Os deputados Felipe Rigoni (PSB-ES) e Tabata Amaral (PDT-SP) ganharam evidência nos últimos dias por desrespeitarem as orientações de seus partidos e votarem a favor da reforma da Previdência. As siglas, em retaliação, ameaçam expulsar os parlamentares – o PDT já determinou a suspensão de Tabata.
O grau de infidelidade da dupla em todas as votações ao longo deste ano na Câmara foi bem superior à média de outros 17 deputados que contrariaram a orientação das legendas e aprovaram as mudanças previdenciárias.
O jonral Estado de SP analisou o comportamento político de todos os 11 infiéis do PSB e os oito do PDT nas 144 votações nominais realizadas este ano. Em cerca da metade das votações, Rigoni e Tabata contrariaram as determinações partidárias, superando a média geral de 28% dos demais parlamentares. Excluídas as ocasiões em que as duas legendas liberaram as bancadas para votar como quisessem, Tabata votou em dissonância com o partido em 43% das vezes. Rigoni, em 54%. Se a dupla não está afinada com as orientações partidárias, entre eles a sincronia é alta.
Os dois chegaram à Câmara dos Deputados na primeira eleição que disputaram impulsionados pela onda de renovação política que alterou quase metade das cadeiras do Parlamento. Ambos são do mesmo movimento suprapartidário, o Acredito. Na Câmara, a atuação é também é alinhada. Juntos, eles assinaram 25 propostas, projetos de lei ou requisições. A maioria ligada ao setor da educação. Em 84 votações no plenário em que estiveram presentes, Tabata e Rigoni só discordaram em 18 delas. Nas outras 66 vezes deram o mesmo voto. A atuação da dupla rendeu ataques dentro e fora do mundo político. Nas redes sociais, grupos ligados à esquerda acusam Tabata de traição.
O candidato derrotado à Presidência do PDT, Ciro Gomes, afirmou que a parlamentar exerce uma espécie “dupla militância” ao “seguir” as orientações do movimento e não as do partido. “Ninguém pode servir a dois senhores”, afirmou Ciro à Rádio Eldorado na segunda-feira, lembrando que ele próprio trocou sucessivas vezes de partido por discordar de decisões internas. Durante a entrevista, Ciro também criticou os movimentos suprapartidários como o Acredito, de Tabata e Rigoni. Fundado por jovens brasileiros oriundos de universidades americanas, o movimento tem ligação com a Fundação Estudar, criada nos anos 1990 pelo bilionário Jorge Paulo Lemann.
Na quinta-feira passada, um dia após a votação, o jornal disse que tentou falar com Tabata, mas ela não quis dar entrevista. Ela só tratou do assunto pelas redes sociais e em um artigo escrito no jornal Folha de S.Paulo. “Meu voto pela reforma da Previdência é um voto de consciência. Não é um voto vendido, não é um voto por dinheiro de emendas. É um voto que segue as minhas convicções e tudo que estudei até aqui”, escreveu em uma rede social. Em sua coluna, a parlamentar afirmou que “muitos partidos já não representam de fato a sociedade”, que “as siglas ainda ostentam estruturas antigas de comando” e que “falta mais democracia interna”.
As declarações a colocaram em choque direto com o presidente do partido, Carlos Lupi. Nesta semana, ela e os outros sete infiéis foram suspensos politicamente do PDT, o que pode levar à perda de representação em comissões na Câmara. Lupi disse ainda estar arrependido da filiação da parlamentar, o que classificou como um erro. O pedetista disse que não vai aceitar mais filiados ligados a grupos da sociedade civil com financiamento externo, como o Acredito.
Dentro do PSB, Rigoni é o segundo parlamentar que mais contrariou o partido este ano. O deputado capixaba, que foi o primeiro deficiente visual a ser eleito para a Câmara, votou 58 vezes divergente da orientação em 107 pleitos em que participou. Só perde para Rodrigo Coelho (SC), que contrariou o PSB em 55% das vezes (65 de 118 votações que participou). Procurados pela reportagem para falar sobre as votações, Tabata e Rigoni não se manifestaram.