável pelo sequestro e assassinato da equipe olímpica de Israel nos Jogos de Munique, em 1972.

Os palestinos expulsos pelos jordanianos foram para o Líbano, onde a desestabilização avançou até se tornar uma complexa guerra civil em várias fases, envolvendo cristãos, sunitas, xiitas, palestinos e, por fim, Israel, com alianças e rupturas que criaram uma das situações mais caóticas do mundo. Em 1978, Israel conseguiu expulsar Arafat do Líbano, deixando para trás cerca de 200 mil refugiados que até hoje não têm – e nunca terão – nacionalidade libanesa, independentemente de terem nascido lá. Recentemente, militantes palestinos que seguem a linha da Autoridade Palestina e outros, convertidos ao jihadismo tipo Estado Islâmico, entraram em choque armado no maior dos campos de refugiados.

Outros países que acolheram palestinos também acabaram atingidos por rivalidades fratricidas. Na Síria de Bachar Assad, os “convidados” aderiram à rebelião contra o regime. Assad e Hamas reconciliaram-se depois, unidos pelo ódio a Israel – e pelas instruções do Irã.

Fazer e romper alianças é uma atividade constante no Oriente Médio e quem não presta atenção constantemente pode ser surpreendido. Arafat e o rei Hussein, por exemplo, se reconciliaram, obedecendo aos respectivos interesses políticos.

Teoricamente, todos os palestinos da Cisjordânia, a margem ocidental do Rio Jordão tomada na contraofensiva israelense em 1967, teriam direito à nacionalidade jordaniana. E os de Gaza, à egípcia.

Na prática, nem pensar.

Um dos poucos resultados visíveis da visita de Biden foi conseguir que Israel e o presidente Sissi abra a passagem fronteiriça de Rafah para a entrada de vinte caminhões com suprimentos de emergência para os desabrigados. E isso foi considerado uma tremenda concessão.

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