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domingo 30 de agosto de 2020 às 07:39h

Bolsonaro impõe condições para voltar ao PSL

NOTÍCIAS, POLÍTICA


Depois do rompimento traumático de seu curto casamento com o PSL no ano passado, parecia improvável que Jair Bolsonaro (sem partido) fosse retomar a relação com a sigla pela qual se elegeu presidente em 2018. No entanto, antes que a conturbada disputa pelo comando do partido que levou ao racha complete um ano, é real a possibilidade de que Bolsonaro retorne à legenda.

Em 2019, o embate público entre Bolsonaro e o presidente nacional da sigla, Luciano Bivar, dividiu o partido, repercutiu especialmente na bancada da Câmara dos Deputados e impulsionou a criação do Aliança pelo Brasil, que reuniria bolsonaristas em uma nova agremiação de perfil conservador.

A dificuldade em fazer decolar a nova legenda, contudo, fez com que o presidente admitisse recentemente que “está conversando com três partidos”.

Da ala bivarista, o deputado federal Delegado Waldir Soares (PSL-GO) afirmou, em entrevista ao HuffPost, que Bolsonaro “não tem muita opção”. “Venderam um terreno na lua, né? Era claro que não ia dar tempo de fundar o Aliança”, ironizou ele, que esteve no centro de um dos mais ferrenhos embates do partido em 2019, quando era líder da bancada da Câmara e protagonizou uma disputa com o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL) para tentar manter a função estratégica.

“Os candidatos ligados a Bolsonaro tiveram que ir para outros partidos, alguns ficaram fora da divisão de fundo eleitoral, e o presidente sabe, por outro lado, que o PSL tem fundo partidário, tempo de TV”, acrescentou Waldir. “Esse movimento mostra que mudaram completamente o discurso e provaram que estávamos certos, que o partido era idôneo, tem compliance e coerência.”

Quem vem comandando a reaproximação entre Bolsonaro e PSL é, de um lado, o senador Flávio Bolsonaro, o filho do presidente que é tido como o mais “político” entre eles e, do outro, Antonio Rueda, vice-presidente do PSL. Os dois são amigos e mantêm contato constante e foi Rueda quem organizou uma ligação entre o presidente e Bivar.

Oficialmente, Bolsonaro cobrava maior transparência nas contas, mas o principal motivo do desentendimento em 2019 foi a divisão do fundo partidário e eleitoral, inflado nas últimas eleições graças à explosão de votos do bolsonarismo. O até então nanico PSL cresceu exponencialmente, se tornou a segunda maior bancada da Câmara dos Deputados – atrás apenas do PT –, e garantiu, para este ano, mais de R$ 200 milhões de fundo partidário.

O presidente e seu grupo até ensaiaram um movimento jurídico para levar parte do fundo partidário com os parlamentares que se desfiliassem do PSL e fossem para o Aliança, mas sem avanços. E, segundo fontes ouvidas pelo HuffPost, a verba eleitoral tem papel relevante agora na tentativa de reatar laços.

A reaproximação foi trazida à tona pelo presidente em sua live semanal via Facebook, há duas semanas. “Alguns sinalizaram uma reconciliação. A gente bota as condições na mesa para reconciliar”, declarou ele.

“Eu não posso investir 100% na Aliança, em que pese o esforço de muita gente. Tenho que olhar outros partidos e tenho recebido convites. Três partidos me convidaram para conversar, um foi o Roberto Jefferson (o PTB). E já conversei com o presidente de dois outros partidos”, completou Bolsonaro.

Na ocasião, o presidente confessou que esperava que o seu próprio partido já estivesse pronto este ano, mas que uns “43, 44 parlamentares” do PSL mantinham conversas com ele ― as bancadas do partido na Câmara e no Senado têm 41 deputados e dois senadores.

O interesse na reaproximação também envolve a retirada das sanções que foram impostas a 14 deputados bolsonaristas na Câmara: suspensos até janeiro do ano que vem, eles não podem presidir comissões, por exemplo, o que trava a atuação parlamentar.

O próprio Bivar afirmou recentemente, em entrevista ao jornal O Globo, que colocaria a possível volta em discussão com a bancada, e que a revisão da sanção é um dos tópicos na mesa. Mas fez questão de dizer que o assunto ainda não está sendo oficialmente discutido. “Entendo esse comentário dele como uma gentileza, um sinal de distensão”, declarou.

Eleições municipais

Antes de falar sobre a volta ao PSL, Bolsonaro havia negado que participaria das articulações do pleito deste ano, dizendo que “não se meteria em eleição municipal” se o Aliança não tivesse candidato.

Na última sexta-feira (28), Bolsonaro foi às suas redes sociais dizer que continuará tentando viabilizar o novo partido, mas que, “em comum acordo”, tem conversado com três outras legendas, “para o caso de não se concretizar a tempo o Aliança”. Mas isso, de acordo com ele, apenas em 2021.

Apesar de confirmar negociações com outros partidos, Bolsonaro garantiu que não participará do 1º turno das eleições municipais ― sem dar maiores esclarecimentos sobre o segundo turno. “Tenho muito trabalho na presidência e tal atividade tomaria todo meu tempo num momento de pandemia e retomada da nossa economia”, resumiu.

Bolsonaro também declarou a parlamentares do PSL, em reunião na quarta-feira (26), que esperaria a definição da presidência da Câmara dos Deputados, em fevereiro do ano que vem, para discutir se volta ou não à legenda.

O discurso de isenção, no entanto, não é 100% realidade. No Rio de Janeiro, por exemplo, reduto eleitoral do presidente e de seus filhos, Bolsonaro mantém a parceria com o atual prefeito, Marcelo Crivella (Republicanos), que tenta a reeleição apesar da alta impopularidade. Dois de seus filhos, Flávio e o vereador Carlos Bolsonaro, se filiaram em março à legenda ligada à Igreja Universal.

Por lá, o bispo pode ter como vice a deputada federal Major Fabiana (PSL-RJ). O nome dela, contudo, enfrenta resistência da ala bivarista do PSL, ainda que ela mantenha uma boa relação com o presidente do partido no Rio, deputado federal Gurgel Soares. Isso porque, ex-secretária de Vitimização e Amparo à Pessoa com Deficiência do governo Wilson Witzel (PSC), ela voltou à Câmara dos Deputados em 2019 para ajudar Eduardo Bolsonaro a conseguir os votos para se tornar líder da bancada.

Em São Paulo, existe um movimento para que a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) desista da sua candidatura para dar lugar a Janaína Paschoal, deputada estadual pela legenda. Embora ambas tenham feito críticas públicas a Bolsonaro, Joice é abertamente adversária do presidente.

Janaína, por sua vez, reluta em disputar e diz que quer concluir seu mandato. Waldir confirma que existe uma pressão para que Joice não dispute, já que, até agora, não vai bem em pesquisas de intenção de voto, mas nega relação com a questão Bolsonaro.

“Não vamos gastar milhões em uma candidatura que tem 1% e perde até para o Guilherme Boulos (candidato do Psol). É ruim até para ela, sai menor do que entrou”, diz.

Segundo a revista Veja, Joice, no entanto, não é a única a incomodar Bolsonaro. Ele teria apresentado uma lista de oito parlamentares que ele gostaria que fossem expulsos do partido como condição para seu retorno, incluindo a ex-líder do governo no Congresso, o senador Major Olimpio e os deputados Julian Lemos e Junior Bozzella.

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