sexta-feira 17 de maio de 2024
Rua Jinli, na província de Chengdu, na ChinaRua Jinli, na província de Chengdu, na China | Wikimedia/Daderot/Creative Commons
Home / Mundo / MUNDO / Brasil oficializa pedido para criar novo consulado na China
domingo 13 de fevereiro de 2022 às 19:11h

Brasil oficializa pedido para criar novo consulado na China

MUNDO, NOTÍCIAS


Segundo a coluna de Marcelo Ninio, no O Globo, três anos após esfriamento nas relações diplomáticas bilaterais causado pelos posicionamentos contrários à China do presidente Jair Bolsonaro, o governo brasileiro fecha o ano tentando um avanço com o seu principal parceiro comercial. O Itamaraty instruiu a embaixada do Brasil em Pequim a pedir a aprovação do governo chinês para a abertura de um novo consulado no país. O local escolhido para a quarta representação brasileira na China continental foi a cidade de Chengdu, capital da província de Sichuan, na região central do país.

A intenção, que havia sido mencionada há alguns meses pelo chanceler Carlos Alberto França, tornou-se oficial. A instrução foi enviada de Brasília no final de dezembro, dando seguimento a uma primeira sondagem feita junto ao Ministério do Exterior da China. Cabe agora ao governo chinês aprovar a abertura do consulado para que ele possa sair do papel. Atualmente, além da embaixada e do consulado em Pequim, o Brasil tem outras duas representações na China continental, em Xangai e Cantão. Há ainda um consulado em Hong Kong, território “autônomo” sob soberania de Pequim.

Na instrução enviada à embaixada em Pequim, o Itamaraty explica a criação do consulado em Chengdu observando que ela seria a primeira representação do Brasil na parte central da China, e serviria como uma importante plataforma para o incremento das relações comerciais, econômicas e de ciência e tecnologia com a região. Antes de 2020 havia cerca de 15 mil brasileiros residentes na China, mas a embaixada estima que esse número tenha diminuído consideravelmente desde o início da pandemia. Especificamente na jurisdição do novo consulado, a presença de brasileiros é mínima, portanto o principal interesse em abrir um escritório em Chengdu é mesmo o econômico.

De acordo com o comunicado do Itamaraty, os setores que mais interessam ao Brasil são agricultura, mineração, turismo, e indústrias farmacêutica e de alta tecnologia. É lembrado ainda que Chengdu é “cidade-irmã” de Recife, onde a China tem um de seus três consulados no Brasil. Os outros estão no Rio e em São Paulo.

Embora a princípio o governo chinês veja com bons olhos a abertura de um novo consulado, a primeira sondagem sobre o plano foi recebida com certa relutância por Pequim, com uma sinalização de que o aval seria uma concessão ao governo brasileiro e que não sairá sem uma contrapartida, segundo fontes que acompanham o assunto. Pequim mencionou a norma diplomática de equivalência no número de representações em cada país, sugerindo que poderia requerer a abertura de mais um consulado chinês no Brasil, onde já tem três.

É o mesmo número que o Brasil teria na China com a abertura em Chengdu (sem contar Hong Kong). Para fontes diplomáticas, a reação inicial morna é parte da estratégia de negociação chinesa, mas também reflete os ruídos dos últimos três anos na relação bilateral, que tornaram Pequim bem mais resistente a fazer concessões ao Brasil.

A província de Sichuan, da qual Chengdu é a capital, é a terceira mais populosa da China, com 83 milhões de habitantes, e tem metade do PIB do Brasil. A jurisdição do novo consulado abrangeria cinco províncias (Sichuan, Yunnan, Guizhou, Shaanxi e Tibete), mais a megacidade de Chongqing, numa área que no total tem uma população maior que a do Brasil. Seria a primeira representação brasileira fora da costa leste chinesa.

A localização central estratégica, que se alinha à política chinesa de estender o desenvolvimento da costa leste para o Oeste do país, adicionado às oportunidades de intercâmbio econômico e científico na região, já atraiu 19 países a criar consulados em Chengdu, cidade de 17 milhões de habitantes famosa pela gastronomia e por ser a capital mundial dos pandas. O mais recente foi o Chile, em julho. A Argentina também já sinalizou que irá fazer o mesmo.

Os Estados Unidos mantiveram um consulado na cidade até julho do ano passado, quando a China ordenou seu fechamento. Foi um ato de retaliação à decisão do governo americano, na época sob a presidência de Donald Trump, de fechar o consulado chinês em Houston sob a alegação de que ele abrigava ações subversivas e de espionagem econômica.

Promovida recentemente a ministra-assistente, a chefe do Departamento de Informação do Ministério do Exterior chinês, Hua Chunying, disse que a iniciativa brasileira é um bom sinal para as relações bilaterais. Questionada sobre as declarações de Bolsonaro contra seu país, ela indicou que a China tem sido comedida na resposta por respeito às tradicionais boas relações entre os dois países, e que elas são entendidas em Pequim como um aceno do presidente a sua base eleitoral. Mais importante que palavras são ações, disse.

O último consulado brasileiro criado na China foi em Cantão, em 2011. Chama a atenção que o Brasil esteja ampliando sua presença na China justamente durante um governo conhecido pelo antagonismo ao país asiático. Segundo uma fonte diplomática, isso pode indicar que o chanceler França tenha ganhado algum espaço para implementar uma política externa mais pragmática enquanto Bolsonaro se concentra em assuntos domésticos, preocupado principalmente com a sua campanha à reeleição.

Em outubro o Itamaraty anunciou que havia obtido autorização do presidente para um aumento de 27% em seu orçamento para 2022, e que havia planos de abertura de cinco novas representações diplomáticas do Brasil, entre elas a de Chengdu. Pode ser um sinal positivo, mas também uma cortina de fumaça, comenta um diplomata com grande experiência em vários postos na Ásia, incluindo a China. A questão é que não adianta ampliar a presença brasileira no mundo sem ter em Brasília uma visão estratégica dos interesses do país, explica ele, pedindo para não ser identificado.

Mesmo após o sinal verde do governo chinês, o processo de abertura da representação em Chengdu não será simples, principalmente pela dificuldade de enviar diplomatas à China devido às restrições de viagens impostas por Pequim em sua política de Covid zero. A abertura do novo consulado poderia inclusive ficar para um próximo governo, já que fontes diplomáticas acreditam que dificilmente ela será possível ainda em 2022.

Veja também

AGU cobra de Dilma dívida de multa por propaganda eleitoral irregular

A Advocacia-Geral da União (AGU) cobra da ex-presidente Dilma Rousseff uma dívida de R$ 10 …

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

error: Content is protected !!
Pular para a barra de ferramentas