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sexta-feira 22 de março de 2024 às 17:13h

Descubra o mistério do homem que vê demônios em rostos humanos

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Victor Sharrah acordou uma manhã e, apavorado, se deu conta de que via seu companheiro de apartamento com orelhas pontudas, olhos gigantescos e a boca na extensão das bordas do rosto.

Tentando manter a calma, Sharrah levou o cão para passear, mas as pessoas com quem cruzava na rua tinham rostos igualmente estranhos e distorcidos.

“Meu primeiro pensamento foi que tinha acordado em um mundo demoníaco”, disse Sharrah à AFP em telefonema de sua casa em Clarksville, Tennessee.

Prosopometamorfopsia, il disturbo che fa vedere i demoni. E non sono  allucinazioni | Corriere.it
Imagem: Corriere.it

“Comecei a ficar realmente nervoso”, disse este chef de 58 anos. Ele contou que chegou a pensar em se internar “em uma unidade psiquiátrica”.

No entanto, Sharrah não havia “perdido a razão por completo”, como temia.

Com a ajuda de especialistas, ele descobriu que sofre de uma condição visual extremamente rara chamada prosopometamorfopsia, ou PMO.

Para as pessoas com esta condição, os rostos aparecem distorcidos de diversas maneiras. Enquanto Sharrah vê demônios, alguns veem elfos, disse à AFP um estudioso da PMO, Antonio Mello.

Para alguns pacientes, a metade do rosto que vem diante de si aparece derretida. Outros veem rostos arroxeados ou verdes, ou rostos em constante movimento.

Às vezes, a condição dura apenas poucos dias. Porém, mais de três anos depois daquela manhã assustadora de novembro de 2020, Sharrah ainda vê “demônios”.

– ‘Traumático’ –

O caso de Sharrah é muito particular.

Diferentemente de outras pessoas com PMO, quando vê rostos em telas planas, eles parecem normais.

Isto permitiu a Mello e outros pesquisadores do Dartmouth College, nos Estados Unidos, criar as primeiras imagens “fotorrealistas” que representam como as pessoas com PMO veem os rostos, segundo estudo publicado nesta sexta-feira (22) na revista científica The Lancet.

Para criar as imagens, os cientistas fizeram Sharrah comparar fotos de Mello e de outra pessoa como apareciam em uma tela de computador, com as distorções que via em seus rostos reais.

Para outros pacientes com PMO, os rostos nas fotos também aparecem distorcidos.

Sharrah disse que a vida com PMO é “muito mais traumática do que as imagens podem transmitir”.

“O que as pessoas não entendem quando veem estas imagens é que, na vida real, esse rosto está se mexendo, gesticulando e falando”, acrescenta.

A causa exata da prosopometamorfopsia continua desconhecida.

Jason Barton, neurologista da Universidade de British Columbia, que não participou do novo estudo, considera que o PMO é um “sintoma, não um transtorno”, e por isso poderia ter múltiplas causas.

Na maioria dos casos que Barton pesquisou, “algo aconteceu no cérebro, que se correlacionou com o início desta experiência anormal”.

Sharrah tem uma lesão no cérebro provocada por um acidente que sofreu enquanto trabalhava como caminhoneiro em 2007.

Mas na avaliação de Mello, isto não está relacionado com a PMO porque as ressonâncias magnéticas mostraram que a lesão está no hipocampo de Sharrah, uma parte do cérebro “não associada com a rede de processamento facial”.

Só foram reportados cerca de 75 casos de PMO até agora na literatura científica.

Mas Mello disse que mais de 70 pacientes contactaram seu laboratório nos últimos três anos.

A natureza assustadora da condição significa que frequentemente foi diagnosticada de forma equivocada como esquizofrenia ou psicose, acrescentou.

– Adaptando-se ao mundo demoníaco –

Sharrah só soube da PMO depois de publicar sobre sua experiência em um grupo de apoio on-line para pessoas com transtorno bipolar.

Foi um grande alívio. “Significava que não era um psicótico, entende?”, disse.

Sharrah, que tem a visão perfeita, mandou fazer óculos com lentes verdes que diminuem a gravidade das distorções. A cor vermelha as torna “mais intensas”, disse.

Além da cor, a percepção de profundidade parece desempenhar um papel. Embora Sharrah não veja distorções faciais em telas planas, estas começaram a aparecer quando os pesquisadores o fizeram usar um capacete de realidade virtual, disse Mello.

Sharrah disse que se adaptou em grande medida a seu estranho mundo novo.

Três anos depois, não usa mais os óculos verdes.

“Passaram-se três anos, me habituei um pouco”, disse.

Mas em locais cheios, como um supermercado, a multidão de demônios ao seu redor ainda pode ser “assustadora”, acrescentou.

Como os pacientes que sofrem de PMO sabem que o que estão vendo não é real, muitos enfrentam uma decisão difícil.

Vale a pena dizer às pessoas sobre a aparência grotesca que têm, sob o risco de parecer louco?

Alguns preferem o silêncio. Mello contou de um homem que nunca disse à sua esposa que seu rosto, agora, depois de muitos anos, lhe parece distorcido.

Sharrah disse ter compartilhado sua experiência para que outras pessoas com PMO pudessem evitar ser “internadas por psicose”.

“Assim, sabem o que está acontecendo e não vivenciam o trauma que eu passei.”

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