Em discursos no Senado, campanhas políticas, jornais e livros, político deixou sua marca na sociedade brasileira como polemista liberal
Quando Rui Barbosa morreu, a Gazeta de Notícias, do Rio não economizou na metáfora, diz Wilson Tosta, do Estadão. “Apagou-se o sol!”, trombeteou na sua primeira página em 2 de março de 1923, relatando a partida do baiano ilustre, ocorrida na véspera. A manchete enfática acima da foto do senador ilustrava o rastro que ele deixara na sociedade brasileira – ou na elite que comandava o País recém-saído da escravidão e governado por oligarquias. Rui era considerado “o maior dos brasileiros”, como o Jornal do Brasil afirmou ao noticiar a morte. “Disputara” esse título com dois companheiros de geração: o abolicionista Joaquim Nabuco (1849-1910) e o diplomata José Maria da Silva Paranhos Junior, o Barão do Rio Branco (1845-1912). E vencera.
Ídolo de uma classe média urbana que crescia em um País predominantemente rural, Rui foi político em uma época em que a eloquência era um fator decisivo para quem disputava a opinião pública. Assim, caprichava na retórica, com ares de tribuno que falava em português castiço e citações em latim – o que, às vezes, lhe rendeu a acusação de pedantismo. Em discursos na tribuna do Senado, em palestras, artigos de jornais, livros, em suas campanhas à Presidência, porém, Rui deixou sua marca de polemista liberal e às vezes contraditório, mas em geral alinhado a valores democráticos – naquela época, apenas formalidades para uma população excluída e analfabeta.
Conheça algumas frases de Rui Barbosa:
“De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto.” (Senado, 17 de dezembro de 1914)
“A Imprensa e o dever da verdade”
“Um país de imprensa degenerada ou degenerescente é, portanto, um país cego e um país miasmado, um país de ideias falsas e sentimentos pervertidos, um país que, explorado na sua consciência, não poderá lutar com os vícios, que lhe exploram as instituições.” (A Imprensa e o dever da verdade)
“A imprensa é a vista da nação. Por ela é que a nação acompanha o que lhe passa ao perto e ao longe, enxerga o que lhe malfazem, devassa o que lhe ocultam e tramam, colhe o que lhe sonegam, ou roubam, percebe onde lhe alveja, ou nodoam, mede o que lhe cerceiam, ou destroem, vela pelo que lhe interessa, e se acautela do que a ameaça.” (A Imprensa e o dever da verdade)
“Nada mais útil às nações do que a imprensa na lisura da sua missão. Nada mais nefasto do que ela mesma na transposição do seu papel. Se o fiel der em ladrão, não haverá, neste mundo, ladrão tão perigoso. Porque bem poucos são os que dos seus guardas se guardam. Quis custodiet custodes?” (A Imprensa e o dever da verdade)
“Todos os regimes que descaem para o absolutismo vão entrando logo a contrair amizades suspeitas entre os jornais.” (A Imprensa e o dever da verdade)
Teatro Lírico do Rio de Janeiro, 1919
“Tenho o consolo de haver dado a meu país tudo o que me estava ao alcance: a desambição, a pureza, a sinceridade, os excessos de atividade incansável, com que, desde os bancos acadêmicos, o servi, e o tenho servido até hoje. Por isso me saí da longa odisseia sem créditos de Ulisses.” (Oração aos Moços)
“Nunca requestei (pedi) o sufrágio popular senão apoiado em ideias, para a realização de algumas das quais trabalhei até ao triunfo, sem que ainda hoje cessasse de pugnar (lutar) pelas outras.” (Senado, 13 de outubro de 1896)
“Não! O Brasil não aceita a cova, que lhe estão cavando os cavadores do Tesouro, a cova onde o acabariam de roer até aos ossos os tatus-canastras da politicalha. Nada, nada disso é o Brasil” (Teatro Lírico do Rio de Janeiro, 20 de março de 1919)
“Civilismo quer dizer ordem civil, ordem jurídica, a saber: governo da lei, contraposto ao governo do arbítrio, ao governo da força, ao governo da espada. A espada enche hoje a política do Brasil.” (O dever do advogado. Carta a Evaristo de Moraes, 1911)
‘Não conheço satisfação maior para o espírito do que ver triunfar a verdade científica.” (20 de abril de 1883)
“A liberdade não é um luxo dos tempos de bonança; é, sobretudo, o maior elemento de estabilidade das instituições.” ( Obras Completas, 1942)
“Lucram com a desordem os governos desacreditados que, vivendo apenas de viver, tendo violado todas as leis, faltado a todos os deveres, perdido toda a estima pública, necessitam de romancear revoluções (…)” (Obras Completas, 1942)