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segunda-feira 25 de setembro de 2023 às 15:58h

Produtividade do trabalho no Brasil cresce por 2 trimestres após 7 quedas

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A produtividade do trabalho no Brasil cresceu pela segunda vez seguida no segundo trimestre de 2023, desta vez influenciada não só pela agricultura, mas também por indústria e serviços. Se for excluído o ano de 2020, quando a evolução do indicador foi influenciada pela pandemia, esta foi a primeira vez com dois trimestres consecutivos de expansão desde 2017.

No segundo trimestre, o indicador de produtividade calculada pela comparação do valor adicionado com as horas efetivamente trabalhadas teve alta de 2,6% em relação ao mesmo período de 2022, segundo as informações antecipadas ao Valor pelo Observatório da Produtividade Regis Bonelli, do Instituto Brasileiro de Economia (FGV Ibre). No primeiro trimestre, houve expansão de 1,3% nessa base de comparação. Variável próxima do PIB, o valor adicionado exclui impostos e subsídios.

Antes disso, foram sete trimestres seguidos de recuos nessa medida de produtividade do trabalho. Ao longo desse período, no entanto, o ritmo de queda foi reduzindo trimestre a trimestre. No ano de 2020, a produtividade avançou, mas por uma particularidade da pandemia. Naquele momento, o mercado de trabalho perdeu de forma mais intensa os trabalhadores menos produtivos, como os informais, e reteve aqueles mais produtivos, alterando a tendência de redução da produtividade observada antes da crise sanitária. Além disso, houve queda nas horas efetivamente trabalhadas no começo da pandemia, devido às medidas de restrição à mobilidade social, para combater a covid-19.
Com o desempenho do segundo trimestre, o nível da produtividade está 2,3% acima do quarto trimestre de 2019, apontado como o marco do pré-pandemia. “Já são dois trimestres seguidos de crescimento. Não chega a ser motivo para muita euforia, mas é positivo. Não deixa de ser uma novidade”, afirma Fernando Veloso, coordenador do Observatório junto com Silvia Matos, que também assina o estudo, além dos pesquisadores Fernando de Holanda Barbosa Filho, Paulo Peruchetti, Janaína Feijó e Ana Paula Ruhe.

Vejo claramente o impacto defasado da reforma trabalhista” Fernando de Holanda
— Barbosa Filho

Na passagem entre o primeiro e o segundo trimestres, houve uma mudança na composição entre os setores que contribuem para a expansão da produtividade, destacam os pesquisadores. Se for excluída a agropecuária, a produtividade do trabalho no segundo trimestre teve alta de 0,8% em relação ao mesmo período de 2022. É um número inferior aos 2,6% do resultado agregado, mas ainda no terreno positivo. No primeiro trimestre, ao excluir a agropecuária, o indicador teve recuo de 0,8%.

“Olhando o desempenho por setores, a agropecuária teve dois trimestres de crescimento muito forte da produtividade, acima de 20%, mas no segundo trimestre os outros setores também cresceram um pouco, como indústria e serviços. Sem dúvida o agro foi bastante importante, mas os outros tiveram uma pequena colaboração”, diz o economista.

A produtividade efetiva da agropecuária avançou 23,5% no primeiro trimestre e 21,5% no segundo trimestre, considerando a comparação com igual trimestre de 2022. Na indústria, as taxas de crescimento são bem menos intensas, de 0,6% e 3%, respectivamente. Já os serviços saíram do terreno negativo, com variação de 0,3% no segundo trimestre, após queda de 1,1% no primeiro trimestre.

Dentro da indústria, há segmentos com expansão ainda maior da produtividade, como é o caso de serviços industriais de utilidade pública (SIUP) – que englobam atividades como geração e distribuição de energia e fornecimento de gás, por exemplo -, com alta de 9,7% no segundo trimestre, ante igual período de 2022. A construção (4,8%) e a indústria extrativa mineral (3,8%) também crescem acima da média da indústria, que é pressionada para baixo pela indústria de transformação (-2,1%).

Nesse contexto, Silvia Matos cita o desempenho de segmentos ligados a commodities, como a indústria extrativa e a produção de energia, em SIUP. “Temos visto um efeito positivo de alguns setores no segundo trimestre, e é um dado importante. São setores que podem estar se beneficiando dessas mudanças tecnológicas, mas também de uso de novas formas de produção, como é o caso da construção. É um setor que geralmente é intensivo em trabalho e tem baixa produtividade, então é um excelente resultado”, diz a economista.

Por trás dessa mudança de trajetória da produtividade, os pesquisadores acreditam que há influência do crescimento mais expressivo do mercado de trabalho formal que do informal na esteira da recuperação da pandemia e também da reforma trabalhista, além do aumento da escolaridade.

Em julho de 2023, as ocupações formais estavam 8,7% acima do período pré-pandemia, enquanto as ocupações informais estavam 1,7% acima. Entre os trabalhadores formais, o maior ritmo de crescimento é o dos trabalhadores por conta própria com CNPJ, que muitas vezes é um microempreendedor individual (MEI). O nível de emprego dessa categoria está 15% acima do pré-pandemia, enquanto entre os trabalhadores com carteira de trabalho assinada no setor privado está 9,9% acima daquele momento.

Os pesquisadores ponderam que o contingente de trabalhadores com carteira é maior – 37 milhões de pessoas no trimestre até julho – e tem maior peso que o grupo dos conta própria com CNPJ – de 6,2 milhões. Esse crescimento mais forte, no entanto, contribui para o resultado geral da formalização, diz Veloso.

“Depois da recessão de 2015/2016 e antes da pandemia, o mercado de trabalho estava muito informal, o que era ruim para a produtividade. E agora há alguns sinais de que isso pode estar mudando. Isso sem dúvida é bom, dá um pouco mais de confiança”, afirma o economista.

Para o pesquisador Fernando de Holanda Barbosa Filho, essa dinâmica mais formal do trabalho reflete a reforma trabalhista. “Vejo claramente o impacto defasado da reforma trabalhista. Essa dinâmica mais formal demorou a aparecer, é verdade, mas de 2014 até agora o setor formal só aparecia demitindo. Desde a saída da pandemia está contratando sistematicamente”, avalia.

Veloso mostra cautela sobre a possível continuidade desse crescimento da produtividade do trabalho. “Não se sabe se essa novidade vai continuar, se essa dinâmica resiste à desaceleração da economia que é esperada, então é preciso certo cuidado. Mas é uma mudança de destaque frente ao que vinha acontecendo”, diz o economista.

Ainda assim, aponta que o ritmo de queda da produtividade já vinha desacelerando antes de voltar para o terreno positivo, “o que dá certa confiança de que a dinâmica da produtividade do trabalho esteja melhor do que antes”.

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