O ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), foi vaiado por um grupo de estudantes durante a abertura do 59° Congresso da UNE (União Nacional dos Estudantes) nesta última quarta (12), em Brasília, e respondeu segundo Cristina Camargo, da Folha, citando a luta contra a ditadura militar (1964-1985) e a defesa da democracia.
“Só ditadura fecha Congresso, só ditadura caça mandatos, só ditadura cria censura, só ditadura tem presos políticos”, disse em um dos trechos em que o discurso não foi abafado pelo som das vaias. “Nós percorremos um longo caminho para que as pessoas pudessem se manifestar de qualquer maneira que quisessem”.
Ele afirmou também que estar no Congresso da UNE significa reencontrar o próprio passado de enfrentamento ao autoritarismo e à intolerância.
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Diante do protesto dos estudantes, Barroso defendeu o direito às manifestações e afirmou que “gritar ao invés de ouvir” e não colocar os argumentos na mesa é bolsonarismo. “Esse é o passado recente do qual estamos tentando nos livrar”.
A manifestação foi organizada pelo grupo Faísca Revolucionária, que faz oposição à direção da UNE e é formado por estudantes trotskistas ligados ao MRT (Movimento Revolucionário de Trabalhadores).
Eles levaram uma faixa em que chamam o ministro de “inimigo da enfermagem e articulador do golpe de 2016”. Os estudantes também carregaram cartazes em defesa do piso.
“Não nos aliamos àqueles que nos atacam e não aceitamos que a majoritária da UNE esteja junto com a direita, com quem ataca os trabalhadores, os povos indígenas e os estudantes”, diz manifesto da corrente. “É fundamental batalhar por uma UNE independente do governo de frente ampla e do regime”.
Em setembro do ano passado, Barroso suspendeu o valor mínimo para a enfermagem. No dia 15 de maio, no entanto, ele restabeleceu o piso salarial. A decisão foi tomada após o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) publicar projeto de lei aprovado pelo Congresso que libera R$ 7,3 bilhões para o custeio da medida.
Segundo a direção da UNE, foi a primeira vez, desde a redemocratização, que o congresso da entidade recebeu um ministro do STF.
O ministro da Justiça, Flávio Dino, também participou da abertura do congresso e defendeu o combate à desigualdade social, o enfrentamento ao poder das grandes empresas de tecnologia que “veiculam extremismo e ódio” e a consolidação da democracia.
“A democracia ainda está em risco e temos que prosseguir na mobilização social. Mantenham a união popular contra o fascismo no Brasil”, disse.
Lula vai participar do congresso nesta quinta (13), a partir das 18h, horário em que está marcado um ato político em defesa das universidades. Estão previstas também as presenças dos ministros Márcio Macêdo (Secretaria-Geral da Presidência), Luciana Santos (Ciência e Tecnologia) e do ex-presidente do Uruguai, Pepe Mujica.