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quinta-feira 20 de outubro de 2022 às 15:01h

Entenda o que acontecerá no Reino Unido após renúncia de Liz Truss

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A primeira-ministra do Reino Unido, Liz Truss, havia desistido de seu plano econômico ultraliberal e demitido seu ministro das Finanças, Kwasi Kwarteng, para tentar salvar seu pescoço. As manobras, entretanto, foram mal-sucedidas, levando a política conservadora a renunciar nesta quinta-feira à liderança do seu partido e, consequentemente, ao comando do governo britânico.

Agora começa uma disputa para sucedê-la no comando do Partido Conservador — como a legenda tem a maioria no Parlamento, seu líder também governa o país. Será a terceira troca de comando em três anos, e não se descarta nem um retorno político de Boris Johnson seis semanas após seu “hasta la vista” a Downing Street, a sede do governo. Isso se os conservadores resistirem à pressão da oposição trabalhista, bem nas pesquisas, para que antecipem as eleições previstas para 2025.

Entenda abaixo por que Truss caiu e o que aguarda o Reino Unido, onde o caos político é indissociável de uma economia à beira da recessão e com a inflação de 10,1%, a maior em 40 anos.

O que era o plano ultraliberal de Truss?

Em 5 de setembro, Truss foi escolhida pelos 172 mil filiados do Partido Conservador (ou 0,3% dos 66 milhões de britânicos) para substituir Boris na liderança partidária já prometendo cortes maciços de impostos — perspectiva que fazia até correligionários mais ortodoxos a acusarem de imprudência. O pacote que ela apresentou no último dia 23, contudo, foi ainda mais ambicioso que o previsto.

A iniciativa previa os maiores cortes de impostos em meio século, custando cerca de 43 bilhões de libras esterlinas (R$ 255,8 bilhões) aos cofres públicos, sem que fossem previstas medidas para compensar o rombo.

As críticas foram imediatas: vieram de aliados, opositores e até do Fundo Monetário Internacional, que alertou para a possibilidade do programa aumentar a dívida pública britânica e a já ascendente desigualdade. A libra chegou ao seu menor patamar histórico e os mercados demonstraram enorme desconfiança de que o plano solucionasse a inflação e uma economia à beira da recessão.

E como Truss respondeu às críticas?

Nos primeiros dias, ela manteve-se firme, dizendo que o pacote era necessário para fazer o Reino Unido voltar a crescer. No dia 3, cancelou a mudança no teto do IR. Há seis dias, demitiu seu ministro das Finanças e parceiro na paternidade do controverso pacote, Kwasi Kwarteng, e nomeou Jeremy Hunt para substitui-lo. Cancelou boa parte das medidas previstas, mas nem isso provou-se suficiente.

Complicando mais sua situação, a premier nunca conseguiu tomar por completo as rédeas de seu partido ou do país. Os tabloides apostavam se o prazo de validade do governo seria maior ou menor que o de um alface.

Quarta-feira foi um dia importante para que a alface ganhasse a disputa, com a demissão de sua ministra do Interior, Suella Braverman. Nesta quinta, Truss não resistiu após caciques conservadores irem a Downing Street pedirem para a premier deixar o cargo. Pouco depois, ela notificou o rei Charles III da decisão.

E o que acontece agora?

Segundo Graham Brady, presidente da Comissão 1922, que no Partido Conservador escolhe as regras da votação partidária, um novo líder conservador e, consequentemente, um novo premier, deve ser escolhido até 28 de outubro. Os 357 parlamentares da legenda têm até a tarde de segunda-feira para apresentar suas candidaturas, que devem ser endossadas por ao menos 100 colegas, regra que limita o número de candidatos a três.

Se apenas um conservador atingir o patamar, será ele o novo premier. Se forem dois, a dupla irá para uma eleição on-line entre os 172 mil filiados do partido. No caso de um trio atingir a marca, os parlamentares votarão entre si para decidir os dois nomes que irão ao voto dos filiados, que vai terminar até sexta que vem — o cronograma exato não foi divulgado.

E por que não há eleições diretas?

Pela lei britânica, deve haver eleições gerais a cada cinco anos, no máximo. Como a última foi em 12 de dezembro de 2019, o limite derradeiro seria janeiro de 2025, contando o prazo de 25 dias para que o voto seja organizado. O premier, contudo, pode optar por antecipá-lo, como fez Boris Johnson há três anos, quando apostou acertadamente que os conservadores conseguiriam aumentar sua maioria no Parlamento e concluir o Brexit.

O cenário desta vez é mais complicado para os governistas, após os escândalos que derrubaram Boris e a desastrosa gestão-relâmpago de Truss. Se o pleito fosse hoje, segundo o agregador de pesquisas do site Politico, os trabalhistas teriam 52% dos votos contra 23% dos conservadores. Quando a primeira-ministra demissionária tomou posse, os números eram respectivamente 42% e 31%.

Se três trocas de comando em três anos não ajudam a popularidade conservadora, a perspectiva de uma derrota acachapante nas urnas não deixa muitas soluções para o partido.

Quem são os favoritos para assumir a liderança conservadora?

Assim que a renúncia de Truss foi confirmada, a imprensa britânica anunciou que Boris deve tentar retornar ao poder seis semanas após deixar Downing Street. Tal renascimento político seria uma tarefa hercúlea até mesmo para o político fênix, notório por ter sobrevivido a situações que foram a pá de cal em outras carreiras.

A gota d’água para a renúncia do então premier foram as renúncias de seu ministro das Finanças, Rishi Sunak, e seu ministro da Saúde, Savid Javid, que catalisaram a saída de 60 funcionários de vários escalões do governo. Há meses, contudo, Boris estava desgastado e sem credibilidade por escândalos que foram da realização de festas enquanto o país estava em quarentena para combater a Covid-19 à promoção de um aliado acusado de assédio sexual.

Parece improvável que Boris consiga o endosso de 100 parlamentares, regra que a imprensa britânica especula ter sido criada já para barrá-lo. Além dele, desponta como favorito Sunak, que ficou em segundo lugar na disputa vencida por Truss com uma campanha defendendo ortodoxia financeira. Ele tem bom trânsito entre os correligionários, inclusive derrotando a premier demissionária entre os parlamentares conservadores na última disputa pela liderança partidária.

Outro nome bem cotado é o de Penny Mordaunt, ex-secretária de Estado para o Comércio, que ficou em terceiro na disputa que coroou Truss. Despontam também o atual ministro das Finanças, Jeremy Hunt, e seu colega do Interior, Grant Shapps. Fala-se também no ministro da Defesa, Ben Wallace.

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