Cortar o açúcar da dieta é uma decisão comum para quem busca melhorar a saúde. Geralmente as dietas tentam reduzir ou eliminar o açúcar adicionado artificialmente, já que é quase impossível cortar completamente todo o açúcar. Carboidratos e frutas, por exemplo, são indispensáveis conforme reportagem de Bela Lobato, da revista Super, para uma dieta saudável, mesmo que contenham açúcar.
Mas a mudança de hábitos pode desencadear mudanças significativas no corpo e na mente. O açúcar tem um papel central no sistema de recompensa do cérebro, já que o seu consumo estimula a liberação de dopamina, neurotransmissor ligado à sensação de prazer. É o mesmo sistema que é ativado por drogas como a cocaína, as anfetaminas e a nicotina.
Na verdade, um estudo provou que alimentos extremamente doces podem oferecer recompensas fisiológicas ainda maiores do que as do uso da cocaína; Esse circuito químico é parte de um sistema essencial para a sobrevivência da espécie, já que incentiva comportamentos naturais essenciais, como comer alimentos saborosos e de alta energia, fazer sexo e socializar.
A busca pela sensação agradável da dopamina nos leva a buscar o estímulo novamente, criando um ciclo de dependência comportamental. Não existe consenso entre os cientistas se há também um vício químico.
Ao reduzir ou eliminar o açúcar, o corpo pode reagir com sintomas desagradáveis. Algumas pessoas relatam dores de cabeça, cansaço, alterações de humor e até ansiedade. Esses sintomas são temporários e tendem a melhorar com o tempo. Eles estão diretamente ligados ao impacto da redução da dopamina no cérebro. Como essa substância regula funções como controle hormonal e emoções, é como se o seu corpo ficasse muito estressado, uma sensação que só melhora quando ele se acostuma com os novos níveis.
Muitos dos efeitos colaterais relatados tem a ver também com a flutuação no nível de glicose no sangue. Essa hipoglicemia, mesmo que temporária, pode favorecer sintomas como irritabilidade, dificuldade de concentração, tontura e palpitações. Isso é mais comum quando carboidratos em geral são limitados.
Embora a ideia de um “vício em açúcar” seja controversa, estudos com animais mostram que ele pode induzir comportamentos de desejo e compulsão semelhantes aos de substâncias químicas viciantes. No entanto, os resultados ainda são inconclusivos em humanos.
“É quase certo que uma alteração no equilíbrio químico do cérebro esteja por trás dos sintomas relatados em humanos que retiram ou reduzem o açúcar da dieta. Além de estar envolvida na recompensa, a dopamina também regula o controle hormonal, náuseas e vômitos e ansiedade.”, explica o cientista James Brown em um texto no site The Conversation. “Quando o açúcar é retirado da dieta, a rápida redução dos efeitos da dopamina no cérebro provavelmente interfere na função normal de muitas vias cerebrais diferentes, explicando por que as pessoas relatam esses sintomas.”
Reduzir açúcares adicionados oferece benefícios inegáveis. Diversos estudos apontam melhoras na saúde bucal, na qualidade do sono, no controle de peso e diminuição do risco de doenças crônicas, como diabetes e problemas cardiovasculares. Mas é essencial equilibrar a dieta para evitar efeitos colaterais.
Dietas extremas, que eliminam completamente carboidratos, devem ser evitadas. Isso porque nem os carboidratos nem os açúcares são vilões: o seu processamento é fundamental para a produção de glicose, fonte energética vital para o funcionamento dos órgãos, incluindo o cérebro.
Uma abordagem prática é focar na redução de alimentos ultraprocessados, que contêm grandes quantidades de açúcar adicionado. Priorizar frutas, legumes e grãos integrais garante nutrientes essenciais sem privar o corpo de energia.
Lembre-se: os sintomas da adaptação são temporários. Se a dieta for equilibrada e as refeições forem regulares, a transição pode ser mais suave. Com o tempo, o cérebro ajusta suas respostas, reduzindo a necessidade de estímulos frequentes relacionados ao açúcar.
Para aliviar os impactos da nova dieta, também vale focar mais em atividades prazerosas, como exercícios físicos moderados, relações sociais e hobbies. Assim, o corpo libera hormônios de prazer de outras formas, compensando a falta da dopamina associada ao consumo do açúcar.
A redução do açúcar deve ser vista como uma mudança sustentável, não como uma privação. O objetivo é criar hábitos alimentares equilibrados, que beneficiem a saúde a longo prazo. Para isso, é importante permitir-se consumir um docinho de vez em quando. Isso reduz o risco de recaídas e promove uma relação mais saudável com a alimentação.