tecnologia combina exames de detecção de RNA viral e inteligência artificial que conferem maior sensibilidade e rapidez aos diagnósticos
A EMBRAPII (Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial) está apoiando o desenvolvimento de um projeto capaz de fazer exames laboratoriais remotos para a detecção de agentes virais de doenças infecciosas, como coronavírus, dengue, zika e chikungunya. A nova tecnologia combina exames de detecção de RNA viral e inteligência artificial, que conferem mais precisão e rapidez aos diagnósticos. A parceria da Unidade EMBRAPII – Centro de Química Medicinal da Unicamp (CQMED) e a empresa Hilab prevê a criação de reagentes-chave para a realização dos exames moleculares e, assim, contribuir com a autonomia nacional no setor e ampliar o acesso de exames moleculares à população. O acordo terá a duração de 24 meses e o investimento será de cerca de R$ 1 milhão.
A tecnologia point-of-care possibilita a realização de exames diretamente no local de atendimento, como centros de saúde, consultórios médicos, farmácias entre outros locais. O resultado do exame é enviado para o laboratório central da Hilab, onde é duplamente verificado, por inteligência artificial e por um especialista. O paciente recebe o diagnóstico via celular em até 30 minutos, por SMS e e-mail. A expectativa é que os exames laboratoriais remotos possam ampliar a cobertura da disponibilidade de exames confiáveis e com resultados rápidos no país.
A necessidade de novas tecnologias de exames diagnósticos de doenças virais é crescente no país. A nova onda de casos de COVID-19, provocada pela nova variante ômicron, fez explodir a busca por exames diagnósticos, que não suprem a demanda satisfatoriamente. Isto acaba dificultando estratégias de rastreamento e isolamento dos contaminados. De acordo com Painel Coronavírus, até o momento, 623 mil pessoas já morreram em decorrência de complicações da COVID-19 no país e pelo menos 24 milhões de pessoas já contraíram o vírus.
No caso de dengue, zika e chikungunya, doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti, o principal desafio é diagnosticar precocemente doenças com sintomas iniciais tão semelhantes. Na ausência de evidências epidemiológicas, como o quadro clínico do paciente ou epidemia local, o diagnóstico se torna mais inconclusivo ou insuficiente para a confirmação ou descarte de um caso. No caso da dengue, não existe tratamento específico. No entanto, a detecção precoce e o acesso a cuidados médicos adequados reduzem as taxas de mortalidade para abaixo de 1%. De acordo com o Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde, em 2021 o Brasil teve 544.460 casos prováveis de dengue, 96.288 de chikungunya e 6.483 de zika.
No novo projeto em desenvolvimento os exames moleculares utilizados serão do tipo PCR-LAMP, que tem a mesma qualidade que os exames RT-PCR, referência como padrão-ouro. Estes exames são capazes de detectar o RNA viral e foram ajustados para um dispositivo de exames laboratoriais remotos do tipo point-of-care, desenvolvido pela Hilab. O dispositivo faz a entrega remota de diagnósticos. Pequeno e portátil, o dispositivo cabe na palma da mão e funciona com o uso de kits individuais e transmissão de dados via Internet das Coisas (IoT).
Para que isto seja possível são necessários reagentes químicos que indiquem com precisão o diagnóstico no aparelho. “Vamos desenvolver no país os reagentes capazes de realizar reações do tipo RT-LAMP que irão permitir a detecção com mais sensibilidade do material genético de vírus” ”, explica Mario Bengtson, professor da Unicamp e coordenador do projeto na Unidade EMBRAPII-CQMED. “Os regentes para este tipo de diagnóstico já existem, entretanto, a importação de insumos ainda é um gargalo para a disseminação dos exames, tanto em termos de custos quanto de disponibilidade do reagente importado”, explica Katlin Massirer, pesquisadora do CQMED.
Para Carlos Eduardo Pereira, diretor de operações da EMBRAPII, a área de saúde teve sua importância estratégica evidenciada em função da pandemia. “O setor de saúde é um dos que mais demandam inovações apoiadas pela EMBRAPII e isso é muito relevante, pois desta forma podemos contribuir com a competitividade das empresas brasileiras que atuam neste segmento e com tecnologia nacional”, afirma Pereira. “Além disso, projetos como esse, que possibilitam exames laboratoriais remotos, impactam diretamente na vida das pessoas, sobretudo, àquelas que não podem se dirigir até os centros médicos”, complementa o diretor de operações.
Tassiele Heinrich, Gestora de Produção e Parcerias Científicas da Hilab, ressalta a importância de parcerias com universidades para fortalecer a pesquisa e a inovação na empresa. “Além de fomentar a ciência e melhorar o desenvolvimento de novos produtos tornando-os mais competitivos no mercado nacional, conseguimos atender às demandas da população e democratizar cada vez mais o acesso à saúde”, finaliza Heinrich.