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segunda-feira 23 de janeiro de 2023 às 06:25h

EUA, Reino Unido e França: barreiras e vias fechadas protegem capitais globais de ataques

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Como a Esplanada dos Ministérios, alguns espaços públicos são onipresentes em momentos que formam um país: são palco de posses e derrubadas de governos, de decisões que determinam os rumos de sociedades. Mas passam longe do papel de agentes passivos. Se a intenção é que sejam palco do exercício democrático, ameaças e incidentes como os ataques golpistas do dia 8 forçaram capitais pelo mundo a repensar a segurança de seus Poderes.

Em Washington, os reforços se intensificaram nas últimas três décadas. O primeiro incidente-chave foi o pouso de um pequeno avião Cessna 150 nos jardins da Casa Branca em setembro de 1994. O piloto, Frank Eugene Corder, havia roubado a aeronave, estava bêbado e morreu no impacto.

Em abril de 1995, o que acendeu o alerta foi a explosão de um carro-bomba em um prédio federal em Oklahoma City, ato terrorista doméstico que deixou ao menos 168 mortos. Cerca de um mês depois, em 20 de maio, o trecho de duas quadras da Avenida Pensilvânia que passa em frente à Casa Branca foi fechado para o tráfego de carros. O bloqueio continua até hoje.

— Isso levou o governo a pensar: “não temos distância suficiente entre a rua e o prédio se alguém fizesse isso de novo — afirmou Lisa Benton-Short, da Universidade George Washington, ao jornal O Globo.

Segundo a geógrafa, especialista no Passeio Nacional de Washington, os episódios levaram o governo americano a criar um plano de segurança que demanda um perímetro de isolamento ao redor dos prédios federais — geralmente não inferior a 15 metros de todos os lados. Quando isso não é possível, recorre-se a recursos artificiais como barreiras, postes e valas que bloqueiem a aproximação de veículos.

A preocupação com segurança, disse Benton-Short, ganhou nova urgência com o 11 de Setembro de 2001. Se de início as barreiras eram temporárias, foram se tornando permanentes e juntando-se a outras formas mais invisíveis de controle, como câmeras e detectores de metal. Há snipers a postos e armas letais são usadas contra aqueles que tentam invadir a sede do governo.

— Com o 11 de Setembro, o processo se acelerou — afirmou a professora. — Mas também inibiu qualquer conversa sobre segurança. Havia a Guerra ao Terror, era uma questão de segurança nacional e fim de conversa.

O atentado de 11 de Setembro, em 2001 — Foto: SETH MCALLISTER / AFP / STR
O atentado de 11 de Setembro, em 2001 — Foto: SETH MCALLISTER / AFP / STR

Após o ataque ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021, os arredores do prédio foram selados com barreiras imensas e segurança maciça. Eventualmente, contudo, a Guarda Nacional foi embora e a população voltou a demandar o uso do espaço, uma importante área de socialização da capital. O aparato completo, contudo, está a postos para eventos extraordinários e ameaças captadas pela Inteligência.

O Reino Unido, similarmente, precisou se adaptar frente às ameaças do Exército Republicano Irlandês (IRA) durante as três décadas de conflito entre unionistas e republicanos na Irlanda do Norte. O acesso de veículos à Downing Street, sede do governo britânico, foi vetado em 1973. Barreiras móveis foram postas no início dos anos 1980 e substituídas por grades em 1989.

Também há reocupações no Palácio de Westminster, a sede do Parlamento britânico. A segurança do acesso foi reforçada em 2004, após manifestantes conseguirem jogar um pó que depois se provou inócuo no então primeiro-ministro Tony Blair. Após um ataque terrorista em que um carro foi lançado contra pedestres no lado de fora do Parlamento em 2017, barreiras físicas também foram erguidas.

A necessidade de reformar o prédio milenar, cuja construção teve início em 1016, gera debate hoje no país. E não só em torno do alto preço das obras, segundo Alexandra Meakin, professora da Universidade de Leeds.

— Para que haja uma grande reforma, os parlamentares precisariam sair da câmara onde trabalham, mas achar um espaço alternativo é muito difícil devido às preocupações com a segurança — disse ela, que estuda a reforma do Palácio de Westminster. — Os deputados, por exemplo, não podem ir para um espaço onde precisariam cruzar a rua para ir da sessão para seus escritórios — disse ela, lembrando que o país teve dois parlamentares assassinados desde 2016.

O presidente francês, François Hollande, cercado por chefes de Estado, incluindo o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, o presidente do Mali, Ibrahim Boubacar Keita, a chanceler alemã, Angela Merkel, o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, e o presidente palestino, Mahmoud Abbas, caminha pelas ruas de Paris. No dia 11 de janeiro de 2015, cidadãos franceses se juntaram a dezenas de líderes estrangeiros, entre eles representantes árabes e muçulmanos, em uma marcha em homenagem às vítimas do atentado a tiros contra o jornal satírico Charlie Hebdo — Foto: PHILIPPE WOJAZER / AFP
O presidente francês, François Hollande, cercado por chefes de Estado, incluindo o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, o presidente do Mali, Ibrahim Boubacar Keita, a chanceler alemã, Angela Merkel, o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, e o presidente palestino, Mahmoud Abbas, caminha pelas ruas de Paris. No dia 11 de janeiro de 2015, cidadãos franceses se juntaram a dezenas de líderes estrangeiros, entre eles representantes árabes e muçulmanos, em uma marcha em homenagem às vítimas do atentado a tiros contra o jornal satírico Charlie Hebdo — Foto: PHILIPPE WOJAZER / AFP

Já em Paris, os ataques terroristas de janeiro de 2015 contra o semanário satírico Charlie Hebdo levaram o então presidente François Hollande a criar a chamada Operação Sentinela. A iniciativa, que seria reforçada após os atentados de novembro do mesmo ano, pôs dez mil soldados nas ruas do país inteiro para proteger áreas mais vulneráveis a terrorismo, como estações de trem, aeroportos e prédios oficiais.

Nenhuma medida, concordam os especialistas, é à prova de falhas. E o próprio Palácio do Planalto e o Congresso Nacional passaram por adaptações ao longo dos anos para se tornarem mais seguros.

Ambos só ganharam espelhos d’água nos anos 1990. O da sede do Legislativo é de 1999, após uma tentativa de invasão de movimentos sociais. O do Planalto é de 1991, construído depois de um homem embriagado invadir o edifício com um ônibus.

— O projeto de Lúcio Costa para o Plano Piloto é exemplo de uma concepção urbanística de grandes espaços públicos, o que evidentemente cria sérias questões de segurança — disse Sylvia Ficher, professora da Faculdade de Arquitetura da Universidade de Brasília (UnB). — Na perspectiva da época, não haveria problemas de segurança, porque a sociedade se modificaria em função da proposta urbanística, que mudaria o comportamento humano para melhor. Na prática, isso não aconteceu.

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