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O advogado Cristiano Zanin e o presidente Lula Ricardo Stuckert/Divulgação
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sábado 18 de fevereiro de 2023 às 07:25h

Disputa por vaga no Supremo se acirra com ataques nos bastidores

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A disputa pela próxima vaga a ser aberta no Supremo Tribunal Federal (STF) com a aposentadoria do ministro Ricardo Lewandowski está se transformando segundo a colunista Malu Gaspar, em uma guerra à medida que se aproxima a data da escolha.

Embora em tese só haja um “eleitor” a ser convencido – o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a quem cabe nomear o substituto de Lewandowski – uma briga renhida está se desenrolando nos bastidores.

Tem de tudo, diz Malu Gaspar em sua coluna: troca de farpas, jogos de pressão, pactos de não-agressão e até a acusação de que um dos candidatos esteja promovendo uma campanha de destruição de reputações dos adversários que já ganhou entre eles o apelido de “gabinete do ódio”.

A vaga de Lewandowski será uma das duas para as quais Lula poderá nomear novos ministros do Supremo – além dele, Rosa Weber completa 75 anos em outubro e também se aposenta compulsoriamente.

Os candidatos a essas vagas já têm se movimentado desde a vitória de Lula, quando se cogitou que Lewandowski pudesse ser convidado para algum cargo no governo

Já naquela época, o presidente recém-eleito expressava aos mais próximos dois critérios e uma preferência para a escolha. Primeiro, que nomearia alguém “seu”, em que ele pudesse confiar plenamente. Depois, que o próprio Lewandowski seria ouvido na indicação. E ainda, que preferia alguém mais jovem, que pudesse ficar muitos anos no cargo.

Por tudo isso, o favorito sempre foi o advogado de Lula na Lava Jato, Cristiano Zanin, de 47 anos, autor da ação que levou o Supremo a considerar suspeito o então juiz Sergio Moro – o que anulou as condenações de Lula, restaurou sua elegibilidade e o recolocou no tabuleiro político.

Também estão na disputa o presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Bruno Dantas, defendido pelo ministro Gilmar Mendes e pelo senador Renan Calheiros (MDB-AL); o diretor jurídico da CSN, Manoel Carlos, que foi assessor de Lewandowski no STF e do TSE; o ministro do STJ Luís Felipe Salomão; o criminalista Pierpaolo Bottini, que tem tido atuação mais discreta; e o advogado e professor de direito constitucional da PUC Pedro Serrano, defendido pelo grupo Prerrogativas, que trabalhou pela libertação de Lula e na campanha de 2022.

Tanto os candidatos como seus padrinhos tem dedicado as últimas semanas a encontros e jantares com qualquer um que considerem ter poder de influência sobre Lula. Nessas conversas, tentam sondar o espírito do presidente e “se vender” como o melhor candidato. Mas outra parte da agenda tem sido dedicada a atacar os adversários – e, em alguns casos, a se defender.

Por seu favoritismo, hoje o maior alvo de fritura conforme o jornal O Globo, é o próprio Cristiano Zanin, que passou os últimos dias se esforçando para tentar combater amenizar os efeitos de duas teorias que passaram a circular nos meios jurídicos e políticos e foram repetidas diversas vezes à equipe da coluna, nos últimos dias.

A primeira é de que, por ter sido contratado pelos maiores acionistas da Americanas – Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles –, ele está ganhando “dinheiro demais” e já não tem mais interesse na vaga do Supremo.

A outra é de que Zanin teria perdido pontos com Lula ao entrar no caso Americanas sem avisá-lo.

O próprio presidente deu combustível a essa especulação, ao atacar Lemann em uma entrevista logo após a contratação de Zanin. Um dos adversários de Zanin, por exemplo, disse à equipe da coluna ter ouvido do próprio Lula que seu advogado está bem no escritório, é jovem e “talvez possa esperar”.

Esses partidários de outras candidaturas têm dito a ministros do governo e do Supremo – e repetiram à equipe da coluna – que outra razão pela qual Lula já não estaria mais tão propenso a indicar Zanin seria o rompimento da sociedade entre Zanin e o sogro, Roberto Teixeira.

Teixeira é compadre de Lula e advogou para o presidente por décadas. Em agosto passado, Zanin e a mulher, Waleska Teixeira, deixaram o escritório em meio a uma briga familiar que levou Waleska a romper relações com o pai.

Além disso, nos últimos dias também circulou em grupos de WhatsApp de advogados um PDF com a ordem de busca e apreensão realizada no escritórios de Zanin durante a operação “Sistema S”, que investigou suspeitas de recebimento de propina por juízes e advogados do então presidente da Fecomércio do Rio de Janeiro, Orlando Diniz.

A operação foi suspensa por uma liminar do ministro Gilmar Mendes e depois anulada pelo Supremo, mas o fato de estar de volta aos celulares do meio jurídico também ajuda a desgastar a imagem de Zanin.

Preocupado com a artilharia, o advogado de Lula já se encontrou com outros candidatos para firmar uma espécie de pacto de não-agressão: Manoel Carlos, de 43 anos, e Bruno Dantas, de 44.

Embora nenhum deles possa garantir que o outro não vá quebrar o pacto, o objetivo na prática é compor uma aliança contra o candidato que eles acreditam estar fomentando os ataques: Pedro Serrano, que é membro do Prerrogativas e corre por fora na disputa.

“O importante é fugir da intriga. O Pedro Serrano montou um gabinete do ódio para atacar todo mundo”, disse um deles à equipe da coluna, referindo-se a grupos de WhatsApp e mensagens disparadas individualmente por advogados do grupo Prerrogativas, que apoia Serrano.

Foi nesses grupos que começaram a circular, na noite de quarta-feira, vídeos da cerimônia em que Bruno Dantas condecorou com Grande Colar do Mérito do TCU o ex-presidente Michel Temer, a quem Lula outro dia mesmo chamou de “golpista”.

“Isso não foi um tiro no pé, foi um tiro na testa”, postou uma jurista ligada ao PT do Rio em um grupo de advogados, na mensagem a que tivemos acesso. “Ou é excesso de autoconfiança ou é excesso de burrice”, escreveu outro membro.

O episódio irritou o grupo de Dantas, que alega que a homenagem foi proposta pela sua antecessora na presidência do TCU, Ana Arraes, e já tinha sido adiada por causa da pandemia.

Já contra Manoel Carlos, candidato de Lewandowski, a principal intriga na praça é a história de que, depois de ter jantado com ele em sua casa no lago Sul de Brasília, acompanhado do ministro Luiz Marinho e do próprio Lewandowski, Lula teria comentado que achou a casa “grande demais para um advogado que vem do setor público”. O ex-auxiliar de Lewandowski é diretor jurídico da CSN há 7 anos.

Nos últimos dias, a mesma história foi repetida três vezes à equipe da coluna por pessoas que apóiam candidatos diferentes na corrida para o Supremo.

Assim como Zanin, Manoel Carlos também contratou uma assessoria de imprensa para ajudar em sua campanha, mas tem feito lobby apenas nos bastidores pela indicação. Nós o procuramos, mas ele não quis falar sobre o assunto.

Conversando com aliados do presidente, porém, apuramos que Manoel Carlos de fato jantou com Lula há algumas semanas, mas o encontro não aconteceu na casa do advogado no Lago Sul.

Já Serrano, acusado pelos colegas de fomentar os ataques, vem fazendo uma campanha mais pública Em uma live no final do ano passado, ele disse que colocava o seu nome “à disposição” de Lula para ser ministro do STF.

“Resolvi participar desse troço, até pra depois não vir aquele papo ‘ah, não tinha nome’. Tem nome sim, o meu tá aí. É isso, mas não sei o que vai dar, obviamente”, afirmou à época ao site DCM.

No último sábado (11), durante uma visita à escola do Movimento Sem Terra (MST), o próprio Ricardo Lewandowski ouviu um apelo público pela indicação de Serrano ao Supremo de integrantes do grupo Prerrogativas e de outras entidades ligadas à esquerda, a Associação Brasileira de Juristas Pela Democracia (ABJD) e a Associação de Juízes para Democracia (AJD).

Apesar da campanha ostensiva, Serrano não quis dar entrevista e nem comentar a afirmação dos colegas de que ele teria montado “um gabinete do ódio” para atacar os adversários.

O fato de ele ser apoiado pelo Prerrogativas lhe dá algum peso na disputa, uma vez que o grupo, que ganhou notoriedade por combater a Lava Jato e emplacou diversos aliados em postos importantes no governo Lula – como a presidência dos Correios, secretarias em ministérios e assessoria internacional do BNDES.

Mas o coordenador do grupo diz que não espera tratamento privilegiado e nega ter relação com os ataques a candidatos ao Supremo.

“Apoiaremos de imediato qualquer escolha do presidente Lula e não temos a ilusão de que seremos ouvidos de forma privilegiada. Não toleraremos qualquer tipo de gabinete de ódio nem propagação de mentiras”, disse ele à equipe da coluna.

“Os candidatos têm de ter espírito público, e não ter preocupação em agradar a opinião pública. Não tem que entrar em picuinha”, afirmou Carvalho.

Todos os cotados ao STF mencionados ao longo deste texto foram procurados pela equipe da coluna, mas não quiseram se manifestar oficialmente.

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