Adversária do PT nas eleições, Raquel Lyra (PSDB) afirmou em entrevista ao jornal O Globo, que espera ter um bom diálogo com o futuro governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e que irá a Brasília pedir recursos para o estado. Ela cita a boa relação que mantém com o vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin, seu antigo colega de partido.
Sobre o PSDB, Lyra avalia que o momento do partido é de “reconstrução”, após a legenda ter encolhido e não ter protagonizado uma eleição presidencial pela primeira vez desde a redemocratização. Segundo ela, sua gestão em Pernambuco, representará uma oportunidade de entregar políticas públicas eficientes, que ajudem a reerguer a sigla historicamente marcada como oposição ao PT.
A sua eleição marca a quebra de 16 anos do PSB à frente do estado e faz com que Pernambuco tenha a primeira mulher governadora. Qual a expectativa sobre seu governo?
Existe uma expectativa enorme. As pessoas querem que o governo chegue à vida delas, querem ver o racionamento de água seja resolvido. Pernambuco sempre teve referências masculinas. É ótimo ver crianças e mulheres tendo esse referencial novo. É uma honra e uma grande responsabilidade.
A senhora citou, durante a campanha, que “não era possível falar em mudança e se aliar ao PSB”. Mas há um alinhamento do seu partido, o PSDB, com o PSB em algumas votações no Congresso, como na PEC da Transição. Como vê esse tipo de convergência?
Em alguns momentos, o PSDB vai votar junto com o governo e seus partidos aliados, sim. Dentro do partido existe um momento interno de reconstrução e de debates sobre nossas bandeiras e posicionamentos. Se precisarmos ser críticos, seremos. Se for em favor do Brasil, seremos também. Defendo a independência e a opção por não ocupar ministérios, para que tenhamos posicionamentos críticos.
Pela primeira vez, o PSDB não foi protagonista na corrida presidencial. Como a senhora enxerga o futuro do partido?
Temos uma oportunidade de reconstrução. Vamos trabalhar para que os nossos governos entreguem políticas públicas com transparência e responsabilidade.
Como será o diálogo com o governo Lula?
O governo é do Brasil e eu governarei Pernambuco. Atuarei para petistas e para os não petistas. Passamos quatro anos sem relações com o governo federal e foi péssimo para o estado. A relação institucional está garantida. Vou a Brasília passar o chapéu e pedir recursos, sim.
A senhora passou por um drama pessoal durante a campanha, que foi a perda do seu marido na véspera do primeiro turno. Por algum instante, a senhora pensou em desistir das eleições?
Quem não passou por isso não tem ideia do sofrimento. O cotidiano é muito diferente das aparições públicas. A minha vida virou ao avesso. Eu convivi com ele por 30 anos. Ele me diria para estar aqui. E é daí que tiro forças para seguir.
A sua rival nas urnas, Marília Arraes, não aceitou protelar o início da campanha do segundo turno, apesar do luto que a senhora estava vivendo. Como viu esse episódio?
Qual é a sua prioridade no início de governo?
Chegar na vida de quem está passando fome. Criaremos o programa Mães de Pernambuco, que concederá o auxílio de R$ 300 a mães com filhos na primeira infância. Ninguém consegue pensar no amanhã sem saber quando será a próxima refeição.
A sua equipe de transição apontou uma série de problemas na saúde e um deficit bilionário nas contas do estado. Em resposta, o atual governador, Paulo Câmara, disse que a senhora “não desceu do palanque”. Como enxerga a crítica?
Tudo aquilo para que chamei atenção durante a campanha, como os elevados índices de homicídios e pobreza, se mostrou ainda pior durante o trabalho da equipe de transição. Desarmamos os palanques logo depois da vitória. O dinheiro que eles dizem ter, infelizmente, não existe. A saúde pública de Pernambuco passa pelo pior momento da sua história. Paulo Câmara deixa a saúde abandonada, com uma das piores coberturas de atenção básica do Nordeste e com unidades absolutamente sucateadas.