Enquanto líderes mundiais condenam a recente ofensiva aérea, grande parte do povo iraniano tampouco parece apoiar o comportamento agressivo de seu governo e Forças Armadas, e teme as consequências de uma escalada. Analistas que monitoram os desdobramentos no Irã manifestaram preocupação com a potencial reação de Israel às ofensivas aéreas da noite de sábado (13), advertindo que ambos os lados poderiam rapidamente desencadear uma sequência de represálias perigosa.
O general Hossein Salami, comandante da poderosa Guarda Revolucionária do Irã, comentou na TV estatal que seu país adotara uma “nova equação”, em que qualquer ataque israelense a seus “interesses, bens, autoridades ou cidadãos será respondido a partir de seu próprio território”.
Por sua vez, o chefe do Estado-maior das Forças Armadas, Mohammad Hossein Bagheri, advertiu que a reação do Irã “será muito mais ampla do que a operação militar desta noite, se Israel retaliar”.
Como se para sublinhar a posição governamental, um mural foi inaugurado à noite na Praça Palestina da capital Teerã, com a inscrição “O próximo tapa será mais forte” em persa e hebraico.
“Sentimento anti-Israel no DNA da República Islâmica”
O jornalista iraniano Hamed Mohammadi, residente em Berlim, comenta que o Irã está apostando em meios militares para demonstrar sua força, depois do atentado letal de 1º de abril a seu consulado em Damasco, que atribui a forças israelenses.
“O sentimento anti-Israel está no DNA da República Islâmica. Com essa abordagem, o nível de conflito na região sofreu um incremento. A escalada recente marca uma nova fase, efetivamente dando luz verde a Israel para adotar ações mais agressivas, mesmo em território iraniano.”
Entre a população iraniana em geral, contudo, muitos parecem preocupados com a ameaça de escalada do conflito, e preparam-se para potenciais ofensivas israelenses contra cidades.
No domingo, o departamento persa da DW registrou diversas postagens nas redes sociais, mostrando longas filas em postos de gasolina, em antecipação a uma alta súbita dos preços do combustível. Nos supermercados, é grande a demanda de alimentos essenciais, como arroz e pão. A moeda nacional, o rial, apresentou breve recorde negativo em relação ao dólar americano, segundo o website de monitoração de cotação monetária Bonbast.
Incerteza quanto ao futuro
O escritor e analista de assuntos iranianos Soroush Mozaffar Moghadam, que foi forçado a deixar o país após o início dos protestos antigoverno em 2022, conta que compatriotas que contatou durante horas após o ataque se mostravam confusos, temerosos, ansiosos e hesitantes.
“Entre aqueles com que falei, as apreensões predominantes eram as consequências de um ataque israelense contra o Irã, pessimismo em relação ao futuro e incerteza.” Ele está convencido que a maioria não apoia as políticas oficiais da República Islâmica, mas sente-se impotente para provocar uma mudança.
“Um indivíduo com que falei, um rapaz, frisou que não vê perspectivas para o próprio futuro, e acredita que a maioria do povo não é capaz de afetar o comportamento agressivo do governo”, relatou Moghadam.