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quarta-feira 10 de julho de 2024 às 07:43h

Ariane 6: nasce um sistema de transporte espacial pelos europeus

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Da proposta até o primeiro voo, sistema aeroespacial europeu exigiu dez anos – com uma pandemia no meio. Com 13 países participantes, Ariane 6 envolve muito mais do que construir um foguete. Seu forte é a versatilidade.Foram precisos dois anos inteiros só para o sistema europeu de lançamento de carga pesada Ariane 6 receber o sinal verde para ser desenvolvido. E depois mais oito anos de construção até seu voo inaugural, neste 9 de julho de 2024. Pois construir um sistema de lançamento totalmente novo envolve mais do que desenvolver um veículo para transportar satélites ao espaço.

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Além dos foguetes, muitas vezes em constelações variadas, são precisos os motores, o combustível – que neste caso é uma nova mistura de oxigênio e hidrogênio líquidos –, uma plataforma de lançamento exclusiva, e uma rede de produção para manufaturar isso tudo. Acrescente-se uma pandemia, e dez anos não são nada.

A seguir uma panorâmica da década de desenvolvimento do Ariane 6.

2014-2016: Propostas e contratos

Tudo começou em 2014, com a proposta da indústria espacial europeia de transformar totalmente o modo como foguetes são projetados, desenvolvidos, produzidos e lançados. Sucessor do Ariane 5, o sistema Ariane 6 seria o principal “animal de carga” do setor, utilizando foguetes europeus para colocar satélites europeus no espaço.

A Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês) submeteu a proposta a seus 22 Estados-membros, pois a medida exigia aprovação unânime. No meio tempo, contudo, os engenheiros já estavam a todo vapor, projetando o sistema.

“É preciso você estar com os modelos prontos, poder apresentar seu sistema de produção, como pretende fabricar e montar o foguete”, explica a arquiteta espacial alemã Tina Büchner da Costa, que trabalha para a ESA na plataforma de lançamento do Ariane 6, baseada no aeroporto espacial europeu de Kourou, Guiana Francesa. “A gente tinha que demonstrar que podia dobrar o ritmo de lançamento [em comparação com o Ariane 5] e, ao mesmo tempo, reduzir os custos.”

No ano seguinte, os primeiros contratos foram elaborados: a companhia aeroespacial ArianeGroup, sediada na França, fabricaria o foguete, e o também francês Centro Nacional de Estudos Espaciais (CNES) se encarregaria da plataforma.

Em 2016 obtiveram sinal verde. Sob a coordenação francesa, ao todo 13 países europeus participam do projeto, entre os quais também Alemanha, Bélgica, Espanha, Itália, Holanda e Suíça.

2017-2019: Construção em estágios paralelos

Em 2017 o ArianeGroup passou a desenvolver sua cadeia de produção e a fabricar os primeiros elementos da versão Flight Model 1 (FM1) do foguete. Nos dois anos seguintes, foram testados e aprovados quatro motores: primeiro o Vulcain 2.1, que propulsiona o estágio inferior; depois o Vinci para o estágio superior.

Capaz de reignição no espaço, o Vinci permite ao Ariane 6 depositar satélites em diversas localizações, numa só missão. Além desses dois, havia também o potente motor propulsor P120 e uma nova unidade auxiliar de propulsão.

“Cada motor tem várias válvulas e outros componentes que precisam ser testados isoladamente antes de poderem ser integrados no aparelho. O teste do motor completo é um sistema enorme, que exige um banco de ensaio específico.”

Um desses bancos foi construído numa locação da Agência Espacial Alemã em Lampoldshausen, só para testar todo o estágio superior do Ariane 6. Enquanto isso, na Guiana Francesa, o CNES estava cavando um buraco gigantesco onde seria a plataforma de lançamento.

“A coisa toda acontece paralelamente: você começa com os menores produtos e os vai integrando num sistema que se torna cada vez mais complexo”, explica a arquiteta da ESA.

2020-2022: Pandemia e começo da montagem

A pandemia de covid-19 foi um golpe duro também para o projeto Ariane 6, em especial na construção da plataforma de lançamento em Kourou, relata Büchner: “Em poucos dias, o pessoal trabalhando aqui se reduziu de 700 para 50, o fornecimento de materiais ficou mais lento, a logística entrou em colapso, a produção na Europa desacelerou consideravelmente.”

Ainda assim, em 2021 começaram o transporte de partes do foguete da Europa para a Guiana Francesa e os primeiros testes combinados, como o de uma simulação do núcleo central do veículo, dos guindastes para posicioná-lo na plataforma e dos braços criogênicos que o abastecem e refrigeram no lançamento.

E, quase como um extra, construiu-se especialmente um veículo especial para o transporte marítimo dos componentes de lançamento, de modo a tornar o processo mais ecológico: o navio de carga a vela Canopee, que usa um sistema de propulsão híbrido, em parte movido a vento.

2023-2024: Retomada e primeira missão integral

Os trabalhos retomaram impulso em 2023, e o ano todo foi dedicado a “casar a plataforma com o foguete”, conta Büchner da Costa. O teste do estágio principal foi na Guiana Francesa, onde “acionamos o motor principal e testamos o voo completo até a separação inicial do foguete”.

Isso equivale a mais de sete minutos de voo. A parte seguinte, quando o estágio superior entra em órbita, foi aprovada separadamente, no novo banco de ensaios na Alemanha. Simultaneamente, engenheiros testavam na Suíça a coifa – o elemento no extremo superior onde vai a carga e, talvez um dia, uma cápsula para voo espacial humano – e a separação da coifa.

“A gente testa o sistema passo a passo, incrementalmente, antes de acrescentar qualquer elemento crítico”, relata a arquiteta, que assistiu a todas as cinco contagens regressivas completas: “Foi realmente impressionante de ver, um sucesso total.”

A primeira missão integral do Ariane 6 com carga, inclusive satélites CubeSats e equipamento científico, se realiza nesta última terça-feira (9). Para 2025 estão programados seis lançamentos, e oito para o ano seguinte. Em 2027 a ESA pretende chegar a dez voos por ano, e continuar crescendo a partir daí.

Tina Büchner da Costa enfatiza que o forte do novo sistema de lançamento espacial é a versatilidade, e emprega um termo jocoso alemão quase intraduzível: “eierlegende Wollmilchsau” – “leitoa que dá lã, leite e põe ovos”. Ou seja: ele faz um pouco de tudo: “É isso que eu quero do Ariane 6. A coisa estimulante é que ele nos dá versatilidade. Queremos voar por toda parte.”

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