O governo de São Paulo anunciou, nesta última quarta-feira (23), que a vacina CoronaVac, uma das candidatas contra a Covid-19 que têm previsão de serem produzidas no Brasil, não causou efeitos colaterais em 94,7% dos 50 mil voluntários testados na China. De acordo com o governador João Doria (PSDB), os estudos clínicos no país asiático mostram que, mesmo entre os 5,3% que apresentaram alguma reação adversa, ela foi de baixa gravidade, o que indica que o imunizante é seguro. No Instituto Butantan (SP), que testa a fórmula do laboratório Sinovac há dois meses e vai fabricá-la, existe a expectativa de que haja um resultado preliminar sobre a sua eficácia já em outubro. Com isso, acredita-se que seria possível aplicar doses na população em dezembro.
— Os resultados comprovam que a CoronaVac tem um excelente perfil de segurança, sendo classificada pela OMS (Organização Mundial da Saúde) como uma das oito mais promissoras vacinas em estágio final (de testes) no mundo — afirmou Doria, durante coletiva de imprensa.
Entre os 50.027 voluntários chineses testados na fase três — a última antes da aprovação da vacina —, 3,08% apresentaram dor no local da injeção para aplicar a dose, 1,53% relatou fadiga (cansaço), e 0,21% teve febre moderada.
Em São Paulo, dos 9 mil voluntários previstos, todos profissionais da saúde, 5.600 já receberam doses, desde 21 de julho. Segundo Doria, também não foram identificados efeitos graves neste grupo. Dimas Covas, diretor do Butantan, instituto ligado ao governo de São Paulo, disse que os testes no Brasil serão ampliados para 13 mil voluntários e que, nesta etapa, passarão a ser aceitos idosos e crianças.
O governo federal autorizou a liberação de R$ 80 milhões em investimentos na futura fábrica da CoronaVac no Butantan. A produção no local só começará depois que a vacina tiver a segurança e a eficácia comprovadas nos testes.
Pelo acordo do governo de São Paulo com o laboratório chinês Sinovac, a previsão é de que as primeiras 5 milhões de doses da CoronaVac cheguem ao Instituto Butantan para distribuição já em outubro. Mas, para que comece a vacinação, é preciso aguardar a finalização da terceira fase dos testes e a aprovação do imunizante pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
— Deveremos, por óbvio, aguardar a finalização da terceira e última fase de testagem e também a aprovação da Anvisa, mas na segunda quinzena de dezembro já poderíamos iniciar a imunização — previu Doria, que, na segunda-feira, disse que, até fevereiro, toda a população paulista receberia doses da vacina.
Os primeiros a serem imunizados serão médicos e paramédicos de São Paulo. Até 31 de dezembro, está prevista a chegada de mais 46 milhões de doses da vacina e, até 28 de fevereiro, mais 9 milhões, totalizando 60 milhões.
— Estamos sugerindo, em tratativas com o Ministério da Saúde, que o governo brasileiro compre mais 40 milhões de doses para os brasileiros de outras regiões do país — disse o governador de São Paulo.
Apesar de celebrado, o resultado anunciado nesta quarta-feira é apenas uma continuidade do resultado de segurança atestado pela fase 1, desenhada especificamente para isso. O Instituto Butantan ressalta que, até agora, não existe qualquer indicativo de eficácia da vacina, nem no estudo chinês nem no brasileiro, porque os dados ainda não foram abertos.
No caso do Brasil, para que o resultado do estudo tenha alguma significância estatística, é preciso que ocorra a infecção de pelo menos 154 dos 9 mil voluntários. Só depois disso é que os pesquisadores abrem o sigilo do esquema “duplo cego” para saber quais voluntários foram vacinados e quais receberam apenas um placebo.
O Estado do Rio também participa dos testes da CoronaVac. O Instituto Butantan, a Fiocruz e a Prefeitura de Niterói assinaram um acordo para que voluntários da cidade da Região Metropolitana recebam doses da vacina.
Já há acordos para que pelo menos mais duas vacinas sejam fabricadas no Brasil, além da CoronaVac. O primeiro contrato deste tipo foi assinado pelo Ministério da Saúde com a farmacêutica AstraZeneca, para que o imunizante da Universidade de Oxford, que é testado no país desde junho, seja produzido na Fiocruz, no Rio de Janeiro. E o governo do Paraná assinou acordo com o governo russo para a produção da vacina Sputnik V. Os testes deste imunizante em voluntários brasileiros, no entanto, ainda não começaram.