O presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL), comanda um bloco suprapartidário com inédito poder de fogo. Blocos parlamentares são coisa normal, diz Elio Gaspari, colunista da Folha de S. Paulo.
. A troca de pleitos regionais pelo voto de parlamentares também faz parte do jogo. Isso nada tem a ver com a entrega de um banco público “de porteira fechada”.
A entrevista aos repórteres Julia Chaib, Thiago Resende e Camila Mattoso com Lira teve o seguinte diálogo:
– Qual é a situação da Caixa Econômica?
A Caixa faz parte do acordo com os partidos.
– Porteira fechada [com as 12 vice-presidências incluídas]?
Esse foi o acordo.
(…) Os nomes serão colocados à disposição do presidente, que fará a escolha.
(…) Ali as coisas têm que ser tratadas com muita transparência e vão ser tratadas com muita clareza. E vão ter, claro, indicações políticas que não serão criminalizadas por isso. A turma terá responsabilidade. A exoneração é o primeiro convite para quem não andar corretamente.
– E a Funasa [Fundação Nacional de Saúde]?
Funasa faz parte do acordo com o Republicanos.
A Caixa Econômica é um dos maiores bancos oficiais do país e a Funasa tem uma arca de R$ 3,4 bilhões.
Ganha um fim de semana num garimpo da Amazônia quem já tiver ouvido respostas semelhantes dadas pelo presidente da Câmara. O acordo é levado a Lula para que ele sancione a entrega de um banco “de porteira fechada” como se fosse uma fazenda do sertão.
Entre 2011 e 2013, um dos vice-presidentes da Caixa foi o notório ex-ministro Geddel Vieira Lima. Penou algum tempo na cadeia, e num de imóvel de um de seus amigos a polícia encontrou malas com R$ 51 milhões.
Lira tem toda razão quando diz que as indicações de políticos não devem ser criminalizadas. Como a máquina pública sofre com a infiltração de criminosos, políticos ou não, a turma do centrão poderia dar uma lição de transparência.
Se há um acordo para entregar 12 vice-presidências ao bloco do doutor Lira, não faria mal que os nomes a serem levados a Lula fossem divulgados. O mesmo poderia ser feito com seus candidatos a cargos na Funasa.
Indicações políticas podem vir de parlamentares ou de cidadãos. Algumas glorificam, outras emporcalham. Um exemplo de glorificação:
Ainda conforme Elio Gaspari, colunista da Folha de S. Paulo, o jornalista Júlio de Mesquita pediu em 1897, ao presidente Prudente de Morais que mandasse Euclides da Cunha para Canudos como adido junto às tropas que seguiam para a Bahia. Euclides havia passado atribuladamente pelo Exército. Desse pedido, resultaram algumas reportagens para O Estado de S. Paulo e um monumento da literatura nacional (“Os Sertões”).
A ida de Euclides para Canudos como adido era uma coisa meio girafa, diz o colunista. O repórter Manuel Benício, do Jornal do Commercio, que criticava a operação, foi expulso da região por ordem do general que comandava a tropa.
No dia 12 de setembro, quando acabou a resistência do arraial, Euclides telegrafou ao então governador de São Paulo, Campos Sales:
“As forças legais tomaram aos jagunços, no dia 7, a grande trincheira que protegia a estrada de Cambaio e da Fazenda Velha. Animação geral.
Saúdo o eminente chefe republicano.”
Há pedidos e pedidos, nomeações e nomeações.
Ninguém criminaliza a política. A Operação Lava Jato, com todas as suas malfeitorias, não obteve confissões de inocentes. Quem criminaliza empresas e órgãos públicos são os criminosos, diz Elio Gaspari.