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O presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) AFP
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domingo 23 de outubro de 2022 às 09:44h

Em ‘estados pendulares’, candidatos ao governo oscilam entre Lula e Bolsonaro no segundo turno

NOTÍCIAS, POLÍTICA


Segundo o GLOBO, em quatro estados que alternaram preferências em eleições presidenciais desde 2002, e que têm disputas de segundo turno neste ano, candidatos ao governo buscam se equilibrar entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL) na expectativa de surfar nas oscilações do eleitorado.

Em dois desses locais, Rio Grande do Sul e Espírito Santo, a corrida ao governo opõe um candidato bolsonarista a outro que busca o apoio tanto de bolsões que votam historicamente no PT quanto de regiões com retrospecto antipetista; em outros dois, Amazonas e Alagoas, há um palanque lulista contra um adversário que acena a diferentes públicos. Levantamento do GLOBO com as votações nos últimos 20 anos também identificou áreas nesses estados que variaram seu vitorioso à Presidência.

No Sul, por exemplo, o ex-governador Eduardo Leite (PSDB) percorreu na semana passada municípios como Vacaria, na fronteira gaúcha com Santa Catarina, que deu 60% dos votos válidos a Bolsonaro no primeiro turno, e Rio Grande, nas imediações da divisa com o Uruguai, onde Lula teve 60% dos votos. No embate contra o ex-ministro Onyx Lorenzoni (PL), que terminou o primeiro turno à frente numa campanha fortemente associada a Bolsonaro, Leite adotou como lema que o estado “fala mais alto” do que a polarização nacional.

A estratégia, além de eximir o tucano de um posicionamento na disputa presidencial, também representa uma tentativa de ampliar a entrada em diferentes áreas do estado, com realidades socioeconômicas e histórico de votação distintos.

Em 2002, quando o estado era governado por Olívio Dutra (PT), e 2010, ano em que o petista Tarso Genro se elegeu ao governo, candidatos do PT à Presidência foram bem votados em municípios do norte e da serra gaúcha, como Erechim, Passo Fundo e Caxias de Sul, e na região dos pampas. Na década seguinte, adversários do PT – Aécio Neves (PSDB), em 2014, e Bolsonaro em 2018 – tiveram mais de 70% dos votos válidos perto da fronteira catarinense e avançaram nas áreas centrais.

– Essas cidades mais ao sul que votam no PT têm produtores rurais e populações urbanas relativamente grandes com poucas alternativas econômicas. O raciocínio eleitoral é totalmente diferente em áreas como a Serra Gaúcha, onde o nível de pobreza é menor – diz o deputado federal Alceu Moreira (MDB-RS), ex-aliado de Leite e apoiador de Bolsonaro.

Em 2018, ano em que Leite declarou “apoio crítico” a Bolsonaro, o PT pela primeira vez saiu derrotado nos dois turnos presidenciais entre os gaúchos. Já em 2022, embora Lula tenha encerrado o primeiro turno atrás de Bolsonaro, o ex-presidente “recuperou” antigos redutos petistas ao sul, como Bagé, e ao norte do estado.

Leite, desta vez, disse que não abrirá seu voto à Presidência, e tem obtido apoios tanto de prefeitos do PP, sigla coligada a Bolsonaro, quanto de lideranças do PT, como os ex-governadores Genro e Dutra. Incomodado com a movimentação do concorrente, Onyx alfinetou Leite em debate na última quinta-feira, ao questioná-lo se iria “trair o eleitor lulista ou o bolsonarista”.

No Amazonas, o governador Wilson Lima (União) declarou apoio a Bolsonaro, mas tem escondido o presidente ao costurar alianças no interior do estado, área com histórico de votações maciças em candidatos do PT à Presidência. Após a eleição de 2002, em que o tucano José Serra obteve vitórias em municípios afastados da capital Manaus, como Manicoré e Tabatinga, Lula e Dilma Rousseff (PT) foram os mais votados em todo o estado nas eleições seguintes. Em 2018, Fernando Haddad (PT) chegou a mais de 80% dos votos em Parintins, segunda cidade mais populosa.

Anderson Sousa (PP), prefeito do município de Rio Preto da Eva, nos arredores de Manaus, e que tem pedido votos para Lima e Lula, diz que a aliança informal se impôs para a maioria dos gestores municipais – que teriam restrições a Eduardo Braga (MDB), candidato no palanque lulista, devido a atritos quando este foi governador.

Sousa, que credita a aliança de Lima com Bolsonaro à necessidade de atrair o eleitorado mais conservador da capital, diz que a aliança do governador com um concorrente de Lula não abalou seu apoio entre os prefeitos, mas exigiu adaptações na campanha.

– Em Manaus, as igrejas evangélicas são muito fortes. No interior, alguns prefeitos recebem o governador com material de campanha do Lula, outros preferem não exibir nada nesses eventos, para não constrangê-lo. Mas todos deixaram claro que ele (Lima) deveria vir sozinho para receber apoio – afirmou Sousa.

Bolsonaro foi o mais votado no Amazonas em 2018 graças a seu desempenho em Manaus, que concentra mais da metade da população no estado, e onde o atual presidente obteve quase dois terços dos votos válidos. Neste ano, embora tenha terminado o primeiro turno atrás de Lula, Bolsonaro voltou a ter votação expressiva na capital.

No Espírito Santo, o governador Renato Casagrande (PSB) busca a reeleição com uma aliança formal com Lula, mas evitando se associar ao petista na disputa contra Carlos Manato (PL), que é apoiado por Bolsonaro.

Enquanto o PT mantém força eleitoral em municípios do norte capixaba, próximos à divisa com a Bahia, os principais colégios de votos do Espírito Santo, como Serra, Vila Velha e Linhares, e que deram vitórias maciças a Lula em 2002 e 2006, passaram por uma guinada antipetista na década seguinte, o que mudou o perfil de votação do estado.

Em Vila Velha, perto da capital Vitória e onde Lula teve quase 65% dos votos no segundo turno em 2006, Bolsonaro acumulou mais de dois terços dos votos em 2018. Neste ano, o atual presidente teve mais de 50% dos votos válidos em quase todos os principais colégios eleitorais capixabas. Casagrande, que também foi mais votado nesses municípios, passou a esconder o apoio de Lula e viu aliados de partidos como PP e Podemos estimularem um voto casado com Bolsonaro, apelidado de “CasaNaro”.

Já em Alagoas, estado do Nordeste em que Lula teve sua menor vantagem para Bolsonaro, o atual governador Paulo Dantas (MDB) faz campanha associado ao petista, enquanto seu adversário na disputa estadual, Rodrigo Cunha (União), busca se desvincular do voto bolsonarista. Bolsonaro teve suas melhores votações, em 2018 e neste, ano em cidades litorâneas, como Maragogi e Coruripe, além da capital Maceió, que habitualmente votam em candidatos de oposição ao PT.

Cunha, por sua vez, foi mais votado em municípios do agreste, como Teotônio Vilela, Junqueiro e Boca da Mata, que são redutos eleitorais do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), seu aliado, e que deram mais votos a Lula contra Bolsonaro. O petista também liderou o primeiro turno em Arapiraca, segundo município mais populoso de Alagoas, e descrito por políticos locais como uma espécie de microcosmo do estado, por receber influência do litoral, do agreste e do sertão. O PSDB já foi vitorioso duas vezes na cidade, em 2002 – quando Alagoas foi o único estado em que Serra venceu Lula – e em 2010.

Na atual campanha, o candidato do União critica Dantas por “usar Lula como muleta” e diz que buscará trabalhar com “qualquer presidente que seja eleito”.

– Essa é a linha em que eu me sinto mais à vontade – justifica Cunha.

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