quinta-feira 5 de dezembro de 2024
Integração lavoura-pecuária-floresta, bioanálise do solo, serviços ambientais e ecossistêmicos e trigo tropical foram as tecnologias apresentadas à comitiva - Foto: Divulgação
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quarta-feira 22 de maio de 2024 às 09:52h

Líderes da pesquisa agropecuária do G20 vão a campo conhecer tecnologias brasileiras

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A visita técnica à Unidade de Referência de Tecnologia da Embrapa Cerrados, na sexta-feira (17/5), marcou o encerramento de três dias do evento organizado pela Embrapa para o Meeting Agricultural Chiefs Scientists (MACS 20), braço do G20 que reúne as presidências das organizações de pesquisa agropecuária que atuam em temas científicos ligados à área. Durante esse período, foram discutidos temas de interesse global com alinhamento dos representantes dos países.

Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), Bioanálise do Solo, serviços ambientais e ecossistêmicos e trigo tropical – essas foram as tecnologias apresentadas à comitiva composta por representantes de mais de vinte delegações de países, entre convidados e os que compõem o G20, Grupo dos 20, um dos mais relevantes fóruns internacionais de cooperação econômica.

G20 Brasil
Essa é a primeira vez que o Brasil assume a presidência rotativa do G20, fórum que reúne as 19 maiores economias do planeta, além da União Europeia e da União Africana. O mandato brasileiro começou em dezembro de 2023 e se estende até novembro de 2024.

Durante o ano, serão realizadas mais de 100 reuniões oficiais do grupo nas 15 cidades-sede, distribuídas em todas as regiões do Brasil. Com o tema “Construindo um mundo justo e um planeta sustentável”, os 15 grupos de trabalho do G20 estão tratando de grandes temas, entre eles, a agricultura.

A Cúpula dos Líderes do G20, ponto alto dos trabalhos, com a participação dos chefes de Estado ou de governo dos países-membros, acontecerá na cidade do Rio de Janeiro, nos dias 18 e 19 de novembro. Uma iniciativa pioneira da presidência do Brasil é a criação da Cúpula Social, um espaço para os representantes da sociedade civil debaterem temas sociais.

Participação da Embrapa

Coube à Embrapa a organização do evento dedicado às discussões do MACS 2024, com foco em sustentabilidade, segurança alimentar e resiliência às mudanças climáticas. “Para nós, está sendo extremamente importante mostrar isso para as mais de 20 delegações que nós tivemos aqui, de vários países, instituições e organizações internacionais que trabalham com agricultura. Esse é um momento único que temos de mostrar a agricultura tropical, baseada em ciência, que estamos praticando e ainda que podemos ser parte da solução, junto com a cooperação internacional, levando essas tecnologias a outros países tropicais”, afirmou Marcelo Morandi, assessor de Relações Internacionais da Embrapa.

O chefe-geral da Embrapa Cerrados, Sebastião Pedro, também destacou a importância do evento. “Tivemos aqui a oportunidade de apresentar algumas das tecnologias sustentáveis que a Embrapa Cerrados tem desenvolvido ao longo desses anos. Aqui temos um público qualificado de cientistas que compõem os países do G20 o que torna este momento ainda mais importante. Eles conheceram o que estamos fazendo e puderam ver que a agricultura brasileira é baseada em processos sustentáveis e que isso é viável e está sendo feito”, afirmou.

Um dos participantes do dia de campo foi o conselheiro-chefe de Ciência do Departamento de Meio Ambiente, Alimento e Assuntos Rurais (Defra) do Reino Unido, Gideon Herderson. “Esse encerramento do encontro foi maravilhoso, com nossa vinda ao Cerrado e a oportunidade de poder ver cultivos tão produtivos nessa área. Eu sou do Reino Unido e lá nós cultivamos trigo. Mas ver vários cultivos na mesma área, como os que estamos vendo aqui, é muito interessante e um cenário diferente, além de outros que eu nunca havia visto antes no campo. É maravilhoso ver isso”, contou.

A diretora do Centro Brasil-América Latina do CABI International, Yelitza Colmenarez, também gostou do que viu. “Foi muito bom poder conhecer na prática o que a Embrapa apresentou durante a semana. Estamos vendo agora de uma forma mais tangível. Ficou bem claro o esforço que o Brasil e que a Embrapa, que lidera toda essa parte, junto com universidades e institutos de pesquisa, a nível nacional, vem fazendo do ponto de vista de tecnologia em resposta aos grandes desafios que temos”, destacou.

Agricultura tropical: a sustentabilidade a serviço do planeta

A visita técnica foi dividida em quatro estações, cada uma com apresentação de uma tecnologia da Embrapa. Na estação sobre serviços ecossistêmicos e boas práticas agrícolas, o pesquisador da Embrapa Cerrados Felipe Ribeiro apresentou à delegação dados sobre o bioma Cerrado e os serviços ecossistêmicos que o bioma oferece. “Especialmente no Cerrado, que reúne grande biodiversidade, mais de 12 mil espécies de plantas, e tem papel fundamental no suprimento de água doce ao continente, é possível conciliar produção agrícola e preservação das áreas onde há ação do homem”, afirmou.

Entre os trabalhos realizados pela Embrapa Cerrados para auxiliar os produtores na gestão de suas propriedades, Ribeiro destacou o levantamento de espécies nativas viáveis para serem utilizadas na recuperação vegetal de acordo com as diversas fitofisionomias encontradas no bioma. As 200 espécies recomendadas para áreas de formação florestal, as 100 para formação savânica e outras 50 para formação campestre estão reunidas na publicação “Guia de plantas do Cerrado para recomposição da vegetação nativa” , que inclui recomendações para o plantio e outras informações úteis para o produtor rural.

“A agricultura é uma grande fornecedora de produtos para a sociedade, como alimento, fibra, energia, madeira e água potável. Com o manejo adequado da propriedade rural e da paisagem e a adoção de boas práticas agrícolas, é possível otimizar a oferta de produtos e serviços ecossistêmicos fornecidos pelas áreas rurais. Nós temos conhecimento para isso”, garantiu.

O aumento da produção de alimentos e do sequestro de carbono em sistemas integrados foi o tema da apresentação do pesquisador Roberto Guimarães Júnior, que explicou que é possível implementar diversas combinações de cultivos e criações nessa estratégia: “O Brasil é um país de tamanho continental e há possibilidades para todos, desde o pequeno ao grande produtor. Assim, em uma mesma área é possível ter três ou mais colheitas em uma única safra, como, por exemplo, cultivo de soja, seguido de milho safrinha e ainda de pasto, para produção animal”.

O pesquisador falou ainda da área implantada com os diversos tipos de integração (Lavoura-Pecuária; Lavoura-Pecuária-Floresta; lavoura e floresta; pasto e floresta): “Hoje temos 17 milhões de hectares com sistemas integrados. Apesar de parecer pouco, quando se pensa na dimensão do nosso País, ela corresponde praticamente aos territórios de Portugal e da Inglaterra juntos”. Sobre o sequestro de carbono proporcionado pela tecnologia, informou que pode variar de 180 a 200 toneladas por hectare, dependendo do modelo adotado, segundo dados obtidos no experimento de longa duração, instalado na Embrapa Cerrados há mais de 33 anos.

Segundo pesquisa realizada pela Empresa , a implantação de integração lavoura-pecuária- floresta (ILPF) em apenas 15% da área é capaz de neutralizar a emissão de carbono de toda a propriedade rural. Outro estudo demonstrou o impacto positivo da sombra para vacas leiteiras, que gera aumento de até 24% na produção de leite e de 400% na produção de embriões.

Guimarães Júnior abordou a importância das políticas públicas brasileiras para adaptação às mudanças climáticas e que incentivam a adoção pelos produtores de estratégias capazes de mitigar gases de efeito estufa, a partir de linhas de crédito ofertadas pelo Ministério da Agricultura e Pecuária: “Em 2013, foi sancionada a lei que institui a Política Nacional de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) com objetivo de fomentar a adoção de novos modelos de uso da terra, aliando a sustentabilidade do agronegócio e a preservação ambiental”.

“Hoje, estamos tendo uma experiência completa sobre o que a Embrapa está fazendo e o que está alcançando”, afirmou Sulimam Al-Khateeb, diretor-geral de Recursos Vegetais, do Ministério do Meio Ambiente, Água e Agricultura da Arábia Saudita (MEWA). “Durante essa visita, vimos que, em cada etapa da produção de alimentos, há uma tecnologia específica por trás da alta produtividade e a Embrapa está se saindo muito bem na introdução da inovação e em torná-la acessível aos produtores”, destacou.

Novo olhar sobre o solo

Outra estação do dia de campo tratou da Bioanálise de Solos (BioAS) e foi conduzida pelo pesquisador da Embrapa Cerrados Fábio Bueno. Ele repassou informações sobre a tecnologia que agrega o componente biológico às análises de rotina de solos a fim de auxiliar na tomada de decisão sobre o manejo da propriedade agrícola. Com o tema “Avaliando a saúde do solo no Brasil”, o pesquisador explicou no que consiste a bioanálise, o que ela envolve e como é disponibilizada aos produtores. “Trata-se de uma inovação que está alinhada ao objetivo de viabilizar tecnologias que promovam a sustentabilidade das atividades agrícolas com o equilíbrio ambiental”, enfatizou.

Ele explicou que a tecnologia é uma ferramenta de monitoramento sensível, simples, calibrada e prática da qualidade do solo em escala agrícola. “Ela combina a análise química de rotina do solo com a avaliação da atividade de duas enzimas do solo (arilsulfatase beta-glicosidase), associadas aos ciclos do enxofre e do carbono, respectivamente”. Por estarem relacionadas, direta ou indiretamente, ao potencial produtivo e à sustentabilidade do uso do solo, essas enzimas funcionam como bioindicadores e ajudam a avaliar a saúde dos solos. Mais informações sobre a BioAS acesse: https://www.embrapa.br/busca-de-solucoes-tecnologicas/-/produto-servico/6047/bioas–tecnologia-de-bioanalise-de-solo–

A BioAS foi lançada em 2020 e desde então está sendo cada vez mais utilizada pelos agricultores brasileiros. Os participantes do evento se mostraram muito interessados em saber como a tecnologia funciona e como ela poderia ser usada por outros países de agricultura tropical. “É uma tecnologia única no mundo e permite um novo olhar sobre o solo. Foi muito importante apresentá-la para essa comitiva internacional voltada para a ciência. Temos a nossa disposição uma ferramenta com o selo Embrapa que mede o que todo o mundo está falando que é importante, que é a qualidade e a saúde do solo”, afirmou.

A quarta e última estação do dia de campo tratou do trigo tropical e foi conduzida pelo pesquisador e chefe de Transferência de Tecnologia da Embrapa Trigo, Giovani Faé. Com o tema “A oportunidade do trigo tropical brasileiro” ele repassou informações sobre o cultivo do cereal no país, a sua importância econômica e no contexto do sistema de produção, dados de demanda e produção, e, especialmente, os principais desafios enfrentados pela pesquisa, como a brusone e a seca.

Faé apresentou as regiões aptas ao cultivo do trigo tropical no país (Minas Gerais, Goiás, Distrito Federal, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, São Paulo e Bahia) e detalhou os sistemas de produção adotados no Brasil Central: sequeiro (ou safrinha), a partir de março, e irrigado (sob pivô central), com semeadura a partir da primeira quinzena de abril.

Segundo ele, no sequeiro, a área tem crescido nos últimos anos e representa cerca de 80% dos cultivos, com rendimentos entre duas a três toneladas/ha. Já com o trigo irrigado, alternativa na rotação de culturas, a produtividade fica em torno de sete toneladas/ha. Mas, há casos de recordes mundiais, como de uma lavoura comercial de Cristalina (GO) que na safra 2021, com a BRS 264, alcançou o recorde mundial de produtividade/dia (80,9 kg/ha/dia), quando a produtividade chegou a 9.630 kg/ha.

O pesquisador destacou a importância do dia de campo e sua relevância para que futuras colaborações científicas sejam firmadas. “Podermos mostrar para os pesquisadores de todos esses países que estão aqui no nosso ambiente real, a nossa produção, os nossos desafios, mas também as oportunidades, é muito importante para estreitarmos ainda mais as nossas parcerias internacionais”, enfatizou.

“Penso sim que nós podemos olhar para uma cooperação entre as instituições de pesquisa que representamos”, afirmou Jemina Moeng, diretora-chefe de Segurança Alimentar do Departamento de Agricultura, Reforma Agrária e Desenvolvimento Rural da África do Sul. “Nós hoje atendemos o convite do G20-MACs para vir a Brasília e para ver as pesquisas no âmbito do Ministério da Agricultura do Brasil. Vimos, por exemplo, os desafios que o Brasil enfrenta na produção de trigo, os quais também temos e penso que outros países têm. Esse dia foi muito importante para nós”.

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