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Prefeitos eleitos e reeleitos de grupos de qualificação e renovação política - Divulgação
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domingo 6 de dezembro de 2020 às 06:42h

Com doações e parcerias, grupos de renovação elegem prefeitos e expõem dilemas

NOTÍCIAS, POLÍTICA


A reeleição de Edvaldo Nogueira (PDT), 59, como prefeito da capital Aracaju (SE) e de Raquel Lyra (PSDB), 42, em Caruaru (PE), tem um ponto em comum com a eleição de Arão Jovino (PSD), 28, na pequena Ascurra, município catarinense onde vivem cerca de 8.000 pessoas. Todos integram grupos de qualificação e renovação política.

Nessas eleições municipais, de acordo com levantamento feito pela Folha com os movimentos Raps (Rede de Ação Política pela Sustentabilidade), RenovaBR, Agora, Acredito e Livres, 28 candidatos com esse perfil foram eleitos ou reeleitos para prefeituras, em cidades do Sudeste e do Nordeste, mas também no Sul e Centro-Oeste.

Em termos partidários, os integrantes transitam entre siglas de diferentes linhas ideológicas. O Podemos tem cinco eleitos. O Progressistas, quatro, PSD e MDB, têm três eleitos cada um. Solidariedade tem três, e PDT, dois.

Com exceção da Raps, criada em 2012, e do Livres, de 2015, essa é a primeira eleição municipal para a maioria desses grupos, que trabalham com diferentes plataformas e objetivos.

O balanço que fazem em relação ao resultado dos pleitos é positivo, embora eleger quadros não seja a finalidade de todos, como ponderam Raps e Agora.

“Esse foi o melhor resultado da Raps em eleições municipais em oito anos da nossa história”, afirma a diretora-executiva da rede, Mônica Sodré. De 53 candidatos do grupo que disputaram o Executivo, 32% foram eleitos.

A cientista política explica que o movimento atua em três frentes, com formação, agenda e rede de conexões, buscando a qualificação da ação política.

“A nossa preocupação não é renovar a política. Para a gente, o problema da política brasileira é de outra ordem e está relacionado à qualificação dos atores políticos, sejam eles novatos ou já eleitos.”

Político há mais de 30 anos, Edvaldo assumiu o primeiro mandato em 2006, após Marcelo Déda (PT) deixar a Prefeitura de Aracaju (cidade de 665 mil habitantes) para disputar outro cargo. Ao concluir o segundo mandato, em 2013, conheceu a Raps.

“Nesses quatro anos em que fiquei sem mandato participei de eventos, de cursos, reuniões e me tornei um líder Raps. Recebi muita contribuição da Raps, principalmente na ideia de cidade sustentável e inteligente, que foi algo que agregou muito para o meu mandato agora”, diz.

Com um convênio com o Instituto Arapyaú, que obteve por meio do movimento, conseguiu criar na capital sergipana um departamento de inovação e implantar projetos, como matrículas online, prontuários eletrônicos e semáforos inteligentes.

“Hoje temos 1.100 serviços que a pessoa consegue fazer sem sair de casa”, afirma o prefeito, que foi reeleito para o quarto mandato no pleito municipal deste ano.

O instituto também contribuiu com a gestão de Raquel em Caruaru, cidade de 365 mil habitantes. Ali a parceria foi para criar uma central de vagas em creches que ajudou estabelecer critérios para o atendimento.

“Minha maior bandeira é transformar Caruaru pela educação. Eu consegui construir, por meio da Raps, uma quantidade de parcerias que hoje conseguem me apoiar a fazer a diferença aqui na cidade. O resultado prático disso é que tive o maior Ideb da nossa história, tanto nos anos iniciais quanto nos finais”, afirma.

Além da Raps, Arão —jornalista e primeiro político da família— integra o Renova, escola de formação de novos políticos criada pelo executivo Eduardo Mufarej, e o Agora, uma plataforma voltada para formulação de políticas públicas, que ajudaram a financiar a campanha.

“O movimento ajudou, seja com doação via vaquinha ou doadores de forma direta e com a construção de um plano de governo, e isso é importante frisar, porque em cidades como a nossa, de 8 mil habitantes, as pessoas não estão acostumadas a ver candidato com plano. Foi o que os eleitores mais comentaram durante a campanha”, afirma.

Em 2017, ele foi selecionado pela Fundação Lemann para um programa de formação de líderes públicos, com um curso na Universidade de Oxford, no Reino Unido. Em 2018, disputou a primeira campanha, concorrendo ao cargo de deputado federal.

Os cinco grupos lançaram 184 candidaturas para prefeituras, sendo 47 mulheres (26%) e 50 de negros (27%), somando os autodeclarados pardos e negros. Dentre os 28 eleitos, 3 são mulheres (11%) e 8 negros (29%).

Lara Mesquita, cientista política e pesquisadora da Fundação Getúlio Vargas, aponta que o número de candidaturas de mulheres a prefeituras ficou acima da média nacional, de 13%, mas foi menor em relação aos negros, 36%.

Em relação a eleitos no cenário nacional, o percentual das mulheres foi de 12% (652) e o de negros de 31% (1.747).

Ela acrescenta que uma questão ainda a ser respondida é o quanto esses grupos de renovação ajudam na eleição de pessoas que não conseguiriam assumir um mandato sem tal apoio, ponderando que os partidos políticos também promovem formações e que esses grupos não detêm o monopólio dos eleitos que defendem inovação nos mandatos.

Em relação à representatividade, a diretora executiva do RenovaBR, Irina Bullara, afirma que 33 alunas se candidataram a prefeituras nessas eleições e que, para apoiá-las, foi criado um grupo só de mulheres com a participação de uma psicóloga. Ao longo da campanha, elas sofreram com o sexismo e, em alguns casos, ameaças de morte.

“Infelizmente, uma única foi eleita. A gente tem que olhar isso dentro de uma situação estrutural brasileira, mas ficamos felizes que já tenha um exemplo para mostrar para as mulheres que é possível chegar lá”, diz.

De família de políticos, como Fernando Lyra, ministro da Justiça no governo Sarney, Raquel conta que, após deixar dez anos no serviço público e ingressar na política em 2010 —como deputada estadual mulher mais votada—, agora enfrenta desafios por ser uma mulher jovem no meio. “Hoje consigo ter clareza do que é uma construção machista e conservadora.”

Na avaliação de Mônica, para que o aumento da representatividade de candidaturas se reflita no de eleitos, é preciso uma mudança de olhar nos partidos, garantir recursos para as campanhas e, no caso das mulheres, uma rede de apoio. “O bonde da história está passando e é parte do trabalho dos partidos abraçar essa causa, que é de homens e mulheres e não só feminina.”

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