O Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) apresentou, na manhã desta terça-feira (5), o resultado da operação Dakovo, deflagrada juntamente com o Governo do Paraguai, visando o combate ao tráfico internacional de armas. O alvo da força-tarefa é uma quadrilha suspeita do envio de 43 mil armas entre 2019 e 2022 para as maiores facções criminosas brasileiras.
Ao todo, estão sendo cumpridos 19 mandados de prisão (5 no Brasil e 14 no Paraguai) e 38 mandados de busca e apreensão no Brasil, Paraguai e Estados Unidos. Na operação, também foram bloqueados R$ 66 milhões em bens e valores no Brasil, com o objetivo de identificar a lavagem de dinheiro oriunda de rede ilegal.
“Quero destacar a importância disso no combate ao crime organizado no Brasil. O presidente Lula definiu como prioridade para o MJSP ações de descapitalização das organizações criminosas e ações contra a logística, daí o foco em portos, aeroportos e fronteiras. Só é possível superar o crime organizado de verdade substituindo um modelo ineficiente, de tiros a esmo, que são puramente demagógicos, e indo à raiz, que é retirar o fluxo de armas, drogas e lavagem de dinheiro. Esta é a mudança paradigmática. É o centro de uma estratégia consciente e eficiente”, destacou o ministro Flávio Dino.
A investigação
A investigação começou a partir de uma apreensão de 25 armas em Vitória da Conquista, na Bahia. Após perícia técnica, foi identificado que todas as armas tinham origem de uma empresa importadora do Paraguai, que comprava armamento da Croácia, Eslovênia, República Tcheca e Turquia, e revendia para quadrilhas brasileiras. Há indicativos de participação de doleiros e empresas de fachada dos Estados Unidos no esquema.
“Conseguimos identificar o número de série e rastreamos a origem. Encontramos várias outras armas do mesmo fabricante e demos início à apuração do tráfico internacional de armas de fogo. A partir daí, nos deparamos com grandes remessas de armas da Europa para o Paraguai, onde eram raspadas e recebiam carimbos falsos, para dissimular a verdadeira origem. Estas armas eram passadas a grupos intermediários que atuam na fronteira e revendidas às duas maiores facções do Brasil”, explicou o superintendente da Polícia Federal na Bahia, Flávio Márcio Albergaria da Silva.
Estima-se que, desde o início das investigações, a empresa investigada movimentou, em três anos, cerca de R$ 1,2 bilhão de reais. Neste período foram realizadas 67 apreensões que totalizam 659 armas apreendidas no território brasileiro, em dez estados: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Bahia e Ceará. A investigação segue, com o objetivo de mapear toda a cadeia criminosa.
“Esta operação fará com que as duas maiores facções brasileiras, principais destinatárias destes armamentos ilegais, tenham o fechamento da via logística, então o impacto é muito forte”, complementou Dino, destacando a operação como um ato de continuidade dos esforços de cooperação entre Brasil e Paraguai.
Presente na apresentação, o ministro da Secretaria Nacional Antidrogas do Paraguai (Senad/PY), Jalil Rachid, endossou a importância da cooperação: “É um trabalho que deu resultado como consequência direta da colaboração entre Brasil e Paraguai. Nos dois países, esta operação tem dimensão gigantesca. Para nós, os resultados são altamente positivos, e nós queremos continuar este trabalho, pois somos países irmãos afetados pelo mesmo problema”, afirmou.
Além dos ministros Flávio Dino e Jalil Rachid, também participaram da apresentação o diretor-executivo da Polícia Federal, Gustavo Paulo Leite de Souza; o coordenador-geral de Polícia de Repressão a Entorpecentes (CGPRE/DICOR/PF); Júlio Danilo Ferreira; o coordenador-geral de cooperação jurídica internacional da PF, João Vianey Xavier Filho; o superintendente Regional da PF na Bahia, Flávio Márcio Albergaria Silva; o responsável pelo inquérito policial, Diego Gordilho; o diretor de Assuntos Internacionais do Ministério Público do Paraguai, Manuel Doldan; e o diretor-geral da Senad do Paraguai, Anderson Araújo.