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sexta-feira 2 de agosto de 2024 às 18:23h

TSE já registrou mais de 3 mil pesquisas antes da campanha eleitoral

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A campanha eleitoral só começa no dia 5 de agosto, mas até a última segunda-feira (29) já haviam sido registradas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) 3.604 pesquisas segundo César Felício, do jornal Valor, para prefeito e vereador em todo o país. Somadas, tiveram valor declarado de R$ 35,2 milhões e envolveram 1,89 milhão de entrevistas, total ligeiramente superior ao eleitorado de Fortaleza, sexto maior colégio eleitoral do país.

O custo médio por entrevista, acordo com os dados do TSE, é de R$ 18,64, sendo que há levantamentos que gastam menos de R$ 10 por entrevistado. É um preço pelo menos cinco vezes menor do que o cobrado pelos maiores institutos.

A profusão de baixo custo tem relação direta com a reta final das convenções partidárias. “Essas pesquisas com preço abaixo de custo, irreais, são feitas para fazer crer que fulano ou sicrano são candidatos viáveis. Servem como fator de persuasão nas convenções, já que toda campanha no Brasil hoje é bancada pelas direções partidárias”, aposta João Francisco Meira, da Vox Populi de Belo Horizonte, integrante do Conselho Superior da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (Abep), que acredita que o manancial de pesquisas deve refluir quando o cenário afunilar e permanecerem na corrida apenas os candidatos oficiais.

Pesquisas com preços abaixo do custo, irreais, servem como fator de persuasão”
João Francisco Meira

O perfil de empresa de pesquisa que predomina é pequeno. “Trabalhamos sempre com quatro ou cinco pessoas. Um motorista que é coordenador, e mais três entrevistadores, ou um motorista, um coordenador e quatro entrevistadores. A gente prefere ganhar pouco com muita pesquisa do que muito com pouca. Cada entrevistador faz a coleta por um aplicativo no celular, não tem questionário no papel. Quando termina a coleta, já está pronta aqui no escritório”, comenta Ari Carlos Nascimento, da Seculus, de Salvador que cobra em torno de R$ 10 por entrevista. Nascimento tem em seu currículo ter sido secretário municipal em Jequié e “ser sócio de estatístico”.

A Seculus fez nada menos que 96 pesquisas este ano na Bahia, com 52 mil entrevistas, 10 delas com recursos próprios. Nascimento admite que usou um artifício para registrar os levantamentos. “Isso é mais uma filigrana da lei que nos obriga a fazer isso. Se eu faço para outro cliente, eu tenho que emitir nota fiscal e como às vezes o interessado pede a pesquisa em um sábado ou domingo, pra sair antes da convenção, pra divulgar na rádio dele ou rede social… Aí a gente aparece como contratante, para não emitir nota fiscal, mas é claro que depois cobramos o cliente, entendeu?”

De acordo com resolução do TSE, uma empresa de pesquisas pode registrar uma pesquisa como sendo de recursos próprios, desde que comprove ter recursos para isso, por meio de um documento específico. Como o valor declarado é muito baixo, não é muito difícil a comprovação da capacidade.

Deputados da Bahia possui verba para pesquisas

No começo do ano, a Seculus fez pesquisas “de interesse econômico ou social” para deputados estaduais da Bahia, que passaram a conta da pesquisa para os cofres públicos. “Os deputados estaduais têm uma verba indenizatória que tem que prever R$ 11,2 mil para cada pesquisa”, diz Nascimento. “Eles fazem e pagam com a verba indenizatória qualquer prospecção, faturado com limite por mês. Às vezes o deputado faz um pacote comigo, a quantidade de cidades que ele quer dá R$ 30 mil ou R$ 40 mil, e aí eu tenho caixa pra bancar um parcelamento para ele, entendeu?”. Esse modelo, segundo Nascimento, “existe faz tempo e só vem aumentando”.

A Procuradoria-Geral Eleitoral afirmou que cabe aos promotores eleitorais na primeira instância apurar eventuais irregulares e que o controle judicial prévio não é possível. O Tribunal Superior Eleitoral, também por meio da assessoria de imprensa, afirmou que “a análise do conteúdo desses registros pela Justiça Eleitoral somente será feita quando acionada pelas partes legitimadas, conforme aponta a resolução”. As partes, no caso, são candidatos, partidos e federações “Ao se tratar, especificamente, de pedido de fiscalização, verificação e impugnação das pesquisas eleitorais no âmbito das eleições municipais, as partes legitimadas devem direcionar seus requerimentos ao Juízo Eleitoral definido como competente pelo respectivo TRE”, diz a nota.

A febre pelas pesquisas não segue a distribuição dos eleitores do país. A maior concentração dos levantamentos está no Piauí, que tem 224 municípios. Lá houve registro de 430 sondagens, enquanto Minas Gerais, com 853 cidades, teve 183 pesquisas. Os dados atualizados estão disponíveis no site do TSE.

O alto consumo de pesquisas no Piauí tem relação direta com esse fenômeno. Segundo o cientista político Vitor Sandes, da Universidade Federal do Piauí, a competição política no Estado é naturalmente alta em razão da falta da prevalência de Teresina sobre o interior, onde a pulverização é enorme. Segundo dados do TSE, 22% do eleitorado do Piauí está na capital e 4% em Parnaíba. Outros 17% estão em 12 cidades que concentram de 1% a 2% do eleitorado. Os restantes 57% espalham-se por 210 municípios em que nenhum chega a 1% do total. Isso faz com que muitos recursos partidários sejam carreados para os grotões.

Há dois grupos estruturados disputando espaço no Estado inteiro, um nucleado pelo PT do ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias, e pelo governador Rafael Fonteles e outro que tem como principal referência o senador Ciro Nogueira (PP-PI). E não há meios de comunicação capilarizados fora das redes sociais. “Quando a gente escuta na capital que determinada pessoa é viável como candidato no interior isso significa que há uma pesquisa, e não de que se trata do parente de alguém ou de quem já foi prefeito ou vereador, como era antigamente”, comenta Sandes.

Em Minas Gerais, segundo Meira, da Vox Populi, não é tanto assim. “Existem vários núcleos que formam áreas de influência independentes; uma no Triângulo, outra na Zona da Mata, outra no Vale do Jequitinhonha e assim por diante. Os acordos políticos demoram a maturar e envolvem esse equilíbrio regional. É muito mais uma questão de acerto entre as lideranças do que de medição da opinião pública”, comenta.

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