Levantamento feito pelo UOL aponta que 60% das agendas dos candidatos mais bem posicionados nas pesquisas ocorreram na região Sudeste (veja abaixo). Foram considerados eventos de campanha divulgados pelas equipes dos presidenciáveis até o início da tarde de sexta-feira (16).
De 151 eventos contabilizados pelo UOL, 44 ocorreram na cidade de São Paulo. Ciro Gomes e Lula foram os candidatos que mais fizeram campanha na capital paulista —os dois participaram de 15 eventos de campanha na cidade. Tebet teve 11 compromissos no município e Bolsonaro, três.
“O maior colégio eleitoral do Brasil é São Paulo, é natural que a atenção dos presidenciáveis e candidatos se volte para o estado e mais especificamente para a região metropolitana”, avalia Vera Chaia, cientista política e professora da PUC-SP.
A cidade de São Paulo tem 9,3 milhões de eleitores registrados —5,95% do total nacional. Do total de eventos de campanha presidencial avaliados pelo UOL, 29% foram na cidade de São Paulo.
Estado de SP é o que mais recebe presidenciáveis. Levando em consideração os estados, no período analisado, foram:
- 61 eventos de campanha no estado de São Paulo,
- 16 no Rio de Janeiro,
- 13 no Distrito Federal e
- 12 em Minas Gerais.
O Sudeste tem a maior parte dos eleitores brasileiros —quatro entre dez eleitores no país são desta região. Isso não foi ignorado pelos presidenciáveis numa campanha de apenas 46 dias de duração. O primeiro turno ocorre daqui a duas semanas, em 2 de outubro.
Em 2022, o eleitorado é dividido da seguinte forma no território nacional:
- Norte: 8,03%
- Nordeste: 27,11%
- Centro-Oeste: 7,38%
- Sudeste: 42,64%
- Sul: 14,42%
O Sudeste concentra os principais colégios eleitorais do país e é onde se decide efetivamente os vencedores das eleições, especialmente em Minas Gerais e São Paulo.”
Luciana Santana, cientista política da UFAL (Universidade Federal de Alagoas)
Não são apenas os presidenciáveis. Chaia observa que outros políticos sem ligação com São Paulo escolheram o estado para lançar suas respectivas candidaturas à Câmara: os ex-deputados federais Eduardo Cunha e Cristiane Brasil (ambos do PTB e eleitos anteriormente pelo Rio de Janeiro); a ex-ministra Marina Silva (Rede), nascida no Acre; e Rosângela Moro (União Brasil), mulher do ex-juiz Sergio Moro e nascida no Paraná.
“A mesma coisa acontece com o Tarcísio de Freitas [do Republicanos, candidato ao governo de São Paulo], que é do Rio [de Janeiro] e registrou o domicílio eleitoral na casa de um irmão que vive em São José dos Campos”, acrescenta.
Campanha reduzida amplia apelo ao Sudeste. A campanha oficial deste ano é a menor desde 1994.
Desde as eleições passadas, o período de campanha foi reduzido para que se criasse a pré-campanha —a diferença entre as duas é que na pré-campanha não se pode pedir votos.
Santana ressalta que o pouco tempo de campanha oficial restringe a ida dos presidenciáveis a locais onde há maior concentração de eleitores por uma questão de praticidade.
“Especialmente no caso de candidatos sem fidelidade partidária, como o presidente Jair Bolsonaro, que precisa fazer com que o eleitor entenda que o número dele não é mais 17, e sim 22”, diz.
Conhecimento. Candidatos pouco conhecidos pelo público médio, como a senadora Simone Tebet, também correm contra o tempo para se mostrar e apresentar propostas. Entre os quatro presidenciáveis que tiveram as agendas levantadas pelo UOL, ela é a que mais visitou cidades diferentes:
- Simone Tebet: 27 cidades visitadas
- Ciro Gomes: 25 cidades visitadas
- Jair Bolsonaro: 19 cidades visitadas
- Lula: 11 cidades visitadas
“Por ser uma eleição estadual e federal, o diálogo com o eleitor é mais difícil. Há maior dificuldade das campanhas para realizar deslocamentos até chegar nas bases eleitorais. Isso demanda mais estratégias de comunicação para chegar ao eleitor, que é muito diverso e heterogêneo”, diz Luciana Santana.
Eventos oficiais ou de campanha? Há pelo menos dez situações que misturam compromissos de Bolsonaro enquanto chefe do Executivo e eventos de campanha como candidato à reeleição.
Todos os itens listados abaixo constam nas duas agendas —a de presidente e a de candidato:
- 18/8: Visita ao parque tecnológico de São José dos Campos (SP);
- 19/8: Motociata em Belo Horizonte durante ida à cidade para participar da solenidade de inauguração do TRF-6 (Tribunal Regional Federal da 6ª Região);
- 20/8: Participação de cerimônia na AMAN (Academia Militar das Agulhas Negras) em Resende (RJ);
- 23/8: Participação do Congresso Aço Brasil em São Paulo;
- 23/8: Solenidade de chegada do coração de D. Pedro 1º em Brasília;
- 25/8: Cerimônia de Dia do Soldado em Brasília;
- 26/8: Festa do Peão em Barretos (SP);
- 2/9: Participação da Expointer em Esteio (RS);
- 7/9: Dois eventos, um em Brasília e outro no Rio de Janeiro, em celebração aos 200 anos da independência da República; o presidente convocou a militância durante semanas e utilizou a ocasião como um grande comício eleitoral.
A campanha de Bolsonaro argumenta que há diferença entre o que é ato institucional e ato eleitoral. No entanto, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) vetou o uso de imagens dos eventos de 7 de setembro na campanha do chefe do Executivo. Segundo o ministro Benedito Gonçalves, o uso da máquina pública —em especial a veiculação das manifestações pela TV Brasil— fere o princípio de igualdade entre os candidatos.