Jornalista palestino é um dos milhares que fugiram da Cidade de Gaza em direção ao sul após ordem de evacuação de Israel. À DW, ele relata situação desesperadora no enclave. “Há escombros e poeira por toda parte.” Na sexta-feira (13), forças israelenses ordenaram que mais de 1 milhão de palestinos se deslocassem para o sul da Faixa de Gaza, antes de uma esperada ofensiva terrestre. Entre os que fugiram está Hazem Balousha, um jornalista de Gaza que trabalha para a mídia internacional.
Em entrevista à DW, o palestino descreveu as condições dos locais por onde passou, enquanto se dirigia com sua família ao campo de refugiados de Nuseirat, no sul da Faixa de Gaza. “As pessoas estão com raiva, desesperadas. A principal coisa que elas buscam é permanecer vivas e seguras”, afirma.
Uma semana após ter sofrido o ataque mais brutal em seu território em cinco décadas, Israel apertou o cerco contra Gaza, enclave controlado pelo grupo fundamentalista islâmico Hamas. Neste sábado, as forças armadas israelenses afirmaram que se preparam para um “ataque integrado e coordenado por ar, mar e terra” contra a região palestina.
A ofensiva das forças israelenses ocorre em reação aos atentados brutais perpetrados pelo Hamas em 7 de outubro, que deixaram mais de 1.300 mortos em cidades fronteiriças israelenses e em um festival de música. Por outro lado, a campanha de retaliação dos militares israelenses já matou mais de 2.200 pessoas na Faixa de Gaza.
DW: O que você viu ao deixar sua casa?
Hazem Balousha: É uma bagunça, é caótico. Ninguém entende o que está acontecendo. Quando saí da minha cidade, a Cidade de Gaza, vi longas filas de carros, pessoas com colchões em cima dos carros, crianças nos carros. Alguns estão caminhando porque não tem transporte. Vi pessoas em carroças de burro indo para o sul. Vi prédios altos destruídos em diferentes áreas. Algumas áreas eu não reconheci por causa da devastação. Há escombros e poeira por toda parte.
A Faixa de Gaza inteira está em total blecaute. Não há eletricidade, não há água. A internet é muito limitada em algumas áreas. Há fila para tudo, em padarias, mercearias. E mal conseguimos nos comunicar porque os telefones não funcionam corretamente, o sinal é muito ruim e todo mundo está tentando ligar uns para os outros.
Alguns já partiram na sexta-feira. Vi um grande número de pessoas deixando a cidade, da parte norte para o sul. Alguns estão hospedados em escolas, e outros estão na rua perguntando se há lugar para ficar. Neste momento, vejo pessoas tentando encher galões de água porque não há água nos prédios ou nas casas. Elas não conseguem usar o banheiro sem água. Eu mesmo não tomo banho há uns cinco dias. Estou cheirando muito mal. A comida é muito limitada.
Como é o lugar onde você está agora?
Aqui em Nuseirat [cidade no sul de Gaza], há mais trânsito. Pessoas estão andando mais do que em outros lugares que vi, e há escassez de combustível. Não tem gasolina nos postos. Parei em vários postos para abastecer meu carro. Eu tinha pouco combustível e mal consegui dirigir da Cidade de Gaza até essa área. Todo mundo está dizendo: não há combustível, não há combustível, não há gasolina aqui, não há gasolina, verifique outro posto – mas tudo sem sucesso.
O transporte público não está funcionando. Às vezes, vejo pessoas dormindo ou sentadas nos carros. Elas levam tudo o que podem carregar. Vi pessoas ligando geradores para carregar seus telefones e baterias.
Como você descreveria o estado das pessoas ao seu redor?
Estão com raiva, estão desesperadas. Elas não sabem o que está acontecendo, o que vai acontecer. Muitas pessoas me perguntam se há negociações ou conversas sobre um cessar-fogo ou algo assim. A principal coisa que elas buscam é permanecer vivas e seguras. Mas ninguém sabe se esse local é seguro ou não. Então, alguns ouvem estações de rádio para receber notícias e saber o que está acontecendo. É tudo uma loucura.