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sexta-feira 12 de novembro de 2021 às 16:17h

Falecimento de Isidório Filho consterna amigos e familiares da Fundação Doutor Jesus

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Quem compareceu à sede da Fundação Doutor Jesus para se despedir do deputado Pastor Isidório Filho, na manhã desta sexta-feira (12), encontrou uma multidão consternada com o falecimento precoce de um político iniciante e jovem músico que ensaiava os primeiros acordes na vida pública, mas que já era um maestro no tocante às causas sociais.

João Paulo Santos de Santana, mais conhecido como João Isidório, era uma espécie de engrenagem que ditava o ritmo de funcionamento de uma organização que há três décadas tem mudado a realidade de milhares de pessoas encontradas à margem da sociedade. À frente da Fundação Doutor Jesus, contribuiu para o amparo de 59 mil famílias, a partir do acolhimento de dependentes químicos, como aconteceu com a hoje missionária, Cleide Maria de Oliveira.

Conforme narrou a própria história, Cleide era viciada em crack e, para não perder a guarda da filha à época com 14 anos, saiu de Porto Seguro e foi pedir ajuda à Fundação. O acolhimento transformou para sempre sua existência. Entre os cuidados que guarda na memória, destaca os aconselhamentos do parlamentar.

“João Paulo era uma pessoa única. Inigualável. Ele sabia ouvir as pessoas, tinha a sensibilidade de dar atenção para as pessoas desprezadas pela sociedade. Para se ter uma ideia, quando eu passei a ser aluna da Casa, não tinha quase nada disso aqui. As pessoas estavam sempre muito próximas. Hoje me sinto parte de uma família, a família Isidório. Dói muito saber que perdi meu menino”, afirmou a ex-interna de 58 anos.

Homem discreto e de hábitos simples, João era o quinto filho do deputado federal, Pastor Sargento Isidório Filho. Com notável dom para a música, foi o responsável pela composição do jingle de campanha do pai, nas eleições de 2020 para prefeito de Salvador. O jovem parlamentar foi um dos fundadores da banda Timbaleiros de Cristo, composta pelo público interno da Fundação Doutor Jesus.

Amigo de Isidório Filho e ex-aluno da Casa, Valdivan Borges ficou emocionalmente devastado com a morte do companheiro de percussão. Durante o velório, o maestro da formação musical, fez questão de ressaltar o sentimento de gratidão.

“João era um grande músico, e aqui na Fundação ajudou a transformar, através da música, a minha vida e a de milhares de pessoas. A gente perdeu um grande homem, que teria uma carreira maravilhosa. Ele era um cara sem igual, que me acolheu e ajudou para que eu largasse as drogas. Hoje sou músico na banda daqui. Nunca esquecerei o que ele fez por mim”, disse.

João Isidório exerceu a função de diretor da Fundação durante cerca de oito anos, entretanto, jamais abandonou o projeto social. Conforme explicou o atual gerente da instituição, Pastor Edvaldo Oliveira, são oferecidos no local cursos profissionalizantes para solda, panificação, serralheria, além de aulas de música, teatro e defesa civil. Os internos, chamados de alunos, também contam com a hospedagem, alimentação e acompanhamento psicológico.

De acordo com o assessor político, Erasmo Neto, que trabalhava com Isidório Filho e o pai, o parlamentar garantia o equilíbrio no tocante ao acolhimento do público interno. Segundo o jornalista, o jovem era um otimista incorrigível e possuía desenvoltura para dirimir conflitos e estabelecer um ambiente harmonioso. “O pai é um trovão, é uma força da natureza. O filho era o cara da parcimônia, era do diálogo. Um rapaz inteligentíssimo que se realizava ao fazer o bem aos outros”, analisou.

Leandro Silva também foi um dos internos amparados pelo deputado. No passado, para sustentar o vício em drogas chegou a realizar um assalto, mas se arrependeu. Em busca por um sinal de esperança, ficou sabendo da existência da Fundação através de um DVD dado por um pastor amigo. Saiu de Itabuna, sua cidade natal, foi procurar ajuda e acabou acolhido pelo parlamentar. Com isso, a vida mudou, é um homem desacredito e aparentemente fracassado, se reergueu, e hoje dá aulas de vidraçaria.

“Eu era um lixo. Vivia uma realidade deplorável. Gastava todo o dinheiro que ganhava em droga. Chegando na Fundação Jesus, fui recepcionado e me senti bem. Se eu soubesse antes que existiam pessoas tão maravilhosas com essas aqui, minha vida teria um passado muito docente. Sou grato a todos aqui, inclusive ao João. Hoje perdemos um irmão”, afirmou.

Amigo de infância de João Isidório, Ronald Dias estava com ele no dia do acidente fatal, embora não tenha o presenciado. Com as lágrimas escorrendo da sua face, durante a cerimônia do velório, ressaltou a parceria e a admiração pelo jovem legislador.

“Ele era um cara humilde. Sonhamos juntos, fizemos projetos juntos. João foi um exemplo para mim. Ele me ensinou muita coisa através do seu comportamento. Era uma pessoa muito íntegra. Fiquei órfão de um amigo”, enfatizou.

O deputado foi uma mão solidária estendida a uma parcela marginalizada. Deixou um legado. Deixou também um pai, uma mãe, a esposa, uma filha, dois enteados, seis irmãos e uma multidão de pessoas gratas pelo cuidado, atenção e oportunidades dados por ele sem cobrar contrapartida. Para eles, o homem caridoso deixará saudade e jamais será esquecido.

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