Um dos integrantes da coordenação da campanha de Jair Bolsonaro (PL), o ministro Fábio Faria admite que, diferentemente da eleição de 2018, a esquerda briga em pé de igualdade com o bolsonarismo na arena virtual. Em entrevista ao jornal O Globo, avalia que a carta de Lula (PT) a evangélicos apresentada ontem é tardia e não terá efeito. Enquanto isso, Bolsonaro tenta se conter. Segundo Faria, filiado ao PP do Rio Grande do Norte, o presidente parou de criticar urnas após Alexandre de Moraes, presidente do TSE, abrir diálogo com as Forças Armadas.
Nesta eleição, o bolsonarismo perdeu protagonismo nas redes para a esquerda?
O bolsonarismo continua muito forte nas redes, só que a esquerda também aprendeu a usá-las. Então deixou de ser um campo só de um e hoje os dois usam.
O PT foi ao TSE contra rede de fake news que seria comandada por Carlos Bolsonaro (filho do presidente). A campanha do PL já conseguiu identificar como funciona a rede do outro lado?
Se existe uma injustiça muito grande, é contra o Carlos. Até hoje ninguém nunca viu uma conversa de WhatsApp dele com ninguém. Ele não tem grupo, não dispara nada para ninguém. Enquanto o outro lado tem um grupo comandado pelo (deputado) André Janones (Avante-MG), que decide as fake news e dispara para cinco mil pessoas. Isso sim é crime.
A campanha de Bolsonaro já conseguiu mensurar o impacto do episódio com as venezuelanas?
Teve um impacto no domingo. Antes da decisão do ministro Alexandre de Moraes (para excluir os vídeos) e de o presidente mostrar que “pintou um clima” era para ele entrar na casa e fazer a live. Hoje, o impacto está sendo negativo para eles. Está parecendo forçação de barra, cinismo. É igual ao canibal (vídeo que associa o presidente a canibalismo). Não sei nem por que alguém da campanha decidiu entrar (no TSE) para tirar aquele vídeo. Por mim, poderia ter permanecido.
Acredita que há muita baixaria na campanha?
Para a gente, o que funciona é discutir governo. A gente não quer entrar na discussão que eles criam todos os dias. E aí, muita gente no governo vai para trabalhar na defensiva, que não é um modelo inteligente. Acho um erro.
Qual a estratégia para reverter a desvantagem em relação a Lula?
Acreditamos que já estamos na frente. A campanha do voto útil (em favor do petista) no primeiro turno funcionou, mas, por outro lado, todo mundo que poderia votar no Lula já migrou. Sabíamos que se a gente chegasse no segundo turno entre quatro e oito (pontos porcentuais de diferença) teríamos condições de virar.
Como o ex-juiz Sergio Moro (senador eleito pelo União Brasil do Paraná) pode ajudar?
O Moro acompanhou tudo do PT e sabe que Lula não foi absolvido. Acredito que ele tem força além do Paraná, tem seguidores em muitos lugares, e vemos nos nossos números que a presença dele teve um efeito positivo no Sudeste.
Não há constrangimento nesta reaproximação do ex-ministro?
Não. Ele mesmo disse que, apesar das divergências que (Moro e Bolsonaro) tiveram, as convergências são maiores. E as divergências com Lula são insuperáveis. Ele não tem opção.
Qual o impacto da carta de Lula aos evangélicos?
Acredito que não tenha impacto. Ficou muito tarde, as pessoas não acreditam. Lula passou muito tempo criticando a campanha de Bolsonaro por falar de valores, que padre e pastor tinham que ficar no lugar deles. O eleitor é inteligente, percebe as mudanças a dez dias da eleição.
O presidente passou a pedir desculpas por declarações sobre a Covid, palavrões e agora no caso das venezuelanas. Também não é tarde?
O presidente é sensível politicamente e, após analisar os números, viu que isso poderia estar tirando voto dele, porque é um governo que tem boa avaliação. Conheço gente que diz ser o melhor governo que já viu, mas afirma que o presidente fala de uma forma que não gosta. Isso estava sendo muito explorado e ele foi pedir desculpa. Foi uma coisa dele.
A trégua com as urnas tem relação com esse posicionamento?
Depois da entrada do Alexandre de Moraes no TSE, ele abriu mais o diálogo com as Forças Armadas. Isso distensionou.