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sexta-feira 3 de novembro de 2023 às 19:22h

“Brasil tem que liderar transição energética sem abrir mão do petróleo”, diz ministro

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Desde janeiro, quando assumiu o ministério de Minas e Energia do governo Lula 3, o mineiro Alexandre Silveira tem enfrentado desafios monumentais em sua pasta — desde o apagão nacional em 15 de agosto até a maior seca em décadas na região Norte. Mesmo assim, Silveira se diz satisfeito e otimista com os rumos do setor energético brasileiro, que vem recuperando, segundo ele, o protagonismo global em sustentabilidade e descarbonização. Em entrevista à Revista IstoÉ Dinheiro, o ministro afirma que os investimentos públicos e privados vão consolidar o Brasil na vanguarda da energia verde, gerando empregos e riqueza em todas as partes do País. Confira, a seguir, sua entrevista:

Revista IstoÉ Dinheiro— Qual o balanço desses dez primeiros meses do governo no setor energético?
ALEXANDRE SILVEIRA — Esses meses foram realmente uma prova de fogo. Estou muito satisfeito com os resultados. Eu não esperava que no setor elétrico, o setor de petróleo e gás, o setor mineral por causa dos minerais críticos de terras raras e a transição energética fossem se tornar temas tão robustos. Tudo isso tem sido debatido em especial internacionalmente. E o Brasil, pelas suas particularidades e potencialidades, tem se tornado o grande foco e, consequentemente, o grande protagonista dessas pautas no mundo.

“Estamos contratando um volume enorme de linhas de transmissão. Serão R$$ 56 bilhões em 2023 para destravar investimentos de R$ 200 bilhões”

Mas não é novidade que o Brasil é referência em energia limpa…
Sim, sim. Mas por já ser reconhecido, isso tem ajudado a atrair investimentos. Temos nossa matriz elétrica 88% limpa e renovável. No mundo, é 15%. E ainda temos muito potencial para crescer em renováveis, principalmente em eólica e solar.

O potencial é imenso, mas falta investimento em infraestrutura, não?
Sempre há espaço para mais investimentos. As políticas públicas de estruturação de transmissão deixaram de ser feitas há muitos anos, e nós voltamos a fazer de forma muito vigorosa agora. Por isso estamos contratando um volume enorme de linhas de transmissão. Foram R$ 16 bilhões só na primeira metade do ano. Já assinamos os contratos, demos ordem de serviço. Vamos começar as obras em Minas Gerais e na Bahia. E vamos contratar mais R$ 40 bilhões. Haverá leilão de linhas de transmissão em dezembro e março. Somando tudo, serão R$ 56 bilhões de linhas de transmissão para poder permitir destravar investimentos de mais de R$ 200 bilhões em eólica e solar no Nordeste brasileiro nos próximos anos, trazendo essa energia para centro de carga, que é o Sudeste. A expansão da estrutura energética vai ajudar no processo de reindustrialização do País.

Ter energia limpa e mais barata vai ser suficiente para atrair empresas de fora?
Com certeza. Entra nesse pacote o hidrogênio verde, tanto para reindustrializar o Brasil, quanto para exportar sustentabilidade. Já que dessa forma, literalmente, nós armazenaremos energia. Vamos poder estocar vento e estocar sol. Porque teremos como armazenar energia gerada pelo vento.

O sistema elétrico brasileiro está em risco com a estiagem na região Norte?

Estive, pessoalmente, numa missão liderada pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, por determinação do presidente Lula, e fiquei muito impactado de ver rios extremamente caudalosos, hoje secos. Mas não há riscos iminentes à nossa segurança energética porque temos alternativas de geração. Em caso de necessidade, temos térmicas a óleo, térmicas a gás, algumas a biodiesel e, portanto, temos um planejamento muito seguro. Além disso, os reservatórios do Sudeste ainda estão em níveis muito positivos.

“O grande desafio do Brasil é buscar um equilíbrio entre desenvolvimento econômico, com frutos sociais, e sustentabilidade”

Mesmo com o desligamento de hidrelétricas no Norte, como a usina de Santo Antônio?
Sim. Mesmo tendo perdido 100% da geração de Santa Antônio, que deixou de gerar por falta de água, já que não é uma usina com reservatório, é uma usina que nós chamamos de fio d’água, não tivemos nenhum problema energético. Antes mesmo do problema, tomamos precauções importantes. Determinamos que todos os 169 sistemas de geração isolados da região Norte, onde não tem densidade demográfica que permite viabilizar a linha de transmissão e que operam com térmicas a óleo, fossem abastecidos no seu limite. Isso contribuiu muito para a manutenção da segurança energética do Norte. Custou R$ 12 bilhões, mas preservou a segurança energética da região.

Queimar óleo diesel para gerar energia não contraria a estratégia de reduzir o impacto ambiental?
É uma questão temporária. Por isso é que queremos começar a hibridizar essas usinas a óleo. Vamos começar por onde é tecnicamente viável. Podemos hibridizar as usinas térmicas com energia solar. Estamos fazendo estudos. Queremos concluir esses estudos no primeiro semestre do ano que vem e começar obras já no ano que vem. Vai custar cerca de R$ 3 bilhões e já temos o recurso com fundo da Eletrobras, que será pago nos próximos anos. E temos linha de financiamento do BNDES para isso.

A privatização da Eletrobras não prejudica o plano do governo de investir em locais que não são rentáveis, mas têm um viés social?
Não tem correlação, já que a geração depende só do governo. Sobre a privatização da Eletrobras, todos conhecem a minha posição pública. Um setor estratégico, como é o setor elétrico, deveria ter o governo com participação majoritária. Entendo que a Eletrobras deveria ter continuado no Estado ou que fosse uma empresa onde o governo fosse controlador. O modelo ideal, na minha modesta opinião, é o modelo da Petrobras, de economia mista, de capital aberto dentro e fora do Brasil, mas com o governo brasileiro como controlador.

De forma concreta, o Brasil tem atraído que tipo de investimento na área energética?
Investir em energia não é só em eletricidade. Estamos criando condições para que o capital, tanto nacional quanto externo, invista em geração de energia, para que nós tenhamos cada vez mais superávit de produção de energia limpa e renovável, mostrando que nós vamos poder reindustrializar o Brasil, assim como fazer o Brasil autossustentável na produção de fertilizantes. Hoje nós somos muito dependentes. É importante a gente lembrar algumas coisas fundamentais. O Brasil é reconhecido no mundo como o celeiro que alimenta a humanidade. Então, temos que nos tornar autossustentáveis nos fertilizantes, e o hidrogênio verde será fundamental, porque é dele que nós vamos produzir amônia, que vai produzir ureia, consequentemente os nitrogenados. Com isso, acreditamos muito na exportação de sustentabilidade pelas nossas potencialidades. As crises energética e ambiental como a que o mundo enfrenta vão, cada vez mais, valorizar nossos produtos verdes.

O etanol também continua como estratégico para o governo?

Sem dúvida. Um exemplo disso é o etanol de segunda geração. Hoje já estamos na oitava usina de etanol de segunda geração, e o mundo, os países industrializados, já pagam pelo etanol de segunda geração, que é um etanol produzido de forma mais descarbonizada. Se o Brasil souber aproveitar essa oportunidade, vamos poder vender diversos outros produtos da cadeia produtiva e da indústria com valor agregado, já que nós todos reconhecemos a necessidade que o mundo tem de descarbonizar. Uma grande frente é a descarbonização através dos biocombustíveis. O Brasil, por ter 11 % da água doce do planeta, por ter terra fértil, por ter mão de obra qualificada, por ter uma terra que investiu muito em tecnologia nas últimas décadas, é quem lidera essa transição.

Mas a migração dos combustíveis fósseis para os elétricos no Brasil está defasada em comparação a outros países…
No setor de transporte, não vamos diretamente para a eletrificação, como a China quer. Antes, vamos ter uma matriz híbrida. Isso porque a grande força do Brasil é a sua diversidade, é a sua pluralidade energética. Antes de vermos carros 100% elétricos, teremos muitos veículos híbridos flex. A concorrência entre as diversas fontes de energia é nosso grande diferencial competitivo. Quem ganha é o consumidor.

Faz sentido esse discurso de descarbonização do governo, enquanto a Petrobras busca novas reservas de petróleo, inclusive na Foz do Amazonas?
Faz todo o sentido. A transição energética é uma realidade e nós não perderemos essa oportunidade. Primeiro porque a transição energética, em sua semântica, é uma transição, um processo gradual, uma jornada. O Brasil tem que liderar a transição enérgica sem abrir mão do petróleo. Temos de ser realistas e reconhecer que a matriz ainda é dependente da gasolina, do diesel e do gás. Sabemos que a única forma de combater desigualdade de forma sólida e consistente é através da geração de emprego. E como é que nós vamos gerar emprego? Usando essa pluralidade energética nossa. É importante a gente ressaltar e esclarecer à população brasileira que parte da arrecadação da indústria do petróleo vai ainda para o fundo social que financia educação e saúde.

Então, antes de descarbonizar o Brasil precisará carbonizar?
O Brasil já é um país que pode ser considerado líder em sustentabilidade. Nosso governo não transigirá com relação ao cumprimento da legislação ambiental. Mas isso não tem, absolutamente, nenhuma correlação com o atravancamento do desenvolvimento nacional. O grande desafio do Brasil é buscar um equilíbrio entre desenvolvimento econômico, com frutos sociais, resultados efetivos para a vida das pessoas, e sustentabilidade. É possível fazer isso na exploração de petróleo, de forma correta. Ou seja, cumprir toda a legislação vigente e todas as condicionantes para a segurança de exploração.

Mas explorar petróleo na Amazônia não é arriscado para o meio ambiente?
Por isso é que defendemos que o Ibama avance nos licenciamentos, colocando as condições necessárias para que preservemos todo o bioma e toda a condição ambiental daquela região. Mas é um erro chamar aquela região de Foz do Amazonas. Não é foz nenhuma. Está a 500 quilômetros da verdadeira Foz do Amazonas. Ou seja, está em águas profundas, completamente fora do bioma amazônico. Vai do Amapá até o Rio Grande do Norte. A ANP, à época, foi infeliz de dar o nome de Foz do Amazonas.

Qual será o maior legado do governo Lula 3 para o setor energético do Brasil?

Vários. Será um governo lembrado por entregar um País energeticamente mais seguro, com mais equilíbrio entre segurança energética e mobilidade tarifária, para que a gente não só atenda o melhor custo-benefício de energia elétrica, mas para que isso também sirva de mola propulsora do desenvolvimento nacional. Um país que valorizou o conteúdo local com o propósito de gerar emprego, renda, combater desigualdade e cuidar das pessoas, que é o grande propósito do governo liderado pelo presidente Lula. Um país que investiu na sua pluralidade energética e que reconheceu a importância dos biocombustíveis para o Brasil. Os biocombustíveis terão para o Brasil a mesma importância que o petróleo tem para a Arábia Saudita.

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