O Valor Geral de Vendas de multipropriedades no Brasil chegou a 79,5 bilhões de reais em 2023, um crescimento de 33% na comparação com os 59,9 bilhões de reais levantados em 2022. Para o estudo sobre o ano passado, foram considerados 200 empreendimentos localizados em 89 cidades e 19 estados brasileiros.
Os dados são da oitava edição do estudo “Cenário do Desenvolvimento de Multipropriedade no Brasil”, feito pela Caio Calfat Real Estate Consulting e que será lançado em maio, em São Paulo.
A multipropriedade, uma forma de adquirir um imóvel sem ser o único proprietário, tem se popularizado no Turismo, diz Caio Calfat, diretor e fundador da empresa responsável pelo estudo.
“Como o que aconteceu em Olímpia, em São Paulo, município que ficou conhecido como destino turístico nacional e que se desenvolveu a partir de seus parques e de uma hotelaria predominantemente focada na multipropriedade”, diz.
O estudo revela que, em 2023, a multipropriedade chegou a oito novos destinos brasileiros: Atibaia (SP), Barra de São Miguel e Maragogi (AL), Conde (PB), Itá (SC), Porto Belo (SC), São Francisco de Paula (RS) e Tijucas (SC).
A história das multipropriedades
O conceito pode parecer novo para muita gente mas, na verdade, a história das multipropriedades é bem mais antiga do que se imagina. Pela necessidade de um período pós-guerra, o timeshare deu início a uma reviravolta no mercado imobiliário e turístico.
Uma das principais e mais requisitadas opções de lazer do ser humano é o turismo. Viajar, conhecer novos lugares, relaxar, passar um tempo com a família se trata de ter qualidade de vida.
Apesar disso, essa é uma realidade que nem todo mundo pode usufruir ou, pelo menos, não podia até pouco tempo. Isso porque por volta dos anos 1990, a Economia Compartilhada ganhou seu espaço ao tornar bens cujo acesso era voltado a poucos indivíduos, em produtos que serviam a vários usuários ou donos.
A partir desse momento, o mercado imobiliário mudou por completo, no mundo todo. Mas como isso aconteceu e qual a história das multipropriedades, nós vamos te contar a seguir.
O timeshare
Para entender melhor o conceito de multipropriedades e como elas surgiram, vamos voltar um pouquinho no tempo, lá no período pós-guerra.
Depois dos intensos quatro anos da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) a Europa estava devastada, com uma população traumatizada e os países, financeiramente, quebrados.
Com essa realidade, o fato de não existirem hotéis não é uma surpresa para ninguém.
Segundo Caio Calfat, presidente da ADIT Brasil e consultor no mercado turístico-hoteleiro há mais de 30 anos, “Mesmo após esse período não existiam hóspedes para movimentar o cenário. A Europa estava quebrada. Em escala menor, era uma situação semelhante com a que vivemos agora.”
E sobre hoje, ele continua “Se vamos abrir hotéis, quem serão os hóspedes? Nesta pandemia, muita gente faliu, perdeu o emprego, enfim. O Brasil, assim como o restante do mundo, empobreceu.” Ainda lá no pós-guerra, a França, por exemplo, com suas dificuldades em manter o desenvolvimento dos empreendimentos hoteleiros, principalmente os hotéis da Riviera Francesa, começou a vender hotéis inteiros para 4 pessoas.
Dessa forma, cada pessoas se tornava proprietária de ¼ do hotel e tinha o direito de usufruir da hospedaria durante 3 meses do ano. E foi a partir dessa ideia que começou a surgir o conceito de dividir um imóvel pelo tempo.
Esse conceito recebeu o nome de timeshare. Um modelo de negócio que surgiu no meio de uma grande crise.
A multipropriedade
Nos Estados Unidos o conceito de timeshare foi muito bem recebido. E os estadunidenses gostaram tanto que começaram a aprimorar o conceito.
Foi quando, seguindo a mesma linha de raciocínio, começaram a modificar o padrão dividindo as propriedades para 52 compradores. A matemática da ideia é simples: Se um ano tem 52 semanas, cada comprador terá o direito de usar a propriedade uma semana por ano.
Então, lá nos anos 1970 é que, de fato, a multipropriedade surgiu. Se tornando um grande sucesso desde o início nos EUA e conquistando a Europa aos poucos.
Multipropriedade, timeshare ou fractional?
Para entender o mercado imobiliário turístico de compartilhamento atual é preciso saber que existem três modelos: a multipropriedade, o timeshare e o fractional.
A multipropriedade, muito adotada no Brasil, acontece quando vende-se uma propriedade em cotas, que podem variar entre 13, 26 e 52, dependendo da característica de cada projeto.
Assim, quem compra essa cota adquire o direito da propriedade, existindo uma escrituração da fração referente a cada comprador. É um modelo de negócio em que se cria um condomínio especial, permitindo a divisão de um imóvel em frações de tempo.
Dessa forma, cada titular de fração tem a propriedade individual do imóvel designada por suas referências: espacial (que equivale à localização da unidade no seu aspecto físico) e a temporal (que equivale ao período do ano para efeito de ocupação e uso, que segue um cronograma de uso compartilhado).
Já o fractional é quase a mesma coisa da multipropriedade, com a diferença que não existe a compra de direito de propriedade, apenas do direito de uso. Basicamente, é meio caminho entre a multipropriedade e o timeshare.
Do outro lado temos o timeshare, no qual se vende apenas o direito de uso.
No Brasil, tanto o timeshare quanto a multipropriedade crescem exponencialmente, enquanto o fractional não é muito visado pelos compradores.