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domingo 5 de junho de 2022 às 16:10h

Lula antevê o próprio fiasco ao condicionar mudanças à derrota do centrão

NOTÍCIAS, POLÍTICA


Segundo Josias de Souza, colunista do UOL, Lula condicionou conforme discurso para correligionários e ambientalistas, o sucesso do seu hipotético futuro governo à derrota da “bancada do orçamento secreto” nas urnas de 2022. “É impossível imaginar que a gente vai fazer as mudanças que a gente precisa fazer se a gente não eleger um presidente e, junto desse presidente, senadores de melhor qualidade e deputados de melhor qualidade”, disse ele. O raciocínio se parece mais com um álibi para futuras frustrações do que com solução.

Toda campanha eleitoral tem um quê de teatro. Mas Lula exagera na teatralização. Sabe que o tônico das verbas federais secretas tende a fortalecer a bancada fisiológica no Congresso, não o contrário. Ao escorar o sucesso de um futuro governo petista numa alteração da correlação de forças no Legislativo, Lula como que estimula o centrão a levar Ivete Sangalo à vitrola: “Vai rolar a festa. Ah, vai rolar!”.

Na campanha de 2018, Bolsonaro prevaleceu chutando o rebotalho do centrão, que Lula havia cooptado na base do mensalão e do petrolão. Ironicamente, o capitão agradeceu a Geraldo Alckmin, então presidenciável do PSDB, por ter abrigado a maioria dos partidos do centrão na sua coligação. “Obrigado, Geraldo Alckmin, por ter unido a escória da política brasileira”, declarou Bolsonaro na época.

Sob Bolsonaro, o Congresso consolidou-se como templo de um sistema de governo que gira em torno de privilégios, verbas e empregos. Num eventual governo Lula, o país será heptacampeão em fisiologia. Tancredo Neves teve a ventura de morrer antes de pôr em prática as armadilhas que teve de engendrar para ser eleito presidente no colégio eleitoral pós-ditadura.

José Sarney, o vice que a Nova República importou da velha, honrou todos os compromissos de Tancredo ao assumir o Planalto. Fernando Collor achou que poderia desalojar os larápios alheios para abrigar os seus próprios operadores. Foi deposto.

Fernando Henrique Cardoso vestiu o fisiologismo com traje intelectual, situando a barganha em em algum lugar entre as duas éticas de Max Weber, a da convicção e a da responsabilidade.

Imaginou-se que Lula restauraria a moralidade ao assumir o Planalto em 2003. Mas a divindade petista preferiu sair da história para cair na vida. Deu no mensalão. Reeleito, Lula colocou para rodar o petrolão. Deixou para Dilma Rousseff um legado de perversão que ajudou a engrossar o caldo do impeachment.

O calor de urnas recém-abertas costuma conferir ao eleito uma aparência de super-homem. O fenômeno deve se repetir em outubro. Entretanto, ao descer das nuvens da consagração para o chão escorregadio do dia-a-dia administrativo, o novo presidente descobre que seu poder tende a se dissipar nos desvãos da imensa máquina do Estado.

Em poucos meses, o eleito se vê como que governado pelas circunstâncias, diz Segundo Josias de Souza, do UOL. Sarney disse, certa vez, que “o presidente é como um dom José 1º, acampado no Palácio de Belém, em meio ao terremoto de Lisboa”. Um terremoto que será amplificado em 2023 pela herança maldita que Bolsonaro deixará para Lula. Ou para si mesmo, caso seu populismo produza uma virada nas urnas eletrônicas .

Com o orçamento secreto, Bolsonaro institucionalizou o mensalão e o petrolão. Agora, o governo compra apoio legislativo com uma espécie de PIX orçamentário gerido diretamente pelo centrão, sem intermediários. A bandalheira deixou de ser percebida como parte do sistema. Passou a ser vista como o próprio sistema.

A perversão orçamentária está tão integrada ao cenário do Congresso quanto as curvas da arquitetura de Niemeyer. Favorito na disputa do posto de novo gerente do velho condomínio de interesses, Lula terá que apresentar muito mais do que meras bravatas eleitorais para injetar algum recato no teatro da política. Do contrário, vai continuar rolando a festa.

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