A vitória do ultraliberal Javier Milei na Argentina, no último domingo (20), não é um alento apenas de acordo com o blog de Valdo Cruz, para a direita brasileira. O resultado, visto como negativo pela esquerda e pelo governo, acaba fortalecendo a posição do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em disputas internas.
Isso, porque o principal motivo para a derrota da candidatura peronista de Sergio Massa foi, justamente, a hiperinflação gerada pelo descontrole das contas públicas e pelo enfraquecimento da economia argentina.
Em um momento no qual Haddad é criticado até por aliados no PT e pressionado pela ala política a aceitar um déficit nas contas públicas em 2024, o resultado da eleição na Argentina serve como um recado – endereçado diretamente a esses grupos que defendem ampliar gastos para impulsionar a economia.
Ao longo das últimas semanas, aliados de Haddad rebateram tais pressões lembrando que a população apoiará um governo que consiga baixar a inflação e o desemprego e gerar crescimento econômico.
O passado recente no Brasil e no mundo – e agora, o presente imediato argentino – mostram que esse receituário inclui o ajuste das contas públicas.
Mandato deve começar impopular
Do outro lado do espectro político, se o bolsonarismo comemora a vitória de Milei, o sucesso do governo do candidato libertário não será tão fácil e dependerá de ações francamente impopulares.
No discurso de vitória, Javier Milei já mandou o recado de que a situação no país é dramática e de que não adotará “gradualismo”, mas sim medidas urgentes e imediatas.
O ultraliberal que se define como libertário, além disso, amenizou o discurso radical para vencer nas urnas. E agora, assume a Casa Rosada com a missão de tirar o país de uma profunda crise econômica e unificar um país dividido.
Hiperinflação, falta de dólares e crise social são os principais elementos da conjuntura argentina atual. A dúvida: o que o eleito fará para sair do buraco?
O país aposta numa recuperação da sua safra agrícola – com aumento da colheita de soja e trigo, depois de um período de seca – e na produção de petróleo e gás para virar o jogo. Terá, ainda, de renegociar o acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Outro grande desafio para implementar a sua agenda passa pela conquista de apoio no Congresso.
Milei fará uma aliança com o grupo de Maurício Macri, que apoiou a candidata derrotada no primeiro turno Patrícia Bullrich. Mas não será o suficiente – e, para obter maioria, o novo presidente terá também de fazer acenos a alas do peronismo.