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Lula ao lado de Paulo Pimenta, escolhido para ser autoridade federal no Rio Grande do Sul — Foto: Ricardo Stuckert/PR
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quinta-feira 16 de maio de 2024 às 17:20h

Nomeação de Pimenta como autoridade federal abre disputa na política gaúcha

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A escolha do ministro Paulo Pimenta para ser a autoridade federal para a calamidade no Rio Grande do Sul, decidida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), abriu uma disputa velada na política gaúcha entre diferentes atores, apesar de o discurso público predominante ser o de união em prol da reconstrução do Estado.

Pimenta terá a missão de representar o governo federal nas ações implementadas no Estado e na destinação dos recursos da União. Também fará a interlocução com o governo estadual e os prefeitos gaúchos — um total de 497 municípios.

Para um político que tem a pretensão de ser eleito conforme reportagem de Lucas Ferraz, do jornal Valor, para o Palácio Piratini em 2026, como é o caso de Pimenta, não haveria melhor função, que lhe dará, sobretudo, visibilidade.

E, desde já, o coloca como um rival óbvio do governador, Eduardo Leite (PSDB), desgastado por ter promovido mudanças profundas na legislação de proteção ambiental no seu primeiro mandato. Procurado, Leite não se manifestou sobre a escolha, mas correligionários do PSDB criticaram a criação do cargo, em especial pela vitrine política que ele proporciona.

Ao apresentar nesta quarta (15) medidas para as famílias atingidas pela chuva, em São Leopoldo, Lula e Pimenta, em primeiro plano, claramente ofuscaram o governador, que acompanhou o anúncio federal sem tanto envolvimento.

“Pimenta tem representado muito bem o Estado em questões importantes antes mesmo da tragédia. Ele tem a confiança do presidente da República e conhece o Rio Grande do Sul, vejo [a conomeação] como algo positivo”, afirmou ao Valor o deputado estadual Frederico Antunes (PP), líder do governo Eduardo Leite na Assembleia Legislativa do Estado.

Segundo Antunes, o atual momento no Estado é de “alinhamento” entre as diferentes forças políticas. “Vidas dependem disso, não é só política”, ressaltou.

A escolha, naturalmente, desagradou políticos de direita, em especial bolsonaristas, cujo eleitorado no Estado é grande. O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) obteve 56,3% dos votos no Rio Grande do Sul contra 43,6% de Lula no segundo turno da eleição de 2022.

Para a esquerda, notadamente o PT, o eventual sucesso da empreitada do ministro como autoridade federal poderia ajudar a mudar o cenário adverso, pró-Bolsonaro. No caso da capital Porto Alegre, onde Lula teve mais votos em 2022, Pimenta será um importante cabo eleitoral para a deputada federal Maria do Rosário, pré-candidata do PT à prefeitura — ela deve ser o principal adversário do prefeito Sebastião Melo (MDB), que deverá tentar a reeleição com o apoio do bolsonarismo.

“O presidente colocou alguém próximo de si para reconstruir o Estado. Ele chamou a responsabilidade para si colocando alguém de dentro do palácio”, afirmou Maria do Rosário.

Gaúcho de Santa Maria e eleito seis vezes para a Câmara dos Deputados, Pimenta demonstrou senso de oportunidade, dizem aliados, ao se colocar como o principal “rosto” do governo federal no Estado desde o primeiro momento da tragédia climática. Ele teve ainda um papel considerado bem-sucedido no enfrentamento às fake news sobre as enchentes, rendendo uma investigação aberta pela Polícia Federal.

Em 2022, Pimenta foi o deputado federal que recebeu a maior votação da história do PT no Rio Grande do Sul, sendo o terceiro gaúcho mais votado para uma cadeira na Câmara dos Deputados — com 223.109 votos. Com a confiança de Lula, ele foi indicado para chefiar a Secretaria de Comunicação Social (Secom) da Presidência, atuação que sempre foi alvo de questionamentos no entorno presidencial.

O cargo de autoridade federal vai ser o primeiro de caráter executivo a ser desempenhado por Pimenta, que, como deputado federal e, depois, ministro da Secom, tinha atuação predominantemente política. “Os consultores e equipes técnicas servem para isso, para ajudar nas decisões políticas”, justificou Maria do Rosário.

Procurado pelo Valor, Paulo Pimenta não respondeu.

“Claramente é uma alavanca político-eleitoral, tudo o que o Estado não precisava nesse momento”, afirmou Onyx Lorenzoni, ex-deputado e ex-ministro de Bolsonaro, que disputou o segundo turno da eleição estadual de 2022 contra Eduardo Leite, que tornou-se o primeiro governador reeleito pelos gaúchos. Para ele, bastaria uma ação interministerial atuando diretamente com o governo gaúcho.

“Agora, o presidente tem o direito de indicar quem ele quiser, digo isso como um dos maiores adversários do PT no Estado. Mas haverá também um custo”, completa Lorenzoni, que também quis evitar a “politização” ressaltando que o momento exige outra postura.

O senador Paulo Paim (PT-RS) disse que chegou a ser contestado pela militância de esquerda por reuniões ao lado de Hamilton Mourão (Republicanos-RS), ex-vice-presidente de Bolsonaro que é o relator da comissão criada no Senado para a reconstrução do Rio Grande do Sul. “Pelo bem do meu Estado, devo trabalhar com ele”, disse Paim.

Antes das especulações eleitorais, com o capital político dos governos federal, estadual e municipal em jogo, uma definição que aguarda deliberação dos políticos é sobre o adiamento ou não das eleições municipais, ressaltaram alguns dos entrevistados. Mas nem isso eles querem discutir neste momento.

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