A secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, viajará à China na quinta-feira (4) para tentar diminuir a tensão entre as duas maiores economias do mundo, como fez durante uma visita ao país no ano passado.
Chegará com um leque de temas na agenda, desde as tecnologias mais avançadas até a segurança das cadeias de suprimento, passando pela superprodução e os subsídios às indústrias.
Superprodução chinesa
O tema é importante para Washington, já que a desaceleração da economia chinesa pode incitar Pequim a impulsionar a superprodução para compensar a queda de atividade, sobretudo no setor de energia limpa ou de veículos elétricos.
Nestes dois setores os Estados Unidos querem desenvolver rapidamente cadeias de produção e abastecimento que podem se ver debilitadas por uma concorrência chinesa considerada, nestas condições, desleal.
Os bancos chineses facilitaram o acesso ao crédito para a indústria nacional. Emprestaram quase 700 bilhões de dólares (3,4 trilhões de reais em valores da época) no terceiro trimestre de 2023, segundo o Atlantic Council, a maioria das vezes “a taxas inferiores às do mercado”.
À medida que surgem novas fábricas de baterias e veículos elétricos na China, teme-se que o país inunde o mercado global, “o que teria um impacto não somente nos Estados Unidos e Europa, mas também em muitos países em desenvolvimento”, alertou Wendy Cutler, vice-presidente do Asia Society Policy Institute.
Pequim reconhece os riscos associados à superprodução, mas não parece tomar medidas para enfrentá-los.
Clima para os negócios
Segundo um estudo da Câmara de Comércio americana na China, um terço das empresas acredita que as autoridades chinesas as tratam de maneira menos favorável que os seus rivais locais.
É um problema que afeta tanto o acesso ao mercado como a aplicação das regulações.
Na cidade de Guangzhou (sul), Yellen prevê se reunir com empresas americanas para falar do tema.
Em dezembro passado, instou Pequim a abandonar seu enfoque econômico baseado no envolvimento do Estado para tornar o país mais atrativo ao investimento estrangeiro.
A China tenta atrair investimentos para reativar sua economia, mas existe o risco de “se fartar das promessas”, segundo Bill Bishop, autor do boletim de notícias digital Sinocism, e os investidores esperam “ações mais concretas e estruturais, não novas promessas ou documentos bonitos das autoridades”.
Segurança nacional
Esse tema ressurge toda vez que os vínculos econômicos entre China e Estados Unidos entram na pauta de discussões.
Em fevereiro, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, emitiu uma ordem executiva destinada a proteger os dados pessoais sensíveis dos americanos do uso de vários países, incluindo a China
Em agosto, o Tesouro iniciou um programa destinado a seguir de perto todos os investimentos americanos realizados na China em setores considerados delicados, autorizando-se a possibilidade de proibir determinadas transações.
Trata-se dos semicondutores e da inteligência artificial, para os quais se espera uma nova regulação.
O ministro de Relações Exteriores chinês, Wang Yi, estima que o enfoque americano em relação à inteligência artificial pode conduzir a erros com consequências “históricas”.
Esses temores pela segurança nacional também estão por trás do desejo de que a Bytedance, a empresa matriz chinesa do TikTok, venda a rede social nos Estados Unidos.
Concorrência e “Friendshoring”
A estratégia de Washington de “friendshoring”, ou seja, confiar suas cadeias de suprimento a aliados e parceiros, é outra fonte de tensão, porque favorece determinadas origens de produtos em detrimento da China.
Yellen recordou que o mundo é suficientemente grande para os dois países, um argumento que não convence as autoridades chinesas.
A China tenta responder com medidas de represália, particularmente ante os esforços da administração americana por limitar seu acesso aos semicondutores mais avançados.
Pequim anunciou, por exemplo, controles sobre as exportações de metais críticos, necessários para a produção desses semicondutores, e proibiu o uso de chips fabricados pela americana Micron para determinados projetos de infraestrutura considerados essenciais.