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Cidade-esponja chinesa — Foto: Reprodução
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domingo 19 de maio de 2024 às 11:02h

Dos EUA ao Japão, mecanismos contra enchentes podem servir de lição para tragédia do Rio Grande do Sul

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Cidades-esponja, telhados verdes, diques extensos, túneis e reservatórios subterrâneos são algumas das soluções que países ao redor do mundo adotam para lidar com o desafio das inundações. Embora haja lições valiosas e exemplos inspiradores que podem ser usados em Porto Alegre e em outras cidades brasileiras, especialistas ouvidos pelo jornal O Globo, ressaltam a importância de cada local encontrar suas próprias soluções.

Na Holanda, onde 26% do país está abaixo do nível do mar, um extenso sistema de diques de 22 mil quilômetros é vital, embora o país tenha apenas 880 quilômetros de costa. No entanto, com o aumento do nível do mar devido às mudanças climáticas, reformas nas comportas e elevação das barreiras serão necessárias para evitar inundações pelo Mar do Norte, avalia Franciele Zanandrea, especialista em Recursos Hídricos e professora do Departamento de Engenharia Agrícola e Meio Ambiente da UFF.

Outras soluções inovadoras incluem o conceito de cidade-esponja, que visa a transformar áreas urbanas em parques naturais para melhorar a drenagem e reduzir os riscos de alagamentos, e telhados verdes, que além de reduzir o calor, aumentam a eficiência dos painéis solares e melhoram a drenagem de águas pluviais.

— Essa ideia (de cidades-esponjas) está associada a um sistema de drenagem sustentável. O ciclo hidrológico natural, de infiltração de água no solo, fica prejudicado com a impermeabilização de áreas urbanas. Essas novas técnicas retém a água nas cidades sem alagar o local — afirma Zanandrea.

O professor da Escola de Engenharia Civil e Ambiental Marcio Giacomoni, da Universidade do Texas em San Antonio, contudo, diz que esse tipo de medida, embora seja importante para combater efeitos das mudanças climáticas, não seria eficaz para conter o volume da enchente que atingiu Porto Alegre, além de a gestão ser um fator complicador:

— Essas áreas ao redor de bacias hidrográficas fazem com que a água seja reservada e tenha melhor qualidade. Mas essas estruturas têm custo e são descentralizadas. Para um gestor ou entidade pública é mais fácil um sistema centralizado.

Após uma década de construção e um investimento equivalente a R$ 13,3 bilhões, um sistema centralizado que vem operando bem é a “catedral”, canal subterrâneo de escoamento na área metropolitana de Tóquio. Trata-se de uma estrutura de 6,3 quilômetros de túneis, com 50 metros de profundidade, projetada para absorver as águas das chuvas, bombeando-as de volta para o Rio Edogawa.

Na Austrália, outra medida para combater alagamentos e aumentar a eficácia de painéis solares são os telhados verdes. Ainda não implementada em larga escala, cidades como Sydney e Melbourne estão desenvolvendo projetos para esta iniciativa, que envolve o plantio de plantas no topo de prédios e casas.

Um estudo da Universidade de Tecnologia de Sydney mostrou que telhados com vegetação e painéis solares têm temperaturas até 20ºC mais baixas durante o verão e um aumento de 3,6% na produção de energia. Além disso, esses telhados aumentam a drenagem de águas de chuva em 600 litros por segundo em comparação a telhados sem vegetação.

Legado Katrina

Giacomoni destaca a resposta dos EUA ao furacão Katrina, ocorrido em 2005, como um exemplo relevante para o futuro de Porto Alegre. Após o Katrina ter arrasado Nova Orleans, o governo investiu US$ 14,5 bilhões em um sistema de bombas, diques e muros mais robustos, resultando em uma redução significativa dos danos causados pelo furacão Ida, em 2021.

— Não existe uma resposta que funcione em qualquer lugar. Cada cidade tem sua peculiaridade, precisam ser estudadas e avaliadas, com uma combinação de diferentes tipos de estrutura — afirma Giacomoni. — A experiência em Nova Orleans foi de aprendizado. Houve um evento semelhante posteriormente e o mecanismo funcionou muito bem.

Áreas da Nona Ala, em Nova Orleans, inundadas após os furacões Katrina e Rita. O aumento do nível do mar pode deslocar 280 milhões de pessoas em um cenário otimista de um aumento de 2°C na temperatura global em comparação com a era pré-industrial. Com um aumento previsível da frequência de ciclones, muitas megacidades costeiras, bem como pequenas nações insulares, seriam inundadas todos os anos a partir de 2050 — Foto: ROBYN BECK / AFP
Áreas da Nona Ala, em Nova Orleans, inundadas após os furacões Katrina e Rita. O aumento do nível do mar pode deslocar 280 milhões de pessoas em um cenário otimista de um aumento de 2°C na temperatura global em comparação com a era pré-industrial. Com um aumento previsível da frequência de ciclones, muitas megacidades costeiras, bem como pequenas nações insulares, seriam inundadas todos os anos a partir de 2050 — Foto: ROBYN BECK / AFP

Além disso, Nova Orleans dispõe de uma série de comportas de 2,9 quilômetros de extensão a oitometros acima do nível do mar, que protege o perímetro urbano de eventuais subidas de nível do lago Borgne, que banha a cidade.

Para o engenheiro e doutor em recursos hídricos Fernando Dornelles, a grande reforma depois do Katrina é um exemplo para Porto Alegre, que, segundo ele, precisará elevar o Muro da Mauá e os diques, isolar as casas de bombas e reformar as comportas no entorno da capital gaúcha.

— A cota atual do muro e dos diques foi pensada a partir da enchente de 1941, que chegou a 4,76 metros. A atual chegou até 5,33 metros — lembra.

Além das medidas como diques e comportas, soluções não estruturais desempenham papel crucial na gestão de enchentes, como mapeamento de áreas de risco, seguro contra inundações e sistemas de alerta, diz Giacomoni.

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