O pagamento das emendas de relator no governo Lula, conhecidas no governo Jair Bolsonaro (PL) como orçamento secreto, beneficiou segundo reportagem de Natália Portinari da coluna de Guilherme Amado, aliados à gestão atual na Câmara dos Deputados e no Senado. Embora o governo Bolsonaro tenha definido os beneficiários dos pagamentos, foi o atual que definiu a ordem dos pagamentos dos restos, que já estão em cerca de R$ 3 bilhões.
As emendas de relator foram proibidas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), mas R$ 10,6 bilhões ficaram como restos a pagar neste ano. O destino desse dinheiro já tinha sido definido pelo governo Bolsonaro.
Como mostrou a coluna de Amado no portal Metrópoles, a Secretaria das Relações Institucionais (SRI) de Lula fez um mapeamento em que identificou R$ 2,6 bilhões em pedidos de deputados federais, ou seja, cerca de um quarto das emendas. A SRI forneceu esses dados à coluna via Lei de Acesso à Informação (LAI).
Indicações, por cargo, nos restos a pagar do orçamento secreto (em R$)
Cargo de quem indicou / Indicações que constam nos “restos” / Pagos em 2023
Deputado Federal
2.579.247.673,72
1.018.037.500,92
Senador
1.465.443.258,76
639.307.829,93
Prefeito
53.648.828,20
5.503.553,55
Deputado Estadual
716.250,00
716.250,00
O levantamento mostra ainda conforme Natália Portinari, que o maior volume de pagamentos identificado pelo governo foi para o senador Eduardo Braga, do MDB do Amazonas, relator da reforma tributária no Senado. Dos R$ 316 milhões em que ele consta como interessado, R$ 145,4 milhões foram pagos pelo governo Lula.
Em seguida, há dois relatores do Orçamento durante o governo Bolsonaro, o deputado Domingos Neto (2020), com R$ 86 milhões, e o senador Márcio Bittar (2021), com R$ 69,7 milhões. As emendas eram chamadas “de relator” justamente porque quem detinha esse cargo tinha poder para indicar bilhões no Orçamento federal junto aos ministérios.
O volume de pagamentos feito agora, em 2023, é explicado pelo poder que tiveram em indicações nos anos em que foram relatores, mas também por, hoje em dia, pertencerem a partidos da base do governo. Domingos Neto, do Ceará, é do PSD; Márcio Bittar, do Acre, do União Brasil.
Veja abaixo os principais beneficiados pelos pagamentos no governo Lula.
Parlamentar / Pago em 2023 / Indicações nos “restos”/ %
Eduardo Braga (MDB/AM)
145,391,605.03
316,788,738.18
45.90%
Domingos Neto (PSD/CE)
86,154,907.37
211,824,741.06
40.67%
Márcio Bittar (União Brasil/AC)
69,701,732.58
112,500,435.64
61.96%
Davi Alcolumbre (União Brasil/AP)
58,150,398.54
224,586,390.99
25.89%
Ciro Nogueira (PP/PI)
51,039,777.84
112,977,096.51
45.18%
Rodrigo de Castro (União Brasil/MG)
43,721,855.64
76,591,575.68
57.08%
Rodrigo Pacheco (PSD/MG)
41,584,664.03
49,955,586.97
83.24%
Genecias Noronha (PL/CE)
38,893,339.36
57,865,385.20
67.21%
Omar Aziz (PSD/AM)
30,131,224.40
36,406,149.67
82.76%
Fernando Bezerra Coelho (MDB/PE)
30,083,722.07
66,964,812.84
44.92%
José Anibal (PSDB/SP)
29,845,340.59
34,000,000.00
87.78%
Junior Mano (PL/CE)
26,535,092.17
56,248,155.92
47.18%
Junior Lourenço (PL/MA)
26,349,710.37
62,184,286.21
42.37%
João Carlos Bacelar (PL/BA)
25,662,571.65
50,653,003.23
50.66%
Claudio Cajado (PP/BA)
24,392,040.17
38,914,903.70
62.68%
Chico Rodrigues (PSB/RR)
20,136,108.45
48,810,752.34
41.25%
Elmar Nascimento (União Brasil/BA)
19,399,343.49
48,829,294.48
39.73%
Igor Timo (Podemos/MG)
16,915,574.61
17,569,909.77
96.28%
Vanderlan Cardoso (PSD/GO)
15,853,234.24
17,443,330.00
90.88%
Roberto Rocha (PTB/MA)
15,618,529.11
31,223,938.17
50.02%
Além dos R$ 2,6 bilhões em pedidos de deputados, o governo identificou R$ 1,46 bilhão em emendas indicadas por senadores. Segundo a SRI, os dados são incompletos e ainda não se sabe quem indicou os R$ 10,6 bilhões.
“A SRI/PR possui um levantamento incompleto a respeito de tais recursos e tem acompanhado, por dever de ofício, a execução orçamentária de tais montantes, cujas informações, conforme demanda, são repassadas ao Congresso Nacional, auxiliando a ampliação da transparência das despesas públicas”, disse o ministério via Lei de Acesso à Informação.
“Tais informações não eximem os órgãos executores dos deveres de publicização da execução de tais recursos, em conformidade com as diretrizes setoriais específicas de cada pasta ministerial.”