Após a Câmara dos Deputados entregar a aprovação da reforma tributária e do projeto que prevê a retomada do voto de qualidade no Conselho Administrativo sobre Recursos Fiscais (Carf), o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) começou as negociações segundo Renan Truffi e Fabio Murakawa, do jornal Valor, para que integrantes do Centrão passem a ocupar cargos no primeiro e segundo escalão da Esplanada dos Ministérios. As conversas iniciais apontam para uma “porta de entrada”: a Fundação Nacional de Saúde (Funasa), órgão ligado ao Ministério da Saúde.
O assunto foi discutido nessa última segunda-feira (10) em reunião entre Lula e ministro da Secretaria de Relações Institucionais (SRI) da Presidência da República, Alexandre Padilha (PT). A Funasa está no topo das discussões por ter uma situação mais “tranquila” para a acomodação dos parlamentares do Centrão.
Os outros pedidos do grupo político de Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, têm um cenário mais complexo. Isso porque os aliados do deputado alagoano querem comandar, além da Funasa, os ministérios do Esporte, do Desenvolvimento Social (MDS) e a Caixa Econômica Federal.
O MDS está hoje sob controle de um amigo pessoal do presidente Lula. Trata-se do ministro Wellington Dias, que foi responsável por entregar sucessivas vitórias para o PT no Piauí durante os últimos anos.
Já o Ministério do Esporte e a Caixa estão nas mãos de duas mulheres: Ana Moser e Rita Serrano, ambas de perfil mais técnico. Com isso, a troca das duas por nomes do Centrão pode gerar críticas dentro do próprio partido do presidente da República.
Como mostrou o Valor na semana passada, Lula encaminhou um possível acordo para que o Centrão passe a integrar a base aliada do governo no Congresso na última sexta-feira. As duas partes selaram a intenção num telefonema entre Lula e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Na conversa, Lula se comprometeu a acomodar o grupo político de Lira em cargos na Esplanada.
A disposição em contemplar aliados do alagoano com espaços estratégicos do governo foi crucial para que o presidente da Câmara destravasse a votação do PL do Carf, pauta importante para a equipe econômica petista, e da reforma tributária.
O “namoro”, entretanto, começou alguns dias antes, na quarta-feira. Na ocasião, deputados do Centrão que integram partidos como PP, Republicanos, União Brasil, PSBD e até o PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, se reuniram com o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, e comunicaram que o grupo toparia reforçar a base governista se o Palácio do Planalto aceitasse ceder cargos. Eles explicaram que a ideia, claro, tinha aval de Lira, mas deixaram claro que a contrapartida seria o controle de órgãos como a Funasa.
O sinal verde foi dado, no entanto, pelo próprio Lula, numa conversa com Lira na sexta-feira pela manhã. Segundo interlocutores, o presidente da República explicou ao alagoano, entretanto, que não teria como negociar tantos cargos à véspera de votações tão importantes na Câmara.
Diante disso, o petista teria pedido que Lira garantisse a aprovação das matérias primeiro e se comprometeu a acomodar seus aliados no governo em negociações que devem acontecer nas próximas semanas, durante o recesso parlamentar.