sábado 23 de novembro de 2024
Bactérias multirresistentes já são um problema global de saúde pública (Foto: DFID/ Will Crowne)
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sexta-feira 19 de agosto de 2022 às 11:32h

Brasileiros estudam banho antisséptico contra bactérias multirresistentes

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Infecções relacionadas à assistência em saúde, como microrganismos resistentes (MR) representam uma ameaça segundo Gabriela Garcia, da revista Gallileu, para a saúde pública não só no Brasil, mas em todo o mundo. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 234 milhões de operações são realizadas globalmente a cada ano. Desse total, cerca de 1 milhão de pacientes morrem em decorrência de infecções hospitalares.

Na busca por mitigar esse problema, pesquisadores brasileiros iniciaram um estudo que visa avaliar o banho antisséptico para diminuir casos de infecções hospitalares em pessoas internadas em Unidades de Terapia intensiva (UTI).

“Uma vez identificada a ameaça que as bactérias resistentes apresentam à saúde pública, começamos a pensar no que poderíamos fazer para atacar esse problema. Os hospitais participantes trouxeram projetos para tentar solucionar a questão, e foi aí que surgiu o estudo sobre o banho antisséptico”, relata a GALILEU o médico intensivista Bruno Tomazini, pesquisador do Instituto de Pesquisa do Hcor, em São Paulo.

A investigação faz parte do projeto Impacto MR, uma plataforma de pesquisa colaborativa que reúne seis hospitais — cinco na capital paulista e um em Porto Alegre — que compõem o Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (PROADI-SUS). Os cientistas irão verificar a eficácia do banho com clorexidina em cerca de 30 mil pacientes internados em centros hospitalares públicos e privados do país.

Solução antibactericida

A nossa pele é naturalmente colonizada por bactérias. Quando um indivíduo é internado, sua flora bacteriana pode mudar. Nas UTIs, os pacientes acabam ficando mais expostos devido à utilização de itens como cateteres, sondas ou instrumentos de intubação. Esses objetos criam uma comunicação entre a pele e partes internas do corpo, abrindo portas para que bactérias no tecido cutâneo caiam na corrente sanguínea.

“Ao compreender que as bactérias presentes na pele podem ser as causadoras de muitas infecções hospitalares em pacientes graves, decidimos dar banho nos pacientes com uma solução de clorexidina e analisar se isso ajudaria a minimizar as taxas de infecção”, informa o médico na revista.

Durante um período de aproximadamente um ano, as instituições participantes irão intercalar entre três meses de banho antisséptico diário em todos os pacientes da unidade e três meses de banho com água e sabão.

Das 50 Unidades de Terapia Intensiva convidadas, 35 já aceitaram participar e algumas inclusive iniciaram as atividades. O objetivo é chegar em 30 mil pacientes participantes, para ter um resultado mais completo até o final de 2023.

Praticidade e economia

Segundo Tomazini, o desenvolvimento de novas substâncias para combater as infecções não acompanha o surgimento das bactérias multirresistentes. Em termos nacionais, a dificuldade é ainda maior, pois mesmo com o surgimento de antimicrobianos modernos, o alcance populacional é pequeno, ainda mais no contexto do Sistema Único de Saúde (SUS). Daí a necessidade de encontrar uma solução prática e acessível.

“A clorexidina é um produto extremamente barato e amplamente disponível, então se confirmada a eficácia, pode ser rapidamente disponibilizado em todas as UTIs”, destaca o especialista. Segundo ele, já se sabe que a medida funciona em pacientes no pré-operatório. “Agora queremos saber se esse benefício se estende a todos”, conta.

Uma vez comprovada a eficácia, a implementação nas UTIs será simples. “Não vemos nenhuma barreira que impeça os hospitais de iniciarem esse processo, uma vez que a clorexidina é acessível e economicamente viável ”, conclui Tomazini.

Além de reduzir as infecções, essa técnica também auxiliaria na economia dos hospitais, que terão menos gastos com antimicrobianos para tratar as contaminações, consequentemente diminuindo o surgimento de bactérias multirresistentes.

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