Um instituto de pesquisa da Ucrânia apontou nesta terça-feira (13) ter identificado durante análises a materiais utilizados em um ataque a Kiev na semana passada o uso de um míssil hipersônico que pode redefinir a guerra na Ucrânia: o Zircon, um dos mais poderosos da frota russa.
Caso a análise do instituto ucraniano seja confirmada, esta será a primeira vez que a Rússia utiliza o artefato na guerra, que completará dois anos no fim de fevereiro. E indicará uma possível reviravolta no cenário atual do conflito.
Criado para ser lançado do mar e atravessar distâncias de até 1.000 quilômetros, o Zircon é capaz de viajar a uma velocidade nove vezes maior que a do som.
Isso significa que os sistemas de defesa que a Ucrânia utiliza atualmente para tentar detectar e destruir mísseis lançados pela Rússia podem deixar de funcionar. E dar margem, assim, para um novo avanço de tropas russas sobre o território ucraniano, segundo analistas ouvidos pela agência de notícias Reuters.
Isso significaria um novo rumo da guerra, atualmente com conflitos nas linhas de frente estagnados apesar de uma escalada de ataques russos em cidades ucranianas (leia mais abaixo).
O que é o Zircon
O míssil hipersônico Zircon faz parte de um grupo de seis artefatos da frota russa que o presidente do país, Vladimir Putin, já chamou de “invencíveis”. Todos foram desenvolvidos desde 2008, em uma campanha do governo russo para modernizar sua frota militar.
O foco foram mísseis e armas de precisão.
O Zircon se destaca pela versatilidade entre esse grupo. O artefato foi feito inicialmente para ser lançado do mar, a partir de navios de guerra, foi adaptado para o lançamento em terra, meses após o início da guerra da Ucrânia.
O Zircon tem capacidade de carregar até ogivas nucleares. E, como sua velocidade atinge nove vezes a velocidade do som, é capaz de atingir alvos na Europa em apenas cinco minutos.
No primeiro teste realizado com o Zircon, em maio de 2022, o míssil atingiu a velocidade de 9,8 mil quilômetros por hora, a maior já registrada em mísseis de cruzeiro russos, segundo a agência estatal russa Tass.
“Esses mísseis são de fato imparáveis, assustadores, preocupam muito a Europa e os Estados Unidos e, por isso, fazem parte da estratégia de Putin, que começou 15 anos atrás”, disse à Globonews o professor Fabricio Vitorino, mestre em Cultura Russa pela Universidade de São Paulo (USP).
Análise de fragmentos
A afirmação foi feita pelo Instituto de Pesquisa Científica de Kiev para Exames Forenses. O diretor do instituto, Oleksandr Ruvin, disse que seus pesquisadores analisaram fragmentos de mísseis usados durante o ataque à capital ucraniana.
“Neste caso, vemos elementos que são característicos do míssil 3M22 Zircon. Partes e fragmentos do motor e dos mecanismos de direção têm marcações específicas”, escreveu ele.
O Ministério da Defesa da Rússia não havia se pronunciado sobre o caso até a última atualização desta reportagem. Caso a análise seja confirmada, esta será a primeira vez que usa o míssil em quase dois anos de guerra. O Zircon foi incorporado à frota russa em 2022, meses após o início da guerra na Ucrânia.
O míssil tem um alcance de 1.000 km – mais que a distância entre Moscou e Kiev – e viaja a nove vezes a velocidade do som, de acordo com a Rússia. Ele foi inicialmente projetado para ser lançado do mar, mas, após o início da guerra na Ucrânia, uma nova versão para ser lançada do solo foi desenvolvida.
Analistas militares afirmaram à agência de notícias Reuters que sua velocidade hipersônica pode significar uma grande redução no tempo de reação das defesas aéreas e a capacidade de atacar alvos grandes, profundos e resistentes.
O presidente russo, Vladimir Putin, já descreveu o Zircon como parte de uma nova geração de sistemas de armas incomparáveis.
O ataque da Rússia à Kiev em 7 de fevereiro matou menos cinco pessoas e danificou prédios residenciais e infraestrutura de energia, segundo as autoridades.
A acusação do instituto chega também no dia em que Putin prometeu retaliação à decisão a União Europeia, feita na segunda-feira (12), de reservar lucros obtidos com ativos congelados do Banco Central da Rússia em países que integram o bloco.
Escalada da guerra
A Ucrânia tem enfrentado uma escalada de ataques russos na guerra entre os dois países, que já dura quase dois anos.
Desde o fim de dezembro, tropas russas têm bombardeado alvos civis em grandes cidades da Ucrânia , segundo autoridades ucranianas. Os ataques contrastam com o cenário da guerra no país ao longo de 2023, com ações mais concentradas nas frentes de batalha.
Em 29 de dezembro, Moscou fez um dos maiores ataques coordenados à Ucrânia, atingindo alvos civis como uma maternidade e deixando 30 mortos, segundo Kiev.
No fim de janeiro, uma aeronave militar russa que, segundo Moscou, transportava prisioneiros ucranianos, caiu em uma zona de fronteira entre os dois países. O Kremlin acusou a Ucrânia de ter derrubado a aeronave com mísseis fornecidos pelos Estados Unidos.
O governo ucraniano, que tem adotado como praxe não confirmar nem negar ataques em território russo cuja autoria é atribuída à Ucrânia, afirmou apenas que a Rússia não pediu proteção do espaço aéreo no local onde o avião caiu.