Após ser alvo de operação da Polícia Federal (PF), a cúpula do PL teve que mudar a rotina para se adaptar às medidas cautelares impostas pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que proibiu o contato entre os investigados desde o dia 8 de fevereiro.
O presidente da legenda, Valdemar Costa Neto, e o presidente de honra, Jair Bolsonaro, têm ido à sede da sigla, em Brasília, de forma alternada, diz Julia Lindner, do jornal Valor. Os dois são suspeitos de envolvimento em uma possível tentativa de golpe de Estado em 2022.
Segundo aliados de ambos, auxiliares têm ajudado a ajustar a rotina para que os dois não se cruzem. Há um receio do risco de prisão em caso de descumprimento da decisão de Moraes.
Nesta quinta-feira (29), por exemplo, Costa Neto deve ficar no partido pela manhã e viajar à tarde. Já Bolsonaro, que estava em São Paulo até essa quarta-feira (28), irá à sede do PL em Brasília apenas na parte da tarde. “Estão ajustando tudo, o partido não parou”, declarou um integrante da legenda ao Valor.
A maior reclamação dos membros do PL envolve a organização para as eleições municipais deste ano. Segundo relatos, Bolsonaro e Costa Neto costumavam manter conversas diárias sobre o assunto. Agora, as coordenações para o pleito funcionam por intermédio dos presidentes das executivas estaduais.
Nessa quarta, por exemplo, Costa Neto conduziu uma reunião com os representantes do partido nos Estados sem Bolsonaro. Ele também tem recebido parlamentares constantemente.
No fim de semana, embora tenha sido orientado a não comparecer ao ato de apoiadores do ex-presidente Bolsonaro na Avenida Paulista, em São Paulo, o dirigente fez questão de participar da manifestação.
Para não encontrar Bolsonaro, a solução foi chegar cerca de duas horas antes do início oficial do ato. Ainda assim, Costa Neto subiu no trio elétrico e discursou aos manifestantes. “Vocês transformaram o PL no maior partido do Brasil”, disse ele, na ocasião.
O deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), que acompanhou o presidente da sigla na chegada ao ato, classifica a decisão de Moraes como “descabida e desmedida”. Para o deputado, o fato de a restrição ter sido imposta em ano eleitoral é uma forma de “criar todo um embaraço e uma dificuldade” para o PL.
“Lógico que Valdemar gostaria de estar no evento [com Bolsonaro], só que não podia. É uma clara perseguição. Em que país democrático o presidente de um partido não pode ter contato com o presidente de honra?”, questionou Sóstenes ao Valor.
Outro alvo da operação da PF, o ex-ministro Walter Braga Netto, que teve o salário cortado por determinação de Costa Neto na última semana, pretende continuar auxiliando o partido nos bastidores. Apesar de ter sido demitido da função de secretário nacional de assuntos institucionais, ele segue filiado à legenda.
De acordo com alguns de seus correligionários, uma das possibilidades é que Braga Netto despache da sede do PL no Rio de Janeiro e ajude em candidaturas para as eleições do Estado. Em Brasília, por sua vez, ele poderia usar a sede do PL-DF.
O martelo sobre isso, no entanto, ainda não foi batido e dependerá do aval de Costa Neto.
Advogado do presidente do PL, Marcelo Bessa, não quis comentar detalhes do caso, mas garantiu que “as medidas cautelares estabelecidas pelo relator estão sendo rigorosamente cumpridas”.
No despacho de Moraes, ele determinou que “os investigados não poderão comunicar-se entre si, seja pessoalmente, seja por telefone, e-mail, cartas ou qualquer outro método, inclusive estando vedada a comunicação dos investigados realizada por intermédio de terceira pessoa”.