terça-feira 24 de dezembro de 2024
"Mulheres dos escombros" trabalham na Alemanha - Foto: Reprodução
Home / Mundo / MUNDO / A participação feminina esquecida na reconstrução pós-guerra
quarta-feira 4 de maio de 2022 às 10:28h

A participação feminina esquecida na reconstrução pós-guerra

MUNDO, NOTÍCIAS


“As mulheres estão associadas ao trabalho que ninguém vê”, explica  Maria Johanna Schouten, professora do Departamento de Sociologia da Universidade da Beira Interior, em Portugal. Durante as guerras, aquelas que permanecem em suas cidades têm a difícil responsabilidade de cuidar da comunidade e depois reconstruí-la após o cessar-fogo.

Na Segunda Guerra Mundial, as Trümmerfrauen, termo em alemão que significa “mulheres dos escombros”, representaram uma prova da realidade esquecida de que as mulheres são fundamentais para a reconstrução de um país após um período de ofensivas militares.

Um dado do Fórum inglês History & Policy revela que seis em cada dez casas foram destruídas na cidade alemã de Colônia e quase todas as residências da cidade de Düsseldorf, no oeste da Alemanha, ficaram inabitáveis.

“O que as mulheres têm feito ao longo da história é, primeiro, arrumar os restos, retirar pedras e destroços, para que pelo menos possam andar pelas ruas, e só depois começam a construir abrigos provisórios”, explica Schouten.

Essa etapa inicial da reconstrução era primordial para, na sequência, restabelecer as cidades, com o trabalho de engenheiros e arquitetos. A especialista explica que as mulheres tiveram uma grande participação na construção civil do pós-guerra. A atividade foi inusitada, já que nos anos 1940 a área não era relacionada ao trabalho feminino.

Maria Johanna explica que a presença feminina na reconstrução da Alemanha no pós-guerra não foi um fenômeno de massa e que a maior parte das alemãs não participou desse momento do país. No entanto, esse fato não tira a importância das mulheres no período em que o país estava se reerguendo depois de anos de bombardeios das tropas inimigas.

O trabalho das “mulheres dos escombros” era feito de forma voluntária ou assalariada. A professora afirma que nem todas ajudaram no processo apenas pelo amor à pátria, já que havia uma pressão social para que participassem.

Além disso, havia o aspecto relacionado à honra manchada. “Muitas foram estupradas na Alemanha no fim da guerra, perderam sua dignidade, e existia a ideia de querer contribuir para a sociedade após o trauma. Elas foram duplamente castigadas, pois faziam tudo para compensar a honra perdida.”

A guerra na Ucrânia

Para além dos que ficaram, a cada cinco ucranianos que deixaram o país, pelo menos um retornou, segundo a ONU. O professor de relações internacionais da Facamp (Faculdades de Campinas) James Onnig explica que um dos motivos do retorno é o medo de invasão e saque das propriedades no país.

A professora Maria Johanna Schouten acredita que as ucranianas terão um papel ativo na reconstrução do território após o fim do conflito. “Na Primeira Guerra Mundial, Mariupol, Sebastopol e Odessa foram destruídas, e foi nessa altura que as mulheres viveram a mesma atuação. Atualmente, tiveram mais acesso à educação, portanto pode ser que também trabalhem como engenheiras e arquitetas no pós-guerra”, completa.

Futuro e reconhecimento

A decisão de ficar traz para as mulheres a responsabilidade ligada à família, além da luta para sobreviver em um ambiente sob constante ameaça e sem alimentos nem remédios. Há também o medo de sofrer um estupro e a desestabilidade emocional.

"Mulheres dos escombros" trabalham em Berlim
“Mulheres dos escombros” trabalham em Berlim

Foi apenas nos anos 1960, com a “segunda onda feminista”, que houve uma revolução de pensamentos e reivindicações sobre a desigualdade de gênero e na década seguinte surgiu uma participação política mais evidente.

Para Schouten, “em geral as pessoas falam menos sobre as mulheres do que sobre os homens; elas são vistas em primeiro lugar como mães. Há muitas sociedades em que se diz que os homens vão à guerra, enquanto a guerra das mulheres é o parto.”

Veja também

‘É injustiça tachar Forças Armadas de golpistas’, diz nova presidente do Superior Tribunal Militar

A presidente eleita do Superior Tribunal Militar (STM), Maria Elizabeth Rocha, afirmou que é injusto chamar …

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

error: Content is protected !!