Muitos dos veteranos que chegaram de avião no fim de semana e na última segunda-feira (3) têm mais de 100 anos de idade, e eram empurrados em cadeiras de rodas por parentes e assistentes. “É irreal. É irreal. Uau!”, disse Reynolds Tomter, 107 anos, recebido no sábado por crianças em idade escolar agitando bandeiras francesas e norte-americanas no aeroporto internacional Charles-de-Gaulle de Paris.
Recebidos pela primeira-dama
Na Normandia, um voo especialmente fretado transportando 48 veteranos aterrissou no aeroporto de Deauville na segunda-feira, onde crianças e a esposa do presidente francês, Brigitte Macron, esperavam por eles.
Entre os heróis desse episódio histórico, sentados em cadeiras de rodas, estava Bob Gibson, de 101 anos. “É como se tivesse acontecido ontem. Vocês não acreditariam no que eu vi. É fantástico. Alguns jovens nunca conseguiram chegar à praia”, disse ele sobre os combatentes norte-americanos da época aos repórteres na pista ensolarada, logo após descer do avião. “Às vezes, isso ainda nos acorda à noite”, confessou.
“Hoje parece que estamos indo para trás em vez de irmos para frente. O amor é a resposta”, disse outro veterano, Arlester Brown, de 100 anos. Depois de cumprimentar, e às vezes beijar, os ex-soldados, um a um, ao descerem do avião, Brigitte Macron expressou sua emoção à agência Reuters.
“Podemos medir a coragem deles e até que ponto, se tivessem que fazer isso novamente, fariam de novo”, disse ela. “No mundo de hoje, precisamos ouvi-los. Eles nos fazem bem. Eles me fazem bem”, afirmou.
As cicatrizes do Dia D
Em toda a Normandia, onde praias, campos e vilarejos às vezes ainda carregam as cicatrizes dos combates do Dia D e das semanas que se seguiram aos violentos combates, os preparativos para as cerimônias estavam bem adiantados à medida que as comemorações, que contarão com a presença do presidente dos EUA, Joe Biden, e do chanceler alemão, Olaf Scholz, se aproximam.
Neste fim de semana, em Vierville-sur-Mer, perto da praia de Omaha, foi organizada uma reconstituição do Dia D com figurantes fantasiados e veículos de época.
“É sempre muito intenso quando você encontra veteranos, porque eles sempre têm muitas histórias para contar, e você ainda sente a emoção”, disse uma das participantes, Julie Boisard. Jovens soldados da 29ª Divisão de Infantaria da Guarda Nacional da Virgínia também estavam presentes para relembrar seus antepassados que desembarcaram na França 80 anos antes.
“É histórico, é memorável (…) e também muito comovente”, disse um deles, Esaw Lee, à Reuters.
Rússia não foi convidada
O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky faz parte dos líderes estrangeiros que estarão presentes na Normandia, onde uma cerimônia internacional está programada para quinta-feira na praia de Omaha.
A Rússia, que invadiu a Ucrânia em 2022, desencadeando o maior conflito armado no continente europeu desde a Segunda Guerra Mundial, não foi convidada.
As comemorações “nos lembram que fomos ocupados por quatro anos e libertados pelos norte-americanos”, disse Marie-Thérèse Legallois, nascida na Normandia, que tinha sete anos na época do desembarque do Dia D. “Mas sempre fico um pouco triste ao ver que a guerra continua, na Ucrânia ou em qualquer outro lugar.”
Para os moradores locais, o 80º aniversário também é uma oportunidade de lembrar as terríveis semanas que custaram cerca de 20.000 vidas na Normandia e viram algumas cidades, como Saint-Lô, terem mais de 90% de suas áreas destruídas.
“Esse trauma transformou nossa cidade na ‘capital das ruínas’, como escreveu o dramaturgo Samuel Beckett quando era gerente do hospital irlandês instalado em Saint-Lô após os bombardeios”, disse a prefeita da cidade, Emmanuelle Lejeune, à Reuters. “Este aniversário deve ser voltado para inspirar as novas gerações”, afirmou.