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quinta-feira 18 de maio de 2023 às 09:30h

Vexame de Putin: míssil ‘invencível’ fracassa e cientistas são presos

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Os inimigos da liberdade e da democracia comemoraram quando a Rússia anunciou nesta quinta-feira (18) conforme  Vilma Gryzinski, da Veja, que havia destruído uma bateria de mísseis Patriot, o caríssimo e sofisticado escudo protetor que os Estados Unidos cederam à Ucrânia (a Alemanha deu uma segunda bateria).

Durou pouco a alegria – na verdade, foi atingido apenas um veículo do círculo antiaéreo que cerca cada um dos preciosos Patriot, sistema que funciona como um posto de comando com capacidade para localizar por radar e derrubar automaticamente mísseis inimigos com seus oito lançadores.

Mas esperem: tem mais notícias espetaculares. A Ucrânia não só derrubou os quase cem mísseis e drones que choveram sobre Kiev na noite de segunda-feira – talvez o maior feito de toda essa guerra –, como neutralizou seis mísseis Kinzhal, o foguete supersônico que tornava inúteis todas as baterias antiaéreas do planeta por causa de sua velocidade. E quem fez isso foi o não atingido Patriot, o mesmo sistema que protege Israel das chuvas de mísseis vindas de Gaza.

As adagas – o nome do míssil em russo – na verdade estão caindo metaforicamente sobre a cabeça de Vladimir Putin. O fracasso dos Kinzhal acabou revelando uma reação típica das antigas épocas mais sombrias da União Soviética: três cientistas que desenvolveram o míssil hipersônico foram presos ao longo do último ano e acusados de traição.

As acusações contra os cientistas, todos de um instituto de mecânica teórica e aplicada de Novosibirsk, são baseadas em argumentos puramente stalinistas: eles derem palestras no exterior, publicaram artigos em revistas científicas e participaram de projetos internacionais.

“Não só tememos pela sorte de nossos colegas, como simplesmente não sabemos como continuar nosso trabalho”, escreveram pesquisadores que trabalhavam com os presos. Anatoli Mastov e Alexander Shipliuk foram detidos no ano passado e Valeri Zgentisev, colocado em reclusão por uma decisão da justiça datada do último 7 de abril. Na carta, os cientistas defendem os colegas como “patriotas e pessoas decentes”, além de advertir que os participantes das pesquisas aerodinâmicas enfrentam a possibilidade de um declínio “rápido e irreversível” por falta de renovação dos quadros e da “continuidade interrompida”.

“Vimos o apelo, mas os serviços especiais estão cumprindo suas funções”, respondeu o porta-voz oficial do Kremlin, Dimitri Peskov.

A derrubada dos mísseis hipersônicos, que alcançam velocidade Mach 10, ou 12 250 quilômetros por hora (um avião comercial voa a 900), não apenas desmoraliza a “mãe de todos os mísseis” como põe em xeque a capacidade de ataque nuclear impossível de ser interceptado que dava uma enorme vantagem estratégica à Rússia. Mais ainda, o fiasco do Kinzhal levanta dúvidas sobre todo o maior arsenal nuclear do mundo, construído com a proeza científica que levou a antiga União Soviética a rivalizar com os Estados Unidos e até ultrapassá-los, em termos de tonelagem.

Fora do espectro nuclear, a grande vantagem da Rússia sobre a Ucrânia, além da superioridade numérica, é o arsenal de mísseis capazes de fazer a morte chover em qualquer lugar do país, sem possibilidade de reação. A nova onda de mísseis desfechada hoje contra várias cidades ucranianas é uma prova disso.

Mas agora, a defesa antiaérea, reforçada pelo treinamento fornecido pelos Estados Unidos e pelos Patriots, deu um inesperado e espetacular show na segunda-feira. A tranquilidade com que os russos atacavam a centenas e até milhares de quilômetros de distância foi seriamente afetada.

“Se fomos capazes de fazer isso, não existe nada de que não sejamos capazes”, comemorou o presidente Volodimir Zelenski. A chuva de mísseis deveria azedar o retorno de Zelenski ao país, depois de um giro europeu fazendo o que ele faz de melhor: pressionar, gentilmente, por mais e melhores armamentos, incluindo os caças de alta performance, como os F16, prêmio que até agora não conseguiu.

“É improvável que equipamentos topo de linha sejam empregados na Ucrânia para não permitir que sejam analisados por potenciais inimigos como Rússia e China”, disse o analista militar britânico Sean Bell, vice-marechal da reserva. Usando o mesmo raciocínio, ele afirmou que um míssil avançado como o Kinzhal agora está sendo estudado pelos Estados Unidos para entender suas vulnerabilidades.

Segundo ele, o uso do míssil hipersônico mostra que a Rússia está esgotando seu leque de opções e recorrendo a armamentos que teria preferido também manter escondidos.

O fiasco aéreo precedeu um ataque redobrado das forças russas contra a cidade de Bakhmut, que virou ponto de honra para os dois lados.

Os ataques russos tornaram-se mais urgentes depois que entraram em ação os mísseis Storm Shadow, fornecidos pela Grã-Bretanha. Os foguetes têm alcance de 300 quilômetros, capacitando-os assim a atingir depósitos de armas e quartéis para a rodízio de tropas na retaguarda dos territórios ucranianos ocupados. Todo o material bélico russo na Ucrânia, incluindo a Crimeia, está agora ao alcance dos Storm Shadow.

A guerra está longe de acabar e a Rússia tem recursos formidáveis. O fato de que estes sejam vulneráveis, somado aos múltiplos erros cometidos desde o início da invasão, abre uma pequena janela de oportunidade para a Ucrânia. Por causa disso, aumenta o clamor pela “paz” dos que torcem, nada secretamente, para a Rússia. O mais recente ator a entrar nessa arena foi o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, que se ofereceu para ir à Ucrânia como representante de uma liga de países africanos em favor de negociações de paz.

Os ucranianos já demonstraram que sabem muito bem como não deixar raposas estrangeiras tomar conta do galinheiro.

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