Respaldado por decisão da ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF), o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), deve ficar em silêncio nesta terça-feira (11) na CPMI dos atos golpistas.
O depoimento é um dos mais aguardados por governistas da comissão. Na avaliação de parlamentares da base do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), respostas do militar sobre atos preparatórios para os ataques do dia 8 de janeiro têm grande potencial para comprometer Bolsonaro.
Segundo João Valadares, Caetano Tonet, Luísa Martins e Isadora Peron, do jornal Valor, apuraram que, a avaliação da defesa de Mauro Cid é de que responder aos questionamentos dos parlamentares não terá efeito prático nas investigações que o militar enfrenta na Justiça.
Mesmo que Mauro Cid fique em silêncio durante a sessão da CPMI, governistas pretendem usar todo o tempo disponível para fazer perguntas e gerar constrangimento ao investigado.
Há dez dias, o militar prestou depoimento de quatro horas na sede da Polícia Federal, em Brasília, sobre os atos golpistas do dia 8 de janeiro, que resultou em depredação das sedes dos três Poderes.
No celular do ex-auxiliar de Bolsonaro, a Polícia Federal encontrou troca de mensagens com teor golpista. Os diálogos descobertos tinham como interlocutores o ex-major do Exército Ailton Barros e o coronel da ativa Jean Lawand.
Foi também no aparelho telefônico de Cid que policiais federais descobriram um documento com uma espécie de roteiro a ser seguido para evitar a posse do presidente Lula.
Ele está preso desde o início de maio sob suspeita de participar de um esquema de fraude em cartões de vacina contra a covid-19.
Segundo as investigações, as informações falsas que comprovariam a aplicação de vacinas no ex-presidente, na sua filha, Laura, no ex-assessor e em familiares, teriam sido inseridas no sistema do Ministério da Saúde e apagadas logo depois para gerar um certificado que seria utilizado em viagens internacionais.
Em maio, Cid ficou em silêncio quando questionado por policiais federais sobre esquema de fraude em certificados de vacinação.
Depois do depoimento de Mauro Cid na CPMI, o presidente da CPMI, deputado Arthur Maia (União-BA), deve colocar em votação requerimentos de convocação do major do Exército José Eduardo Natale de Paula Pereira e de um fotógrafo que fazia a cobertura dos atos golpistas. Sem provas, a ala bolsonarista do colegiado insiste na tese de que o profissional era um infiltrado e que estaria dentro do Palácio do Planalto antes da invasão.
Já o major José Eduardo Natale de Paula Pereira aparece em vídeos oferecendo água aos invasores. Ele integrava o quadro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República.
Na quarta-feira, Bolsonaro vai prestar um novo depoimento à Polícia Federal (PF). Desta vez, a oitiva faz parte da investigação que apura uma suposta articulação golpista feita pelo senador Marcos do Val (Podemos-ES).
O inquérito contra o parlamentar foi aberto em fevereiro pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Em junho, também a mando do ministro, a PF cumpriu mandados de busca e apreensão em endereços ligados ao senador.
Marcos do Val é investigado por supostamente tramar, junto ao ex-deputado Daniel Silveira, um plano para anular as eleições de 2022. Está em apuração se ambos discutiram a conspiração com Bolsonaro, que à época ainda era presidente. Do Val chegou a dar entrevista sobre o caso em tom de denúncia, mas deu diversas informações desencontradas e passou a ser investigado.