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Simone Tebet em lançamento de pré-candidatura para 2022 - Foto: YouTube/MDB
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domingo 29 de maio de 2022 às 06:23h

Tebet tenta difícil missão de se viabilizar sem desagradar bolsonaristas e lulistas

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A senadora Simone Tebet (MDB-MS) costuma brincar conforme a Folha, que sua situação na corrida presidencial lembra um episódio do desenho Tom e Jerry. Nele, os gatos planejam ir para a guerra contra os ratinhos e estão todos perfilados, um ao lado do outro. Discretamente, no entanto, todos vão dando um passo para trás e, de repente, Tom se vê sozinho no combate.

Tebet foi chancelada na semana passada pelas direções de MDB e Cidadania como o nome para concorrer à Presidência da República pela chamada terceira via. Falta apenas o PSDB, a outra sigla remanescente no bloco, tomar sua decisão.

A senadora tornou-se, assim, a candidata que tenta chegar ao fim de um processo para se colocar como alternativa à polarização entre Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Ficaram pelo caminho nomes como o ex-juiz Sergio Moro (União Brasil), o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e o ex-governador João Doria (PSDB).

A própria cúpula do MDB, no entanto, reconhece que a candidatura de Tebet é até o momento puramente política. Falta agora o componente eleitoral, cabendo à senadora se mostrar competitiva e sair dos 2% das intenções de voto, segundo a mais recente pesquisa Datafolha.

O primeiro passo é tornar-se mais conhecida.

Simone Tebet nasceu em Três Lagoas, cidade do interior de Mato Grosso do Sul. De sua mãe, puxou o gosto pela literatura e a admiração pela poesia de Fernando Pessoa, Mário Quintana e Manoel de Barros.

A veia política veio através de seu pai, Ramez Tebet (1936-2006), que foi governador de Mato Grosso do Sul, ministro e presidente do Senado.

Foi pelas mãos dele que ela disputou seus primeiros cargos públicos. Advogada e professora universitária, preferia manter a sua carreira e trabalhar nos bastidores das campanhas do pai, mas foi convencida a se lançar ao cargo de deputada estadual.

O fato mais marcante do início da sua trajetória, no entanto, aconteceu ainda na metade do seu primeiro mandato. Seu pai insistiu para que largasse a Assembleia Legislativa para se tornar prefeita da cidade natal do clã, na divisa com o estado de São Paulo e a cerca de 330 km da capital Campo Grande.

Argumentava que a família tinha alcançado postos importantes no estado e no país, mas vinha sofrendo sucessivas derrotas em Três Lagoas.

Simone Tebet foi eleita, mas conta que seu pai não compareceu à diplomação porque descobriu que o câncer que enfrentou por décadas havia voltado. O político morreu antes da metade do seu primeiro mandato.

Seu secretário de Finanças na prefeitura, Walmir Arantes, lembra que o expediente naqueles anos tinha um turno-extra, que se dava à noite na casa de Simone Tebet.

“Ela levava os secretários para a casa dela, porque tinha filhas pequenas. Já passava o dia todo na prefeitura e ali dentro de casa poderia dar atenção a elas, ao mesmo tempo em que resolvia questões da cidade”, afirma.

Simone Tebet tornou-se depois vice-governadora, elegeu-se em 2014 para o Senado, assumiu o comando da prestigiosa CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) e chegou a disputar a presidência da Casa —a primeira mulher na história.

Apesar da sua projeção, Tebet tem rusgas com alguns correligionários e não tem boa relação com o MDB de seu estado. Por essa razão, líderes locais pouco se empenham em sua pré-campanha ao Palácio do Planalto.

As razões para o mal-estar são algumas. Pesam negativamente para emedebistas de Mato Grosso do Sul decisão tomada pela senadora, em 2018, de não concorrer ao governo estadual naquele ano, após o candidato André Puccinelli ser preso —apesar de ter sido vice-governadora dele.

Além disso, recentemente, seu marido, Eduardo Rocha, decidiu abandonar o mandato de deputado para ser secretário no governo do tucano Reinaldo Azambuja (PSDB), a quem o MDB faz oposição.

A senadora também bateu de frente com caciques do partido no Senado quando decidiu se lançar candidata à presidência da Casa em 2019, para enfrentar o correligionário Renan Calheiros (MDB-AL), mas retirou seu nome.

Disputou o cargo em 2021 e acabou abandonada pela maior parte da bancada emedebista e derrotada.

Depois ganhou destaque na CPI da Covid, ao arrancar informações de depoentes, investigar empresas e por enfrentar uma declaração machista do ministro Wagner Rosário (Controladoria Geral da União), que a chamou de descontrolada.

Mas o sucesso midiático da comissão não a tornou conhecida da maioria da população. Por isso alguns líderes do partido questionam a sua candidatura nos bastidores, embora poucos a critiquem abertamente.

Renan Calheiros, por exemplo, defende uma aproximação com o ex-presidente Lula.

À Folha o senador disse que tem grande apreço por Tebet, mas que a candidatura dela “não se justifica” por causa do desempenho nas pesquisas e que apenas seria possível um crescimento nas pesquisas com queda de Lula e Bolsonaro.

Estrategistas da campanha de Tebet afirmam que isso é possível, em particular em um segundo momento. A prioridade inicial é torná-la conhecida.

Mas a equipe afirma ter pesquisas que mostram ser possível a migração de 15% dos votos de Lula e 20% de Bolsonaro. Esse contingente estaria descontente com a sua escolha, mas não visualizaria alternativas atualmente.

Agradar os dois lados, no entanto, pode se configurar uma grande ginástica. Eleitores mais ligados ao PT certamente não esquecem o voto a favor do impeachment de Dilma Rousseff, em 2016, e o apoio à operação Lava Jato.

Ela também é ligada aos ruralistas e chegou a compartilhar algumas posições bolsonaristas sobre meio ambiente. Em audiência no Senado, por exemplo, disse que o “Ibama multa muito e multa mal”.

Do lado bolsonarista, a senadora tornou-se alvo de ataques por causa de sua atuação combativa na CPI da Covid.

A já pré-candidata Tebet também vem direcionado boa parte dos seus ataques ao presidente, criticando em particular a situação econômica do país e as falas antidemocráticas do chefe do Executivo.

A equipe de campanha, no entanto, afirma que a senadora não vai moldar suas posições nem ficar em cima do muro para obter votos dos dois polos.

“Não tem assunto proibido na candidatura da Simone. Com nenhum assunto ela vai tergiversar. As respostas podem não ser simplistas, pode exigir uma sofisticação, mas não há tema proibido”, afirma o estrategista da campanha Felipe Soutello.

Emedebistas contrários à sua candidatura, no entanto, apontam que ela tem dito muitos “mas”. É contrária ao aborto, mas defende que seja necessário ouvir a sociedade. Antes lavajatista convicta, segue reconhecendo os méritos da operação, mas não nega ter havido excessos.

Um dos votos de bolsonaristas e lulistas que pretende conquistar é o da mulheres. Na primeira entrevista após sua confirmação, disse que atualmente “mulher vota em mulher”.

Sua equipe aposta que ter uma candidata mulher será um dos grandes diferenciais na campanha, ainda mais em um clima eleitoral de beligerância, de ataques e grosserias.

Ou seja, eleitoralmente, ela precisa que as mulheres a mantenham na corrida. Politicamente, busca evitar que homens de seu partido a abandonem novamente. ​

A candidatura de Tebet será confirmada ou não no período das convenções partidárias, que vão de 20 de julho a 5 de agosto.

Até lá também haverá uma decisão sobre se o PSDB irá embarcar em sua candidatura. Após a queda da pretensão do ex-governador João Doria, os tucanos continuam divididos sobre os rumos na eleição presidencial.

RAIO-X

Simone Nassar Tebet

  • 52 anos
  • Pré-candidata à presidência da República pelo MDB
  • Formada em direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, foi professora universitária
  • Prefeita de Três Lagoas (MS), deputada estadual, vice-governadora e atualmente exerce seu primeiro mandato no Senado.
  • Foi presidente da Comissão de Constituição e Justiça, líder da bancada feminina e a primeira mulher da história a disputar a presidência da Casa

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