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sábado 12 de agosto de 2023 às 16:55h

Respiração lenta pode ajudar a prevenir Alzheimer, diz estudo

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Praticar regularmente uma respiração mais lenta e controlada pode servir como proteção contra a doença de Alzheimer. É o que aponta uma pesquisa publicada no portal global de divulgação científica “Scientific Reports”, ligado à revista “Nature”.

O estudo, realizado com 108 pessoas e conduzido por 13 cientistas, a maioria da Universidade do Sul da Califórnia (USC), nos Estados Unidos, mediu biomarcadores no plasma sanguíneo, associados a um risco maior de desenvolver a doença.

Metade dos voluntários foi instruída a se imaginar em um ambiente calmo, ouvindo sons relaxantes e de olhos fechados, em um quadro que se assemelha à meditação mindfulness.

Cientistas observaram que exercícios respiratórios destinados a aumentar a variabilidade da frequência cardíaca – com uma respiração mais lenta e profunda – diminuíram os níveis de beta-amiloide, proteína relacionada à doença de Alzheimer — Foto: Pexels

O objetivo, segundo os autores, era diminuir as oscilações da frequência cardíaca, com um ritmo de batidas mais estável e consistente.

A outra parte do grupo seguiu um exercício de respiração monitorado por computador – quando uma figura quadrada “subia” na tela do monitor ao longo de cinco segundos, eles inalavam e, quando o desenho “descia”, no mesmo intervalo de tempo, exalavam.

Os estudiosos verificaram que a respiração mais lenta e profunda aumentava as oscilações da frequência cardíaca – tornando o intervalo de tempo entre as batidas do coração mais variável.

Os dois grupos praticaram a técnica duas vezes ao dia, por 20 a 40 minutos cada vez, durante cinco semanas.

Exames na mesa

Ao analisar as amostras de sangue dos participantes após quatro semanas de prática, os resultados foram surpreendentes, segundo Mara Mather, professora de gerontologia, psicologia e engenharia biomédica da USC, uma das autoras do experimento, durante a apresentação do trabalho.

Os exercícios respiratórios destinados a aumentar a variabilidade da frequência cardíaca – com uma respiração mais lenta e profunda – diminuíram os níveis de beta-amiloide, de acordo com a especialista. Já os movimentos que reduziram a variabilidade da frequência cardíaca aumentaram esses indicadores.

Mather destacou que embora nenhuma causa única e definitiva foi identificada por causar o Alzheimer, a ciência já descobriu que aglomerados de proteína beta-amiloide, conhecidas como “placas”, são uma das principais características dos portadores da doença. “Certos tipos dessa proteína podem ser particularmente nocivos quando se aglomeram dentro das células cerebrais, causando danos que afetam sua função normal”, disse.

Um dos destaques da análise é que o impacto positivo da respiração lenta nos beta-amiloides não foi registrado apenas entre adultos mais velhos ou suscetíveis a níveis mais altos da proteína, mas entre homens e mulheres mais jovens, entre 25 e 65 anos.

Em adultos saudáveis, níveis plasmáticos mais baixos de beta-amiloide estão associados a um risco menor de contrair a doença de Alzheimer com o passar dos anos, explicou.
Mais estudos no horizonte

É importante lembrar que a pesquisa não comparou diferentes técnicas de respiração – para identificar o padrão mais eficaz – e não foi replicada em um número maior de indivíduos, a fim de confirmar se há efeitos significativos de longo prazo. Há dúvidas também se técnicas de respiração podem ser comparadas a tratamentos com remédios.

O estudo segue a mesma linha apresentada por outros cientistas, que defendem os benefícios dos exercícios respiratórios para o bem-estar. Pesquisas anteriores revelaram que a respiração “consciente” pode reduzir a pressão arterial em hipertensos, ajuda a aliviar os sintomas da ansiedade e tem poder de reduzir a insônia.

Prática regular

Os pesquisadores sustentam que, independentemente da técnica utilizada, a prática regular de uma respiração lenta e pausada parece beneficiar a maioria das pessoas.

Um dos exercícios recomendados é:

  • Inspire lentamente, concentrando-se em expandir os pulmões, contando até cinco.
  • Expire, lentamente, também contando até cinco.
  • Siga a mesma prática por 20 minutos, quatro ou cinco vezes por semana.

Mudança de comportamento

O Alzheimer é uma doença neurodegenerativa, progressiva e ainda sem cura que afeta, majoritariamente, pessoas acima de 65 anos. É marcada por dois processos principais no organismo.

No primeiro, há um acúmulo da proteína beta-amiloide nos “espaços” entre os neurônios. Depois, essas células nervosas são afetadas por outra proteína, conhecida como TAU. O resultado, segundo especialistas, é a “morte” dos neurônios, o que leva ao surgimento de sintomas como esquecimentos, mudança de comportamento e dificuldade de raciocínio.

No Brasil, cerca de 1,2 milhão de pessoas vivem com alguma forma de demência e 100 mil novos casos são diagnosticados por ano, segundo dados do Ministério da Saúde – no mundo, esse número alcança 50 milhões de indivíduos.

Segundo estimativas da Alzheimer’s Disease International, federação global que reúne associações ligadas ao acompanhamento da doença, os afetados podem chegar a 74,7 milhões em 2030 e a 131,5 milhões de indivíduos em 2050, devido ao envelhecimento e crescimento da população. O cenário, conforme a entidade, caracteriza uma crise global de saúde que deve ser enfrentada.

Memória em risco

De acordo com Eli Faria Evaristo, médico neurologista do corpo clínico do Hospital Sírio-Libanês, a doença de Alzheimer pode causar alterações em aspectos cognitivos e comportamentais. “Muitas vezes, essas alterações se apresentam de maneira progressiva, geralmente começando com mudanças no aspecto cognitivo, particularmente a memória recente”, diz.

Nesse caso, continua o especialista, o paciente costuma ter dificuldade em lembrar de assuntos que conversou há pouco tempo, o que comeu ou os pagamentos que fez. “É mais raro ter, no período inicial da doença, alterações de memória mais antiga, que costuma permanecer ‘boa’ por mais tempo.”

Além da questão da memória, outros quadros podem ocorrer, como modificações na percepção espacial – como dificuldade de identificar trajetos ou ambientes dentro da própria casa – em situações mais avançadas da doença, destaca.

Evaristo chama a atenção também para reflexos na linguagem, como um entrave maior para encontrar palavras, se expressar e um vocabulário reduzido.

Suspeita e diagnóstico

Outras questões podem surgir de maneira associada, diz o médico, em alterações comportamentais, como agressividade, irritabilidade e mudanças no padrão de sono. “São aspectos secundários que vão aparecendo durante a evolução [da doença]”, diz. “E, habitualmente, não são os primeiros sintomas.”

A suspeita do diagnóstico de uma demência associada ao Alzheimer é uma suposição, antes de tudo, clínica, avisa. É baseada em características conhecidas, principalmente relativas à memória, diz. “Quando existe a suspeita, alguns exames podem auxiliar.”

As análises podem incluir exames de imagem – lembrando que alterações em testes de ressonância magnética não são muito especificas no caso de suspeita de Alzheimer – e a cintilografia, conhecida como “PET cerebral” com glicose, que pode revelar mudanças no metabolismo do cérebro.

“Hoje, em situações bem específicas, também dispomos do PET cerebral para a avaliação da proteína beta-amiloide, um exame de cintilografia com marcadores que se ligam à proteína”, detalha. “No caso de Alzheimer, há um acúmulo dessa proteína.”

Estratégias de tratamento

Diante do diagnóstico confirmado da demência relacionada ao Alzheimer, algumas estratégias de tratamento são instituídas, explica o especialista. “Entre elas, remédios que podem ajudar na melhora do desempenho cognitivo e comportamental e, eventualmente, agem para que a memória tenha uma performance melhor”, afirma.

Não são medicações que atuam na doença ou mudam o processo degenerativo, mas auxiliam no desempenho cognitivo por um tempo, ressalta.

Recentemente, lembra Evaristo, foi aprovado um novo medicamento nos Estados Unidos que promove um “clareamento” do tecido cerebral, com a redução do acúmulo da proteína nociva. “É o começo de uma nova estratégia de tratamento, mas o impacto no resultado terapêutico ainda é pequeno.”

O neurologista orienta que todo caso suspeito, quando ocorrem queixas sobre a falta de memória, precisa ser avaliado por um médico. “Problemas de memória não são apenas relacionadas ao Alzheimer e podem estar ligados a outros quadros, com tratamentos mais diretos”, explica.

“Às vezes, as pessoas consideram que doenças degenerativas não têm solução e não recorrem à ajuda médica, quando as causas [dos problemas] podem ser diferentes e de tratamento mais efetivo, como alterações hormonais, vitamínicas, inflamatórias e autoimunes.”

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