A única presidenciável, senadora Simone Tebet, vinha aparecendo no autodenominado centro democrático como cabeça de chapa, a ser anunciada em 18 de maio pelos presidentes do MDB, PSDB e União Brasil. O vice seria – e não vamos fingir ingenuidade – Eduardo Leite, indicado pela direção tucana, deixando João Dória de lado. Agora, a senadora diz que não aceitaria ser vice, pois seria uma desconsideração com as mulheres, que são mais da metade do eleitorado. Sua luz amarela já piscava, quando soube do jantar em Brasília entre Lula e senadores do MDB. Agora ela acende a luz vermelha, sentindo o rumor da troca: Leite presidente e Tebet vice. Ou será que Leite deixou o governo do Rio Grande do Sul apenas para ser vice?
Semana passada, o presidente do PSDB falava em Leite como vice, mas deveria ser apenas um movimento de descarte de Dória, para depois avançar mais um degrau. Atento, ao ver Paulinho da Força recuar seu Solidariedade após receber vaias de sindicalistas sem que Lula o defendesse, Eduardo Leite tentou atrair Paulinho, que havia recusado convite de Ciro Nogueira para apoiar Bolsonaro. Tudo que conseguiu foi mostrar um Aécio irreconhecível na foto. E Paulinho, valorizado, horas depois apareceu abraçado com Lula e Gleisi Hoffmann.
Até as convenções, no final de julho e início de agosto, essas emoções, que rimam com traições, serão como sismos subterrâneos na busca de ajuste na superfície, em que traídos e traidores se misturam. Moro, que começou como o ícone de terceira via, para se sobrepor a Lula e Bolsonaro, já está descartado. Saiu do Podemos, foi para o União Brasil, onde foi trocado por Luciano Bivar, que parece estar guardando a cadeira para Leite sentar. Do alto de sua autoavaliação, Moro não aceita a humilhação de ser candidato a deputado federal. Mas, quem diria, ontem acabou anunciado como apresentador de um curso anticorrupção chamado de O Sistema.
O PT, o PV e o PC do B recém-registraram o estatuto comum para uma federação que deveria ter também o PSB de Alckmim, o neocompanheiro e vice de Lula. Mas ocorre que o PSB tem Marcio França, concorrente de Fernando Haddad, do PT, ao governo de São Paulo. Aí, estranhamente, não fecha federação com o partido do vice de Lula. Aliás, como Lula vai resolver São Paulo, o maior colégio eleitoral do país? O ex-presidente tem feito declarações que parecem ter a intenção de inviabilizar sua candidatura. Se indispõe com religiões, militares, deputados federais, os CACs, a classe média, os proprietários. Nem tudo está unânime no partido, onde rumores circulam sobre uma desistência dele em favor de Haddad, para aliviar o PSB de França em São Paulo e poder casar tranquilo no mês das noivas, como ele anunciou.
São tempos que devem preocupar as pesquisas, que agora mostram o eleitor como um pusilânime, que ora está com Lula e depois vai para Bolsonaro. O presidente Bolsonaro, com experiência de 30 anos de Legislativo, não mexeu no governo agora que ministros saíram para ser candidatos. Vão ficando os substitutos técnicos, para não criar problemas. Ele deixou Luciano Bivar com o PSL para ocupar ACM Neto. Foi para o PL, que virou a maior bancada na Câmara; não formou federação para não engessar seus apoiadores nos estados, escolheu Tarcísio para São Paulo e está entre os poucos que neste turbilhão eleitoral sabem qual é a via.
Por Alexandre Garcia – jornal O Tempo