O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), instituiu nesta semana um grupo de trabalho para debater o semipresidencialismo. O modelo defendido pelo deputado vem sendo debatido desde julho do ano passado.
À época, Lira vinha sendo questionado sobre a possibilidade de abertura de um processo de impeachment contra o presidente Jair Bolsonaro (PL). Segundo ele, uma solução menos danosa à democracia seria a mudança do modelo de governo nas eleições de 2026.
Se estamos discutindo reformas eleitorais, podemos prever mudar esse sistema em 2026 no Brasil. Em vez de um presidencialismo, um semipresidencialismo. Porque essas instabilidades causam rupturas grandes no país. Quanto tempo demoraria um impeachment para ser votado? A gente precisa de tranquilidade e previsibilidade.”
Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados
Mas afinal, o que é o semipresidencialismo?
Dois líderes no Executivo
A principal diferença do semipresidencialismo é a entrada no jogo político da figura do primeiro-ministro, eleito indiretamente, com mais poder que o presidente, eleito por voto popular.
Segundo a advogada Andrea Costa, especialista em direito eleitoral, no semipresidencialismo o presidente da República seria entendido como chefe de Estado, sem poder de gestão, enquanto o primeiro ministro seria o chefe de governo.
Nesse cenário, o presidente teria seus poderes limitados à política externa e de Defesa do país. Já o primeiro-ministro seria responsável pela política interna e pelo sistema econômico nacional. Todas essas atribuições, porém, precisarão estar descritas na Constituição.
De acordo com a especialista, o presidente não poderia permanecer no cargo indefinidamente, cumprindo um mandato fixo, enquanto o primeiro-ministro poderia se manter por tempo indeterminado, a depender de uma possível recondução pelo Parlamento.
Eleição
O presidente seria eleito por voto popular, como acontece atualmente. Já a escolha do primeiro-ministro poderia ocorrer de duas formas: indicação do presidente ou do próprio Congresso.
Na primeira opção, o primeiro-ministro seria escolhido pelo presidente entre os integrantes do Congresso. O presidente também precisaria comparecer todo mês à Câmara dos Deputados para prestar contas.
Segundo o advogado Luiz Eduardo Peccinin, especialista em direito eleitoral, no segundo caso o primeiro-ministro seria escolhido pelo próprio parlamento, sem interferência direta do presidente.
Impeachment
A destituição do chefe de governo poderia acontecer pela aprovação de moção de censura apresentada pelo presidente ou por dois quintos de integrantes de cada Casa do Congresso (Câmara e Senado).
O gabinete não cai, porém, enquanto não houver outro primeiro-ministro, já que não existe a figura de vice para o cargo.
Entrave para o semipresidencialismo
Apesar da vontade de Lira e da criação do grupo de trabalho para debater o semipresidencialismo, o modelo pode enfrentar forte resistência por causa do plebiscito de 1993. Na época, a população ganhou o poder de escolher entre monarquia ou república e parlamentarismo ou presidencialismo como formas de governo. Ganharam a república e o presidencialismo.
Segundo Peccinin, não se poderia mudar a decisão do plebiscito, já que a consulta popular “não tinha prazo de validade” e a decisão “já foi tomada”. O grupo de trabalho de Lira, então, deverá investir na ideia de que o semipresidencialismo não estava em debate na época.
“A saída para o semipresidencialismo seria uma forma de o modelo não ser barrado por conta do plebiscito, já que se trata de uma solução híbrida”, afirmou.